"Cena Beatnik" - Neil Lisboa (Antidoto)
2001
Nei
Lisboa é idolatrado no sul do país. Lá,
seus álbuns vendem bem e a pirataria que copiava em CDR
os dois álbuns de Nei lançados pela EMI nos anos
80 (Carecas da Jamaica e Hein?) obrigou a major
a fazer uma edição em CD dos discos.
Cena Beatnik
é o sétimo álbum da carreira do bardo e
quebra um silêncio de nove anos sem material original,
já que o último álbum, Hi Fi, buscava
inspiração em 14 covers que iam de Rolling Stones
(Ruby Tuesday) e Beatles (Norwegian Wood) até
Elton John (Bennie & The Jets) e Paul Simon (Fifty
Ways To Leave Your Lover).
Na canção que abre Cena Beatnik e dá
título ao trabalho, Nei tenta justificar sua música
cantando: "Já no 'passa nada' / já nem peço
por favor / eu tô abrindo a estrada / que chega aonde
eu for / eu tô na madrugada / tô na chuva pelo calor
/ eu tô na luta armada / disfarçado de cantor".
As letras continuam sendo o diferencial carregando nas aliterações
que Humberto Gessinger emprestou dele e não devolveu
mais (assim como o guitarrista Augusto Licks, que era da banda
de Nei nos primeiros álbuns do bardo e saiu para ser
um Engenheiro a partir de A Revolta dos Dandis).
Dessa forma, ainda em Cena Beatnik, a música,
Nei canta: "E o acaso me deixou na porta da tua casa / faz silêncio
e faz de conta que já me esperava" ou "O mundo é
do vivos / o mundo é dos bancos / e os bancos dos mendigos",
da ótima Produção Urgente. As melodias
alternam rocks suaves com baladas sutis.
O repertório não chega a tocar o brilho de Carecas
da Jamaica nem a força trágica de Hein?, mas une
canções que são um belo atestado de sobrivência
/ independência de um artista que - com vinte anos de
carreira nas costas, mesmo longe demais das capitais - ainda
usa seu inspirado cinismo poético para escrever mais
um - belo - capítulo da música popular brasileira.
Marcelo
Costa
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