Entrevista com a banda Polar
por Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
26/04/2005
Uma das bandas mais interessantes do cenário carioca recente tem pouco mais de um ano de história,
um single de duas belas faixas e um EP gravado, esperando o melhor momento para ser lançado. Isto tudo sem contar a classificação para a semifinal da etapa carioca do concurso Claro Que É Rock, em que o grupo
abrirá para o Placebo, e a certeza de que algo precisa ser mudado no rock nacional. Inspirados na melodia de bandas inglesas como o Coldplay, o Keane e o Radiohead, e nos brasileiros Belchior e Paulinho Moska, a Polar exibe em A Mesma Pessoa No Mesmo Lugar uma música de melodia apurada, baseada no piano e na guitarra, que consegue soar grandiosa e simples ao mesmo tempo.
"Somos uma banda relativamente muito nova, começamos no início do ano passado", conta Manoel
Magalhães, guitarrista e vocalista da banda, em entrevista ao S&Y. Mesmo com a curta carreira, a banda já lançou um single de forma artesenal, prepara um EP e garante que já tem material para um álbum cheio. "Acho que repertório para um álbum existe. Temos músicas muito boas que ficaram de fora do EP. Mas também tenho certeza que a banda não está amadurecida o bastante para lançar um álbum", acredita Manoel, que leva bastante a sério o lançamento de um CD. "Álbum pra mim sempre foi sinônimo de coisa muito séria, definitiva. Se você pensar num Dark side of the Moon, num Revolver, isso pra mim é um álbum, um ciclo completo. O Coldplay é um exemplo para a Polar nesse aspecto. Nos dois discos (deles) você não tira nem coloca nada. Acho que no Brasil falta essa tradição inglesa de lançar singles e EPs", opina.
Apesar das referências britânicas, a banda opta por cantar em português. "Português é a língua que eu falo diariamente, vivo e me expresso sempre em português. Não tenho nada contra as bandas nacionais que cantam em inglês, mas acho que o que falta nessa tão falada “cena independente nacional” é um contato maior com a nossa língua. O rock inglês é com certeza uma grande influência para a Polar, mas vivo diariamente o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro, e não consigo pensar em outra língua para expressar essa vivência. Parafraseando o Belchior: 'desesperadamente cantamos em português'", defende o vocalista, que, no entanto, não consegue enxergar influência do rock nacional sobre sua banda. "Acho que mais os artistas da MPB, do que do rock. O rock no Brasil tem que passar por um renovação urgente", diz.
O single A Mesma Pessoa No Mesmo Lugar pode ser baixado gratuitamente no site oficial da banda. É composto do rock inspirado Lua Nova, bastante influenciado pelo Coldplay, que conta a história de uma garota que se revolta e decide começar um novo ciclo. Cita o Posto 9, no Rio de Janeiro, traz o piano à frente e a guitarra, raivosa, abafada na mixagem. "Lua Nova é o oposto do EP A Mesma Pessoa no Mesmo Lugar, que aprofunda a idéia de que as pessoas tem medo de mudanças profundas", explica Manoel.
Já a balada rock Gabriela destaca o belíssimo vocal de Vivian Benford, da banda Clarim Diário, dividindo os vocais com Manoel Magalhães. "É uma música sobre uma garota que prefere não mudar de atitude, apesar das mudanças forçadas que a vida lhe impõe. Ela gosta do 'mesmo lugar', gosta das 'verdades dissimuladas'", conta o guitarrista, que também assina a autoria das duas canções. O Clarim Diário é apontado por Manoel com uma das boas bandas do cenário carioca atual. "Acho que a cena está cada vez melhor na qualidade das bandas. Temos ótimas bandas aqui no Rio hoje. Som da Rua, Clarim Diário, Reverse. E poderia citar pelo menos mais umas seis bandas que estão maduras e prontas pra assumir posição de destaque na música nacional", aposta o músico.
Porém, se a cena carioca está cheia de boas bandas, ainda tropeça na falta de espaços para tocar e na falta de rádios que toquem novidades. Mas Manoel acredita que as coisas estão melhorando. "Existem muito poucas rádios que tocam essas bandas, os lugares pra shows são também muito raros e sempre os mesmos e o público por conseqüência dos dois primeiros ainda é pequeno. Acho que no Brasil o único lugar que existe um cena que funciona de verdade é no Rio Grande do Sul. Mas vejo alguns avanços consideráveis aqui no Rio. Acho que em longo prazo a cena carioca tem tudo para se fortalecer, até pela qualidade das bandas mesmo", opina.
Sobre tocar no mesmo palco, e na mesma noite que o Placebo, antes de ser um sonho, é um aprendizado para a banda. "Não estou acreditando até agora. Mas para a Polar é mais um passo de um ciclo que começou com as primeiras demos que eu e Fábio (Sola Penna - piano) gravamos violão e voz. E esse isso ciclo vai terminar quando lançarmos nosso primeiro disco. Mas sem dúvida que tocar com uma banda como o Placebo é uma aprendizado. Ver de perto como se faz de verdade. Além de dar uma grande projeção para a banda", aguarda o músico.
Sobre o show, Manoel diz que será curto, respeitando os 20 minutos
impostos pela produção do evento. "Vai ser super curto, temos
apenas 20 minutos. Vamos tentar colocar as melhores músicas
da Polar nele. Mas por enquanto a única completamente Confirmada
é Lua Nova, para abrir o ciclo 'Claro Hall'", se diverte
o compositor. A banda se apresenta ao lado de Carbona, Mop Top, Blie Operario e Valvulla na próxima sexta-feira,
no Claro Hall, no Rio de Janeiro.
Confira a integra da entrevista
Quando surgiu a banda e como foi o encontro dos integrantes? Alguém ai já teve outra banda?
Somos uma banda relativamente muito nova, começamos no início do ano passado. Nesses primeiros passos a Polar era formada apenas pelo Fábio (piano), Gustavo (bateria) e eu no baixo. Ensaiamos vários meses com essa formação, trabalhando pra compor um repertório pra esse EP. Nosso primeiro show foi em fevereiro do ano passado na Funhouse (SP), só nós três mesmo. Com o amadurecimento das composições chegamos a conclusão de que era impossível só nós três reproduzirmos os arranjos que estávamos criando. Então o Hugo entrou no baixo e eu passei pra guitarra. Gravamos o EP todo assim. Depois chegamos novamente a conclusão de que precisávamos de mais uma pessoa. Foi aí que o Vinicius (guitarra) entrou. Sobre já ter tocado em outras bandas, eu e Gustavo tocávamos na Quem?!, uma banda que chegou a ficar bem conhecida aqui na cena carioca. Hugo e Fábio tocavam juntos numa banda cover e Vinicius toca na Onno.
Vocês citam como influências apenas bandas inglesas, mas o que destaca é que vocês cantam em português filtrando as tais influências. Foi opção desde o início cantar em português?
Desde o início, com certeza. Português é a língua que eu falo
diariamente, vivo e me expresso sempre em português. Não tenho
nada contra as bandas nacionais que cantam em inglês, mas acho
que o que falta nessa tão falada "cena independente nacional"
é um contato maior com a nossa língua. O rock inglês é com certeza
uma grande influência para a Polar, mas vivo diariamente o cotidiano
da cidade do Rio de Janeiro, e não consigo pensar em outra língua
para expressar essa vivência. Parafraseando o Belchior: "desesperadamente
cantamos em português".
E da música nacional, quem vocês sentem que possa ter influenciado
o som da Polar?
Acho que mais os artistas da MPB, do que do rock. O próprio
Belchior é uma grande influência. O Paulinho Moska com essa
busca do encontro da poesia com a cultura pop. Edu Lobo e Francis
Hime também sempre foram exemplos de compositores pra mim. Mas
já no rock nacional acho que são poucas as bandas que eu posso
dizer que realmente gostamos. Acho que o rock no Brasil tem
que passar por um renovação urgente. Mas ultimamente algumas
coisas bem legais vem aparecendo. Posso destacar o "Som
da Rua" que está lançando o primeiro CD pela Deck Disc,
e é fantástico. Um dos únicos discos que ouvi no rock nacional
que é bom da primeira a última música.
Vocês estão lançando o single A Mesma Pessoa No Mesmo Lugar. Você poderia falar um pouco sobre as duas canções do EP?
Na verdade, o EP A Mesma Pessoa no Mesmo Lugar é formado
por seis canções e foi produzido pelo fantástico Clower Curtis.
Mas por enquanto ainda estamos pensando na melhor forma de lançá-lo,
já que o projeto gráfico é muito complexo e seria impossível
produzir de forma artesanal. Queremos fazer em fábrica, talvez
em parceira com um selo. Mas enquanto isso fizemos várias cópias
de um single com Lua Nova e Gabriela para distribuir
para a imprensa e conseguir shows. Falando sobre as duas músicas:
Lua Nova é uma canção que fala sobre "começar"
um novo ciclo. Uma garota que decidi mudar de atitude. Gabriela
é justamente o oposto. Na verdade o EP todo é o oposto de Lua
Nova. A Mesma Pessoa No Mesmo Lugar acho que aprofunda
a idéia de que as pessoas tem medo de mudanças profundas. Por
isso quis começar o EP com Lua Nova, uma música de revolta.
Mas voltando a Gabriela, é uma música sobre uma garota
que prefere não mudar de atitude, apesar das mudanças forçadas
que a vida lhe impõe. Ela gosta do "mesmo lugar",
gosta das "verdades dissimuladas".
Já há repertório para um álbum? Quais os planos da banda quanto a isso?
Acho que repertório para um álbum existe. Temos músicas muito
boas que ficaram de fora do EP. Mas também tenho certeza que
a banda não está amadurecida o bastante para lançar um álbum.
Álbum pra mim sempre foi sinônimo de coisa muito séria, definitiva.
Se você pensar num Dark side of the Moon, num Revolver,
isso pra mim é um álbum, um ciclo completo. O Coldplay é um
exemplo para a Polar nesse aspecto. Nos dois discos deles você
não tira nem coloca nada. Acho que no Brasil falta essa tradição
inglesa de lançar singles e EPs. Na minha opinião a Polar deveria
lançar outro EP antes de um disco inteiro. Mas se aparecer hoje
uma grande proposta pra um disco, não diria um "não"
a princípio, porque sei como funciona a indústria no Brasil.
Pergunta básica, que sempre faço, pois acho necessário: como está a cena carioca? Espaço para shows, público e rádios.
Acho que a cena está cada vez melhor na qualidade das bandas. Temos ótimas bandas aqui no Rio hoje. Som da Rua, Clarim Diário, Reverse. E poderia citar pelo menos mais umas seis bandas que estão maduras e prontas pra assumir posição de destaque na música nacional. Já rádios existem muito poucas que tocam essas bandas, os lugares pra shows são também muito raros e sempre os mesmos e o público por conseqüência dos dois primeiros ainda é pequeno. Acho que no Brasil o único lugar que existe um cena que funciona de verdade é no Rio Grande do Sul. Mas vejo alguns avanços consideráveis aqui no Rio. Acho que em longo prazo a cena carioca tem tudo para se fortalecer, até pela qualidade das bandas mesmo.
Qual a sensação de tocar no mesmo palco que uma banda como o Placebo?
Cara... imagina o que é pra um garoto que cresceu no interior do Rio de Janeiro, gravando sempre o Lado B da MTV, tocar com o Placebo. Não estou acreditando até agora. Mas para a Polar é mais um passo de um ciclo que começou com as primeiras demos que eu e Fábio gravamos violão e voz. E esse isso ciclo vai terminar quando lançarmos nosso primeiro disco. Mas sem dúvida que tocar com uma banda como o Placebo é uma aprendizado. Ver de perto como se faz de verdade. Além de dar uma grande projeção para a banda.
Vocês conhecem as outras quatro bandas?
Conhecemos apenas Carbona e Mop Top. O Carbona tem toda uma história e tradição no underground nacional e o Mop Top é uma daquelas outras seis bandas cariocas que eu poderia ter citado antes. As composições são realmente muito boas, sempre escuto em casa.
Como vai ser o repertório do show?
Vai ser super curto, temos apenas 20 minutos. Vamos tentar colocar
as melhores músicas da Polar nele. Mas por enquanto a única
completamente Confirmada é Lua Nova, para abrir o ciclo
"Claro Hall". hehe
Links
Site Oficial da Polar -
Download das músicas "Gabriela" e "Lua
Nova"
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