"MTV Acústico Bandas Gaúchas"
por Marcelo Costa
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08/07/2005
Como emissora de TV a MTV é um fiasco. Não dá nem para levar
em conta no Ibope, a não ser em casos esporádicos, e a cada
dia que passa consegue descer a ladeira com sua programação
de gosto extremamente duvidoso. Se ela só veiculasse clipes
seria bem melhor ao invés de colocar seus VJs conversando. Porém,
como franquia, a MTV vai bem, obrigado. CDs e DVDs das séries
"Acústico", "Ao Vivo" e "MTv Apresenta" conseguem boas vendagens
e, melhor, muitas vezes alcançam um bom resultado sonoro.
A série "Acústico" é, de longe, a mais rentável, e a que traz
melhores resultados musicais. Os acústicos de Eric Clapton,
Nirvana e Neil Young são emocionantes. Os do R.E.M., Oasis e
Pearl Jam também (os três últimos não oficiais, mas fáceis de
se encontrar no mercado negro). Do lado debaixo do Equador se
destaca o ótimo acústico do Capital Inicial (não à toa, o grande
disco dos candangos, por unir em uma bolachinha boas canções
de álbuns irregulares), o primeiro dos Titãs e a nudez poética
do acústico da Legião Urbana.
Acústico MTV Bandas Gaúchas é outro projeto para entrar
na lista de destaques da emissora. Reúne quatro artistas "consagrados"
no Sul, mas "desconhecidos" no resto do País,
em torno do formato clássico do programa. É claro que o projeto
poderia ter nascido quatro anos atrás, quando o rock gaúcho
era a ponta de lança da música nacional, estava prestes a estourar
nacionalmente, e só precisava de um empurrãozinho de alguém
bem intencionado para acontecer. Se tivesse nascido naquela
época, além de manter a chama da grande Vídeo Hits viva, Acústico
MTV Bandas Gaúchas corria o risco de se tornar um grande
sucesso.
Em 2005 o cenário é outro. O rock de Curitiba é o melhor do
País, mas precisa lutar contra um mercado cada vez mais fechadíssimo.
O rock gaúcho está se renovando. As grandes gravadoras estão
perdendo terreno para as independentes, porém as rádios continuam
se alimentando do pouco jabá que as majors pagam, e isso faz
com que o "povo" seja alimentado pela mesma "comida"
de sempre. Na hora de um espaço livre, ao invés de apostar no
novo, as rádios "investem" no comeback. Está tudo errado na
mídia brasileira.
É neste cenário desconfortável que a MTV decidiu investir em
quatro bandas sonoramente tão dispares para participar do mesmo
projeto tendo em comum apenas a região de origem. Apesar
do atraso, o projeto se justifica, mas serve mais como registro
do que como revolução. Dos quatro nomes, apenas Cachorro Grande
é uma "aposta", ancorados agora pela DeckDisc, que
conseguiu amaciar os moleques em Pista Livre, terceiro
disco oficial do grupo, assim como fez com Pitty e Dead Fish.
Para ter sucesso é preciso ceder alguns milímetros de dignidade.
Coisas de mercado, ou alguém acredita que músico não tem contas
pra pagar.
Acústico MTV Bandas Gaúchas abre com a Bidê ou Balde. Ao vivo a Bidê é uma das bandas mais incendiarias em atividade no País. O excelente álbum É Preciso Dar Vazão Aos Sentimentos, lançado em 2004, mostrou maturidade e muita concisão. Por isso, após a porrada das canções do álbum de estúdio, as cinco faixas do Acústico parecem um passo atrás. É certo que Microondas, Bromélias e, principalmente, a pedófila e incestuosa E Por Que Não? funcionam a perfeição no formato desplugado, mas não representam um décimo do poder da banda ao vivo. E Melissa ganha sobrevida, agora com o apoio de Roger (Ultraje). Pena que o arranjo de Mesmo Que Mude não tenha honrado a excelente versão oficial. Mas a Bidê é bem mais que isso.
A Cachorro Grande é engraçada. É costume encontrar alguém da
banda pelos botecos de São Paulo, e eles vivem caracterizados
daquele jeito: terninho e aquele chapéu "boininha". É quando
a persona ocupa o lugar da personalidade. Extremamente caricata,
a banda empilha cliclês sobre clichês, posando de rebelde, drogada,
fuleira, rocker. Tudo bobagem. Como disse certa vez Marcelo
Rubens Paiva, uma das coisas legais de Renato Russo é que a
roupa que ele entrava no palco era a mesma do dia a dia: jeans
e camisa. Soa ridículo encontrar os integrantes da Cachorro
Grande vestidos de Cachorro Grande em baladas. Eles gostam de
se vestir assim? Ok, que cada um acredite na mentira que quiser.
Sem contar que o Beto Bruno é um vocalista sofrível. É claro
que dá para salvar alguma coisa nos discos da banda assim como
neste acústico. Que Loucura ficou ótima. Já a participação
de Paulo Miklos cantando em Dia Perfeito vale a música.
A Ultramen é uma banda pela qual eu quis sempre simpatizar,
mas nunca consegui. Tenho os CDs, tento ouvir, mas algo me barra.
Pessoalmente não curto funk metal, mas depois de ver um show
dos caras até que a banda ficou mais palatável por estes lados.
Tonho Croco é o chefão e coordena a turma com pulso firme. O
resultado é um som dançante e alegre que credencia o Ultramen
ao nome de mais apelo às rádios brasileiras. É certo que enche
o saco fazer critica social com base dançante (não combina,
saca?), mas a ótima Divida é uma excelente exceção, apesar
da participação de Falcão (O Rappa), o pior vocalista da música
brasileira, disparado. Mais do que qualquer coisa, Acústico
MTV Bandas Gaúchas serve para apresentar o som do Ultramen
ao grande público. É uma banda pronta para estourar. Na quinta
vez que eu ouvir no rádio eu vou me arrepender de ter escrito
isso, mas melhor eles que o Cidade Negra.
Para o fim, aquele que deveria ser o primeiro: Wanderley Luiz
Wildner. Quando se fala em mercado, gravadora, rádios, nessas
coisas que o capitalismo costuma macular, é bom que se saiba
que Wander Wildner não tem nenhuma relação com isso. O ex-atual-vocalista
dos Replicantes mantém uma carreira solo inteligente desde 1997,
quando pariu o clássico punkbrega Baladas Sangrentas.
Desde então, Wander colocou quatro discos na praça, sendo que
o último, Paraquedas de Coração (2004), foi bancado pelo
próprio músico, e é vendido em shows, pelo site do roqueiro,
e em lojas especializadas. Dos quatro artistas, Wander é o que
mais se aproxima do propósito do projeto, já que se acostuma
se apresentar solo, acompanhado apenas de seu violão, em vários
botecos do Brasil afora. Para o especial, Wander colocou "hits"
de seu repertório como Bebendo Vinho e Eu Tenho Uma
Camiseta Escrita Eu Te Amo ao lado de Rodando El Mundo
(improvisada), da hilária Mantra das Possibilidades,
da sensacional Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro
e da sonhadora No Ritmo da Vida. Seu set está bem a frente
dos conterrâneos, e encontra reforço na camiseta usada por Carlinhos
Carneiro, da Bidê, que trazia a mensagem: "Wander Wildner é
Deus". Pena que Lugar do Caralho, que chegou a ser gravada,
não entrou na seleção final.
O programa de TV exibe 12 músicas, o CD compila 20 canções enquanto
o DVD traz 21, e ainda inclui um excelente making of, embora
a produção tenha esquecido de destacar a ótima - e improvisada
- versão de Amigo Punk, da Graforréia Xilarmonica, tocada
pela Ultramen, que fecha os créditos da versão do programa para
a televisão, mas não está no DVD (apesar de constar dos créditos).
No fim, o saldo que fica é bastante positivo. Acústico MTV
Bandas Gaúchas flagra a entressafra da cena musical de um
Estado bastante particular, que costuma render boa música. Não
vai revolucionar o mercado como talvez fizesse quatro anos atrás,
mas mostra como quatro artistas bastante diferentes se portam
diante de uma produção profissional, além de apresenta-los a
um público bem maior. Vale a pena para assistir, ouvir e tomar
vergonha na cara e ir atrás dos álbuns oficiais de alguns nomes
do projeto enquanto a indústria não despeja no mercado o próximo
acústico, que será do Ultraje a Rigor, e deverá apagar este.
Coisas do capitalismo.
Leia também:
"É Preciso
Dar Vazão Aos Sentimentos", da Bidê ou Balde, por Marcelo
Costa
Entrevista
com Wander Wildner, por Marcelo Costa
Links
Site Oficial Bidê
ou Balde
Site Oficial Cachorro
Grande
Site Oficial Ultramen
Site Oficial Wander
Wildner
Site
Oficial MTV
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