Delivery Man, Elvis Costello (Warner) 15/03/2005 Elvis Costello não é um cara de se repetir. Ele é tão imprevisível que chega a ser previsível. Estranho, mas faz sentido. Costello passou a década de 90 tentando gravar um disco de rock que fosse digno de seus primeiros trabalhos. Após perceber que não iria conseguir tal feito – não é fácil retomar um período de tantas obras-primas em seqüência -, o inglês deu de ombros e se aliou ao maestro Burt Bacharach em Painted From Memory. Com o sucesso de público da parceria e da versão de She, incluída no filme Um Lugar Chamado Notting Hill, parecia que o rumo de Costello era mesmo o das baladas. Mas aí saiu o modernoso When I Was Cruel, seu melhor disco de guitarras em anos. O sucesso desta vez foi de crítica, mas ainda assim Elvis se transformou outra vez em North, baseado nos imortais standards de Cole Porter. Veio o casamento com a pianista Diana Krall. E o caminho baladeiro tornou-se mais natural do que nunca. The Delivery Man desmente esta lógica novamente. Por isso a teoria de que Costello sempre faz o que não esperamos que ele fará. Seu novo mote é a música americana de raiz. Como esta definição é tão vaga quanto a de cultura, dá pra traduzir como ecletismo. Tem de tudo um pouco: rock'n'roll à moda antiga, country, soul, blues, baladas. Algo parecido com o direcionamento de álbuns como Almost Blue, Blood & Chocolate e King Of América. A idéia inicial era a de um disco conceitual sobre um entregador e suas aventuras na América do Sul, mas pelo jeito o tal conceito se esvaiu por aí. Não há um gancho claro que ligue as canções. Não que faça falta. Quem precisa de conceitos quando se tem rocks como Monkey To Man e Button My Lip? As duas têm espírito década de 50, mesclado à herança garageira de Costello – a primeira poderia estar em This Year’s Model, e a segunda se destaca pelo piano tocado em ritmo maníaco. Neddle Time é outra generosa incursão pelas guitarras. As parcerias são outro achado de The Delivery Man. Lucinda Williams arrasa em There's a Story In Your Voice. E a musa country Emmylou Harris comparece com a competência de sempre em três músicas. Costello imprime um teor sexy aos vocais da blueseira faixa-título. Só as baladas, que se mostraram tão eficientes em North, estão desiguais. Country Darkness, de influência soul, e The Judgment são boas, mas Either Side Of The Same Town esbarra perigosamente no rock de arena. É bonitinha, mas o refrão chega a lembrar Bon Jovi em alguns momentos. De qualquer forma, já é hora de tentar adivinhar qual será a sonoridade do próximo disco. Por Jonas Lopes |