"Broken Boy Soldier", do Raconteurs
por
Marcelo Costa
Foto: Divulgação
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23/07/2006
A essa altura, o mundo todo já ouviu Broken Boy Soldier,
primeiro álbum do Raconteurs, que teve lançamento nos Estados
Unidos em maio, bateu na sétima posição da Billboard após vender
61 mil cópias em uma semana (um feito para uma banda "novata"),
e que chega no Brasil pela Sum Records após circular por programas
de troca de MP3 e blogs desde janeiro de 2006.
"O primeiro álbum de uma banda que você sempre gostou". Foi
mais ou menos dessa forma que o Foo Fighters foi apresentado
ao mundo pouco mais de um ano depois do Nirvana ter acabado.
Sob o comando do ex-baterista Dave Grohl, o Foo Fighters era
a banda que ainda não tinha nenhum disco, mas que todo mundo
amava. A história se repete, mais de dez anos depois, agora
com o Raconteurs. Sem nem ter uma música gravada, a banda foi
apontada como filhote do Nirvana.
Mais: o semanário britânico New Musical Express ousou
cravar: "Vem aí o novo Nirvana. Não só novo, mas melhor que
o Nirvana". O interessante é que não havia nenhum membro do
trio de Seattle envolvido com o projeto, e sim quatro heróis
da classe independente do rock americano: o conhecido Jack White,
o semiconhecido Brendan Benson e os desconhecidos Jack Lawrence
(baixo) e Patrick Keeler (bateria), da ótima banda Greenhornes.
Com dois álbuns e um EP, essa banda de Cincinatti chamou a atenção
de Brendan Benson, que produziu algumas canções do grupo, e
que estão na coletânea Sewed Soles, estréia do Greenhornes
no selo V2, casa do White Stripes e do Raconteurs.
Bem, se nenhum membro da banda tem alguma ligação com o Nirvana,
de onde saiu a comparação? Provavelmente de algum rascunho da
canção Steady, As She Goes, primeiro single do Raconteurs,
que foi lançado no começo de 2006 apenas em vinil. Steady,
As She Goes é a canção mais Nirvana que surgiu nos últimos
anos, amparada no bate-assopra tão característico das composições
de Kurt Cobain. A comparação é inevitável, mas não dá a mínima
idéia do que representa Broken Boy Soldier, primeiro
álbum do Raconteurs. Broken Boy Soldier é, na verdade,
o mais perto que o guitar hero Jack White vai chegar de Led
Zeppelin.
Após cinco álbuns lançados com a marca White Stripes (dois deles
com mais de 1 milhão de cópias vendidas), Jack decidiu dar uma
folga para a irmã Meg resolvendo expurgar todos os demônios
da paixão que sente pela banda de Robert Plant e Jimmy Page.
Segundo Jack White, o Raconteurs não é só um projeto, mas sim
uma banda séria mesmo, dessas que vai lançar discos todos os
anos, fazer turnê e tal. Não, o White Stripes não acabou. Jack
quer seguir de agora em diante com as duas bandas. Como ele
vai conciliar as agendas é algo a se perguntar.
Porém, se o White Stripes pode ser encarado com a antítese do
rock metalizado idealizado pelo Led Zeppelin (uma banda sem
baixista e com uma baterista que "não sabe" tocar bateria),
indo na via contrária dos mestres ao fazer algo meio punk, meio
garageiro, cuja sujeira/tosqueira reina em meio a solos de blues,
rock e vocais esganiçados, o Raconteurs pega carona no zepelim
de chumbo, com um dedinho de diferença: Brendan Benson.
Benson é músico e compositor. Tinha, até então, uma carreira
solo com três álbuns de respeito, sendo que o mais recente,
The Alternative To Love (2005), ganhou edição nacional
e é uma beleza inspirada em Badfinger, Big Star, Gram Parsons
e no Paul McCartney em início de carreira solo. Tanto Jack White
quanto Brendan Benson são de Detroit, e não demorou para que
a amizade se transformasse em colaboração. O projeto, que tinha
tudo para ser uma brincadeira, acabou tomando forma de superbanda.
Benson recrutou Jack Lawrence e Patrick Keeler (ele havia produzido
um dos álbuns do Greenhornes) e o grupo começou a ensaiar um
repertório para uma nova banda: Raconteurs, palavra francesa
que quer dizer algo como contador de histórias.
Se Jack White sempre foi apaixonado pelo Led Zeppelin e Brendan
Benson é um moleque do começo dos anos setenta vivendo em 2006,
daria para dizer, canhestramente, que o nascimento do Raconteurs
seria algo como se o Led Zeppelin chamasse Paul McCartney para
uma parceria em plenos anos 70. Parece exagerado, mas transposto
para 2006, o resultado desse encontro pode ser ouvido em Broken
Boy Soldier, um disco inspirado que têm tudo para colocar
o rock na ordem do dia das paradas e rádios norte-americanas,
cravar ao menos três singles, e fazer do White Stripes a banda
reserva de Jack White.
Do começo, como a nirvanesca Steady, As She Goes, passando
pela zeppeliniana faixa título, pela belíssima balada setentista
Together até o poderoso blues Blue Vein, que fecha
o disco, com riff de guitarra acompanhando a melodia vocal,
Broken Boy Soldier é o mais próximo que o rock'n'roll
chegou do Led Zeppelin desde que Page e Plant deram um fim ao
grupo.
Porém, para todos aqueles que viveram os anos setenta, o Zeppelin
renascido nos riffs de Jack White é uma banda afetada pelo teor
pop de Brendan Benson, sendo que ambos sofreram influências
do punk (os dois cresceram na cidade de uma bandas proto-punks
mais importantes de todos os tempos: o MC5) e do grunge. Broken
Boy Soldier é, mais do que qualquer coisa, um álbum que
marca o encontro do Led Zeppelin com o Nirvana. É algo novo,
mas velho também, entende? É o primeiro álbum de uma banda que
você sempre gostou.
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Site Oficial do Raconteurs
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