Os Pistoleiros em Floripa
por Tiago Agostini
Blog
Foto: Eduardo Xuxu
05/09/2008

Se as pessoas conhecessem Os Pistoleiros não dariam tanta importância para Vanguart e Mallu Magalhães. Nada contra o quinteto de Cuiabá e a garota-prodígio do indie nacional - ambos são talentosos e fazem um folk rock competente - mas a qualidade e simplicidade das canções do quinteto de Florianópolis são algo difícil de ser alcançado. O título de melhor banda folk brasileira cunhado por Fernando Rosa não é injusto.

Fato é que a banda é uma lenda do rock de Floripa desde que acabou, no distante ano 2000. Não por acaso, assim que foi anunciado o show de retorno da banda para o aniversário de dois anos da coluna Contracapa, do Diário Catarinense, a comoção geral começou. Teve quem saísse de São Paulo, quem viajasse mais de 400 km em menos de 24h viajasse mais de 400 km em eus queira que n tudo. Bem, ae local. o se fosse uma “arem las. emento pr e quem há muito não saía de casa e foi até a Célula no dia 30 de agosto, mesmo com a noite congelante que fazia na ilha. Um público devoto se espremendo em frente ao palco e cantando todas as canções do EP homônimo lançado em 2000 e que corria a internet meio que como raridade até o relançamento virtual pelo Senhor F. O show não teve muito mais do que as sete músicas gravadas – além delas, duas instrumentais, duas antigas não gravadas (“Pouca Coisa” e “Contestado”), uma inédita (“Remédio Amargo”) e duas covers.

A fórmula musical d’Os Pistoleiros é fácil de assimilar. Assim como Wander Wildner - sem o punk - as composições se destacam pela simplicidade de ritmo, arranjo, harmonia e letra. Seja para falar de inocência e pureza juvenil em “(Não Contavam com) Os Pistoleiros”, sobre desilusões em “Neve Over The Town”, para armar um bailinho folk em “Domingo se não chover” ou sonhos futuros em “Se eu tivesse um walkman”, eles não têm firula. Não à toa Wander regravou, em seu mais recente CD, “(Não Contavam com) Os Pistoleiros”. E o final do show, com a cover enérgica de “Rockin’ In The Free World” deixa tudo mais claro - Neil Young, o autor da música, é mestre nas canções de rock diretas. Houve quem dissesse que foi igual há oito anos atrás - o que é um ótimo elogio.

Mais do que apenas uma celebração de uma das grandes bandas que Santa Catarina já teve, a noite de aniversário da Contracapa deixou bem claro um contraste entre passado e presente na cena musical de Florianópolis. Sim, porque de alguma forma a maioria das pessoas que se espremiam em frente ao palco para cantar que “ainda vai levar uma semana ou duas, até que o carro velho fique pronto” não estavam muito interessados no Clube da Luta All Stars, uma “superbanda” reunindo músicos de diversas bandas do “movimento”.

O Clube da Luta foi uma espécie de associação criada há quase dois anos por oito bandas. A cada duas semanas, duas delas subiam ao palco do Fios e Formas para “duelar”. Entre as regras estava a obrigatoriedade de apenas tocar músicas próprias. Uma ótima maneira de incentivar a produção e criação de uma cena. Hoje já são 13 bandas na associação e as apresentações se tornaram semanais, todas as sextas na mesma Célula onde Os Pistoleiros tocaram.

Na teoria tudo é lindo, mas há um porém que faz toda a diferença. Ano passado, quando entrevistei, em Florianópolis, o Miranda para o meu TCC o Clube da Luta comemorava seu primeiro ano de vida. Perguntei a ele se iria aos shows e ele disse que não, comentando que até havia ficado sabendo de umas palestras que ocorriam naquele sábado à tarde e que tinha pensado em aparecer para falar apenas uma coisa: “veio, o segredo ta em fazer música boa. O que não é difícil, hoje tu tem tudo nas mãos, os instrumentos, a tecnologia. É só escutar as bandas certas e aprender como se faz”.

Aí está o contraste entre passado e presente: a qualidade das bandas. De nada adianta criar uma associação para incentivar as bandas se a música é ruim. Assim, soa patético quando o vocalista da Samambaia Sound Club, Jean Mafra, esbraveja no palco antes de cantar que “Santa Catarina tem que melhorar muito até chegar no nível do Clube da Luta” e que “Florianópolis é Provincianópolis”. Ora cara pálida, fosse o Clube da Luta tão relevante assim todos na cena indie nacional o conheceriam. Mas não é bem isso que acontece - várias pessoas com quem conversei no Festival Calango deste ano, entre elas produtores de festivais, não faziam a menor idéia do que se tratava.

Na verdade, o Clube da Luta tem que melhorar muito para chegar no nível que a história da cena independente de Floripa merece. Porque houve uma época em que Floripa era relevante musicalmente, no distante início do século, quando Pipodélica, Pistoleiros, Ambervisions expandiam o som ilhéu pelo Brasil. Bandas que mais do que apenas copiar e emular nomes famosos se preocupavam em adicionar um elemento próprio ao que faziam. Bandas que justamente por isso expandiam seu público pelo Brasil, ganhando respeito por onde passavam.

Florianópolis é uma cidade com vida cultural praticamente nula. Isso não impede que alguns poucos tentem movimentar a cena - e nisso o Clube da Luta tem boa participação. Mas não adianta ficar fechado numa noite por semana, tocando para quase sempre as mesmas pessoas. É necessário expandir os horizontes, tocar em outras cidades, levar bandas de fora para tocarem lá. Em resumo, é preciso ter um pouco de ambição e humildade, pensando no que se pode melhorar e não achando sabem e já fizeram tudo.

Nos dias 26 e 27 de setembro acontece o Floripa Noise Festival, como se fosse uma “filial” do Goiânia Noise, organizado pela Insecta Cultural, de Floripa, em parceria com a Monstro. As pessoas locais por trás do festival são veteranos daquela cena do início da década, o que pode ser uma boa ajuda para fortalecer o indie local. Que também vai precisar de boas bandas para alavancar tudo. Bem, aí estão Os Pistoleiros de volta. Deus queira que não por apenas um show.