Nirvana, Nirvana
25/10/2002

Duas são as maneiras de se ver essa coletânea:

1) Você tem menos de 18 anos e quando o quarteto norte-americano fez a fama você estava jogando bolinha de gude na rua, empinando pipa e freqüentando o primeiro grau do sistema educional brasileiro. Para estes, que cultuam a imagem de Kurt Cobain pós-suícidio estampada em badulaques como biografias e camisetas, mas que realmente só conhecem o riff seco e pulsante de Teen Spirit e mais nada, Best Of é sublime. Disposta em ordem cronológica, a seleção centra foco nos singles. Assim, a balada beatle About a Girl não representa a crueza da estréia Bleach, mas sinaliza que mesmo um desajustado também tem coração. Duas faixas da coletânea Incesticide (destaque para a pungente Sliver) seguem-se desembocando na obra-prima Nevermind, representada com apenas quatro faixas. Do tosco e rocker In Utero também foram pinçadas quatro canções (não marque bobeira! Ambos os álbuns merecem audição completa) e do honesto Unplugged MTv NY surgem a bela All Apologies e duas covers, para David Bowie (The Man Who Sold The World) e Leadbetter (Where Did You Sleep Last Night). Se você quer saber porque o Nirvana é o Nirvana está tudo aqui, resumido em 15 faixas. Divirta-se. Quebre tudo e sonhe alto.

2) Você tem mais de 18 anos, lembra muito bem do verão de 1992 e sentiu uma pontada no peito quando soube que o cara manchou o teto de sua casa com os miolos que comporam algumas das rock songs mais vibrantes de toda história da música pop. Ok, você já ouviu tudo que está prensado aqui, o lançamento é picaretagem das maiores e a capa é um primor de originalidade (impossível não ser cinico). A artimanha de inserir no tracking list uma faixa inédita não convence. You Know You're Right é cool ao máximo, rock barulhento como só Kurt sabia compor e cantar até os pulmões pedirem água (e as veias, heroina), mas, sorry, não vale R$ 30. Seja punk. Baixe a música na Web, queime um cd e compre Song For The Deaf do Queens On The Stone Age. Deixe a coletânea para os neófitos. Uma das melhores coisas de se estar vivo em 2002 é viver em 2002.

Por Marcelo Costa