Giramundo - Trilha Sonora Cabra Cega, Fernanda Porto
04/05/2005

A estréia de Fernanda Porto foi um grata surpresa, antecipada pela contagiante Sambassim, quase parceria com o DJ Patife, cujo remix bombou em pistas do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa. Quando todo mundo esperava que Fernanda apronfudasse as experimentações com o drum'n'bass que marcaram a estréia, a cantora se segura no Brasil, dueta com Chico Buarque e faz um disco brasileiríssimo.

Roda Viva, clássico de Chico, ganha um roupagem eletrônica que, incrivelmente, dá sobrevida à melodia e destaca a maravilhosa letra. A cozinha do Living Colour (o baixista Douf Wimbish e o batera Will Calhoun) marca presença na regravação, assim como em praticamente todas as faixas de Giramundo. Porém, a roupagem eletrônica marca presença em poucas faixas (como Pensamento 4, parceria com Arnaldo Antunes, e Estrela Pop), deixada de lado por um aprofundamento em busca das raízes, que rende boas canções como a faixa título, a balada climática Bicho do Mato, a suave Outra Margem do Rio (com boa letra de Martha Medeiros e teclados de César Camargo Mariano), a crudelíssima boa letra de Chacal para Mundo Cane e a brasileiríssima Ninguém Manda, que poderia ser hino do carnaval baiano. A proximidade rende uma comparação perigosa: em alguns momentos de Giramundo o timbre de voz de Fernanda lembra o de Daniela Mercury.

Já a trilha de Cabra-Cega, filme de Toni Venturi, reúne seis versões enxutas de Fernanda para clássicos da MPB alternados com momentos instrumentais, escritos especialmente para o filme. Saveiros, de Dori Caymmi e Nelson Motta, defendida (e vencida) por e com Nana Caymmi no Festival dos Festivais de 1966 (e regravada no mesmo ano por Elis Regina), ficou desnuda em um bonito arranjo de teclado e violão. A linda Teletema, de Antonio Adolfo e Tiberio Gaspar, que já havia sido regravada pelo Kid Abelha no álbum Coleção, conta apenas com a voz de Ná Ozzetti e o piano de Fernanda. Menores, mas não menos interessantes, surgem as versões para a magistral Sinal Fechado, de Paulinho de Viola, em um dueto de Fernanda com Toni Garrido, amparados pelo violão de Ulisses Rocha, e, para fechar, outras duas de Chico Buarque além de Roda Viva: Rosa dos Ventos em voz e piano, e Construção, em arranjo pesado e estranho, com programações, cozinha do Living Colour e guitarra microfonando.

Marcelo Costa