Nando Reis ao vivo
Centro Cultural Fiesp
Teatro do Sesi - 27/08/2002
por Marcelo Silva Costa
fotos Cesar Massao Kirizawa

O Centro Cultural da Fiesp, na Avenida Paulista, 1.313, abriga teatro, música, mostras de cinema além de contar com a Biblioteca Maria Braz, com acervo voltado às artes com consultas em livros, revistas, vídeos e Internet, tudo gratuito. 

Além de investir na arte, a Fiesp alterna vários projetos temáticos. Na área de música, em julho, por exemplo, era o "Acústicos Porém Elétricos" em que uma banda convidada começava o show de forma acústica para terminar com as guitarras plugadas. Foi nesse projeto que o S&Y flagrou Marcelo Nova

Em agosto foi a vez do "Nossos Ídolos de Sempre" em que artistas escolhiam um ídolo para interpretar algumas canções. Assim, numa noite teve o Zero de Guilherme Isnard tocando Rolling Stones e em outra, Paulinho Moska tocando Raul Seixas. O último convidado a se apresentar no Teatro do Sesi foi Nando Reis, baixista dos Titãs, que escolheu Neil Young que, para o titã, "tem uma espécie de presença chave dentro de uma descoberta daquilo que poderia se chamar minha maturidade, porque a gente sempre acha que as grandes influências são determinadas na infância e adolescência - de fato é verdade, pois é ali que você fica marcado - no entanto, Neil Young foi uma descoberta minha em uma idade mais avançada, 25, 26 anos e foi engraçado que isso me fez reconhecer aspectos meus que eu jamais havia reconhecido". 

Entrando no palco com camiseta de Ryan Adams, Nando assumiu o violão e abriu o show com uma leve versão de "Sugar Mountain", faixa que abre um dos grandes álbuns ao vivo de Neil Young, "Live Rust". Logo em seguida chamou o baixista  Felipe Cambraia para acompanhá-lo, tocando "Frases Mais Azuis" de seu segundo álbum solo, "Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro" a "A Fila" da estréia "12 de Janeiro". O formato voz/violão/baixo permitiu admirar as belas letras de Nando Reis. 

"ECT", popularizada numa versão com Cássia Eller, foi cantada em coro pelo público no primeiro momento arrepiante da noite. Alternando fortes batidas ao violão com uma bela interpretação, Nando deu brilho maior a música. Para os fãs do Titãs, Nando tocou uma versão vigorosa de "O Mundo é Bão Sebastião", presente no último álbum da banda, "A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana", para, em seguida, dedicar "aos meus colegas de banda", "Sua Impossível Chance".

Uma outra de Neil Young (a doce "I Believe In You" do álbum "After The Gold Rush" de 1970) cantada com emoção indisfarçável emendou com "Os Cegos do Castelo", para festa do público que acompanhou Nando no belo refrão: "Eu vou cuidar / Eu cuidarei dele / Eu vou cuidar Do seu jardim / Eu vou cuidar / Eu cuidarei muito bem dele / Eu vou cuidar / Eu cuidarei do seu jantar / Do céu e do mar / E de você e de mim". 

Uma das canções de Neil Young preferidas deste jornalista veio na seqüência: "Pocahontas", do antológico "Rust Never Sleeps", de 1979, em versão mais rápida que a original, mas não menos bela. O arranjo simples destacou as belas letras de "Relicário" e "Eu e ela", criando clima para "O Segundo Sol", também cantada em coro. 

"Little Wing" do álbum de Neil Young "Hawks & Doves" de 1980 foi fundida com "All Star" de Nando, alternando os versos das duas canções, culminando em uma declaração emocionada do músico: "Devo confessar que essa história de estar falando me deixou um pouco retraído, no bom sentido, e talvez essa retração tenha me trazido a timidez necessária que ás vezes é descompensada quando um tímido sobe ao palco em tem que se comunicar em grande intensidade. Na verdade, essa retração permitiu retomar e construir um sentido sólido para que, neste show, tantas informações e emoções vindas de diferentes direções tenham se reunido dentro de mim com tanta intensidade. "Little Wing", por exemplo, tem uma semelhança de harmonia e acordes que me animou a fazer essa junção com "All Star". E durante a execução, aqui, tocando, eu fui vendo que o sentido da letra do Neil Young tem a ver com a minha música, que eu fiz para a Cássia... que... é uma música que fala sobre uma... princesa". 

Outra de "After The Gold Rush", a pesada "Don't Let It Bring You Down", encerrou o repertório Neil Young da noite, mas o show seguiu com uma seqüência de sucessos que deve assustar um leitor mais crítico, mas que funcionou a perfeição no Teatro do Sesi, com todo público levantando-se das cadeiras e dançando ao som de "Resposta", sucesso com o Skank, "Onde Você Mora" sucesso com o Cidade Negra, (ambas regravadas pelo titã no álbum "Infernal"), e a última, "Me Diga", do primeiro álbum solo de Nando. 

Um pedido de bis ensurdecedor e Nando retorna dizendo que iria tocar uma música que  ele adora e que tocava na rádio em seus tempos de moleque. A batida do violão é inconfundível e introduz "Fogo e Paixão" do Wando (senso de humor excelente) para cair em "My Pledge of Love" do Joe Jeffrey Group, sucesso em 1968. Para o final, claro, "Marvin". 

Assumo que fui ao show para ouvir as canções de Neil Young. O trabalho solo de Nando Reis nunca me seduziu e mesmo os últimos dos Titãs não mostram a força de outrora (com exceção de um lampejo aqui e outro acolá). Porém, sai de alma lavada e completamente seduzido pelas letras, pelas fortes batidas ao violão, pela apresentação emocionada e irrepreensível que Nando Reis fez para pouco mais de 600 pessoas em uma terça-feira de vento frio paulistano. Coisas que só a boa música pode proporcionar. "Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu" canta Nando em "All Star", frase perfeita para se resumir um ótimo show.


Veja outras fotos do show, por Cesar Massao Kirizawa