"Carne de Pescoço" - Motormama (Independente) 
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O Motormama, de Ribeirão Preto (SP), lança o sucessor do ep "Mestiço" de 2000 apostando em melodias simples, por vezes bucólicas, entremeadas por farta dose de bateria eletrônica e teclados flutuantes. De maneira geral, o som remete a algo feito no começo da década passada que ricocheteia de maneira intermitente pelo cérebro sem entregar exatamente referências óbvias – ou seja, a banda tem a tão procurada identidade própria. Levadas algo psicodélicas ("Baby Doll"), batidas classudas ("Adeus Maluco"), rockinhos simpáticos turbinados por tecladeira ("Rota Caipira[Anhanguera Folk Song]"), inserções eletrônicas inusitadas (como o interlúdio drum'n'bass de "A Cobra Vai Fumar") e timbres bem sacados aliados a distorções sob controle ("Cosmorama") colorem o disco. "Sujeito Honesto" lembra um bocado o Pato Fu das antigas, tanto na estrutura quanto na letra singela/nonsense. "Mercado De Pulgas" tem traquejo country embalado em batidões longínquos. A banda sabe soar mais pesada também, como atesta "Me Enterrem Em Assuncion", onde ataca com guitarras ásperas e bateria (orgânica) bem marcada. A faixa-título, instrumental(!), conta com uma bela duma linha de baixo. "Saliva Quente/Motormama Latitude 666" é surf à la Autoramas com trejeitos vocais amalucados, guitarras tubiformes e órgão bruxuleante. Legal. "Carne de Pescoço" traz, entre suas 12 faixas, algumas regravações do ep "Mestiço". Gisele e Régis se alternam constantemente no microfone, resultando num jogo vocal interessante. No mais, bastante bom humor e senso de auto-ironia -- como atesta a voz que se ouve ao final de "Nazitrekkes", fechando o disco: "Ih, ainda bem que acabou...". O saldo final é ok, apesar de algumas canções soarem longas demais (bateria eletrônica retórica com mais de 4minutos e meio as vezes enchem o saco). 

Diego Fernandes