Entrevista - Ratos de Porão
por
André Azenha
Fotos: Divulgação
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13/08/2006
Bodas de prata de pura pauleira. Assim poderiam ser resumidos os
25 anos de existência - completados neste ano - do Ratos de Porão,
que conta com João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Boka (bateria)
e o novato Juninho (baixo) na formação atual. Com experiência e
reconhecimento após muitos serviços prestados ao punk, ao hardcore
e ao underground, eles colocaram na praça em 2006 Homem Inimigo
do Homem, após três anos desde o lançamento do último álbum
de inéditas do quarteto, Oniciente Coletivo.
Pela primeira vez na carreira eles lançam um trabalho por uma gravadora de médio porte, a Deck Disk, mas não poupam os desavisados. Mesclando tudo o que o RDP já fez de bom, o disco trás um crossover afiado de trash, punk e hardcore que rende verdadeiros tiros como DNA da Pilantragem, Testemunhas do Apocalipse, a faixa-título (visão da banda de que o homem é o câncer da humanidade) e Pedofilia Santa, um disparo impiedoso contra a igreja.
Outros que não são poupados pela metralhadora giratória da trupe são os "emos", na faixa Equivocado ("Good Charlotte é uma bosta, Simple Plan é uma bosta / Tudo que você gosta é uma bosta, sua vida de merda é uma bosta!!!", diz a letra). "A gente não tem nada contra os emos cara... Jovens moleques, criaturas saudáveis e menininhas bonitinhas. Mas o som é uma bosta, os vocalistas são todos desafinados, é um melódico ruim e a atitude é meio (bem irônico) derrotista, meio suicida, depressiva. É uma modinha", ironiza João Gordo, a respeito da "atitude" emocore.
Porém nem todo o processo para a concepção do disco foi um mar de rosas. Quem havia sido chamado para comandar a produção foi Billy Anderson (que já havia trabalhado em Carniceria Tropical e Sistemados Pelo Crucifa, que simplesmente sumiu. "Ttínhamos combinado com o cara pra ele vir produzir o disco. Mas ficamos sem contato com ele um tempo. Tentamos confirmar as datas e ele não respondia", comenta o guitarrista Jão. Na verdade, Billy estava na Argentina produzindo a banda de stoner, Los Natas. João Gordo não perdoa o ex-companheiro de trabalho. "Mó (sic) João sem braço". Falei: "Você é mó (sic) cuzão cara... Xinguei ele pra caralho e ele não respondeu mais", vocifera. Ambos prometem nunca mais trabalhar com Andersson, sendo que a produção ficou à cargo do brazuca Daniel Ganjaman (do coletivo Instituto) e ninguém assina a direção artística.
Em bate-papo com o S&Y, a banda defendeu o voto nulo, prometendo não votar em ninguém esse ano, e listaram o que vale a pena ouvir no cenário musical brasileiro atual. Perguntado sobre se faria algo diferente após esses 25 anos de estrada; Gordo respondeu: "Eu me arrependo de não ter ficado mais louco cara. Faria tudo de novo, cheiraria tudo de novo". Sem papas nas línguas, esses são os Ratos de Porão. Abaixo, a entrevista completa.
O que os Ratos de Porão têm contra os Emos?
João Gordo - (sarcástico) A gente não tem nada contra os "emos" cara... Jovens moleques, criaturas saudáveis e menininhas bonitinhas. Mas o som é uma bosta, os vocalistas são todos desafinados, é um melódico ruim e a atitude é meio (bem irônico) derrotista, meio suicida, depressiva. É uma modinha...
Jão - (indignado) É uma modinha. E (ainda) usar o nome do hardcore assim...
Então Good Charlotte é uma bosta e Simple Plam também é uma bosta?
João Gordo - Eu acho...
Jão - Uma bosta.
João Gordo - Eu também odeio Linkin Park.
Jão - Tudo que é "emo" é ruim...
Então é pau no cu dos "emos"?
João Gordo - Pau no cu na juventude do século XXI cara...
Jão - Toda informação é alienada, né?
Com 25 anos de existência eu gostaria de saber se vocês fariam tudo de novo ou se tem algo que vocês se arrependam de ter feito?
João Gordo - Eu me arrependo de não ter ficado mais louco cara (risos).
Jão - Ah... Sei lá...
João Gordo - Faria tudo de novo, cheiraria tudo de novo, faria todos os atos de novo... (risos)
Esse ano tem eleição. Vocês irão votar? Votar em quem?
João Gordo - Eu vou votar no Slayer... (risos)
Não dá pra se meter com a pilantragem (referência à música DNA da Pilantragem)?
Jão - Não dá né? Não dá pra votar em ninguém. Ele (João Gordo) já
anula faz tempo, fui o último a desistir.
João Gordo - Faz muito tempo. Aliás, nem anular, eu anulo mais (risos).
E como é conciliar estar casado com tocar numa banda de hardcore?
João Gordo - O que tem uma coisa a ver com a outra?
Jão - Acho que a pessoa amadurece, mas não influencia na música que a pessoa curte. Não é porque a pessoa vai ficando mais velha e que curtiu hardcore e punk a vida inteira que vá passar a gostar de samba, entendeu?
O que vale a pena curtir no cenário musical brasileiro atual?
Jão - Bandas?
É...
João Gordo - RHD, Bandanos, Social Chaos... No metal, Claustrofobia...
Vamos falar do disco. O Billy Anderson seria o produtor. O que aconteceu com ele?
Jão - Ele tinha dado como certo, tínhamos combinado com o cara pra ele vir produzir o disco. Mas ficamos sem contato com ele um tempo. Tentamos confirmar as datas e ele não respondia (N: segundo consta no site oficial do RDP, Billy estava produzindo a banda de stoner argentina Los Natas)...
E pintou o Daniel Ganjaman...
Jão - É... Corremos atrás pra fazermos nós mesmos.
Vocês voltariam a trabalhar com o Billy?
Jão - Depois dessa não.
João Gordo - Ficou sem clima...
Mas ele já tinha trabalhado com vocês...
Jão - Ele produziu o Carniceria Tropical e o Sistemados (Pelo Crucifa)... Mas não tem clima mesmo.
João Gordo - Eu falei com ele no Myspace... Ele ficou todo...
Jão - Deu uma de "João sem braço"...
João Gordo - Mó "João sem braço". Falei: Você é mó cuzão cara... Xinguei ele pra caralho e ele não respondeu mais... Tá lá (risos).
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do Ratos de Porão
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