Entrevista - "Marilyn Manson"
por Marco Antonio Bart
Blog
25/09/2007

Controverso, eu? O cantor que já lançou um disco chamado Anticristo superastro, tomou seu nome artístico emprestado de um psicopata e foi citado como “inspiração” para os adolescentes que promoveram o massacre de Columbine (EUA), em 1999, prefere o termo “provocativo”. Marilyn Manson, o príncipe coroado do shock rock, em breve estará entre nós de novo; ele se apresenta na Fundição Progresso, no próximo dia 25, seguindo depois para São Paulo (onde toca dia 26 no Via Funchal e, no dia seguinte, no Video Music Brasil, premiação da MTV). Em entrevista ao JB, por telefone, dos Estados Unidos, ele diz que nada mais pode ser mais chocante do que a realidade.

– Especialmente nos EUA, as pessoas ainda confundem ironias e expressões artísticas com afirmações sérias – diz o cantor. – Muitas das coisas que falo sobre política e religião precisam ser ditas. Ao mesmo tempo, não sei como o público pode se chocar com o que faço ou digo. O noticiário na TV e nos jornais, isso sim, é assustador.

Nascido em 1969 com o nome de Brian Warner, MM vem liderando a banda que também leva seu nome desde 1989. Lançaram seis álbuns de estúdio e conquistaram uma pilha de discos de ouro e platina. De lá para cá, seu sucesso de público emparelha com as múltiplas polêmicas que o cantor vem acumulando – graças à sua imagem andrógina, suas letras e comentários ácidos sobre o conservadorismo dos EUA e seu comportamento ultrajante (incluindo drogas de montão e sexo bizarro). O cantor prefere classificar os críticos que se fixam em sua imagem e postura pessoal como “preguiçosos”.

– Nada do que faço é apenas para causar polêmica vazia. O conceito que está por trás do que digo é simples: deixem as pessoas serem o que elas quiserem ser. Eu mesmo só luto por isso – diz.

Ao mesmo tempo, Manson não nega que gosta de flertar com o ultraje. Afinal, escolheu o nome Humbert Humbert como pseudônimo para ficar incógnito no hotel de onde recebeu a minha ligação. É o nome do personagem principal de Lolita, o romance de Vladmir Nabokov sobre um pedófilo e sua amante-enteada de 13 anos.

– Longe de mim querer me comparar a Nabokov. Mas acho que a maneira como ele combinava as palavras se parece com a minha. São estilos parecidos – arrisca.

O Brasil se reencontra com um Manson (ele já passou por aqui em 1997) renovado. Seu mais recente disco, Eat me, drink me, lançado em junho, traz composições que – de uma forma inédita para o cantor – falam de temas bastante pessoais. Problemas com drogas e álcool, uma severa depressão (que o levou a contemplar o suícidio) e sua separação da modelo Dita Von Teese se refletem em músicas como If I was your vampire e Heart-shaped glasses.

– Cantando essas canções hoje, tenho sentimentos divididos. Sinto-me triste ao relembrar o que as inspirou, mas, ao mesmo tempo, em frente ao público, as músicas soam mais reais e verdadeiras – reflete.

O cantor fala que o processo de composição e gravação do disco salvou sua vida.

– Foi uma ressurreição como artista e como pessoa. Eu precisava voltar a ouvir a mim mesmo, o que eu dizia em minhas letras. Antes, era como se não acreditasse mais no que tinha a dizer. Acho que agora voltei a me comunicar com o público; me sinto capaz de seduzi-lo, mais uma vez – conta.

Para Manson, Eat me, drink me encerra sua fase de observação crítica da sociedade ianque e inaugura uma nova temática, mais universal e, ao mesmo tempo, mais introspectiva.

– Já me tornei parte da cultura norte-americana, a mesma que critiquei por tanto tempo. Agora quero falar da minha alma. Não no sentido religioso, mas no da inspiração artística. Minha religião é a minha arte.

Se essa última afirmação é verdadeira, MM deve servir a vários senhores. Além da música, ele desenvolve uma carreira como artista plástico e vem aumentando seu envolvimento com o cinema. Junto com a turnê brasileira, entra em cartaz em São Paulo (na galeria Romero Britto) uma exposição com suas pinturas. São aquarelas retratando os mesmos temas que abundam em suas canções: morte, patologias, vícios e demais sentimentos sombrios.

– Pinto um quadro quando preciso expressar algo, mas não consigo colocar a sensação numa canção – narra Manson, que se dedica às artes plásticas desde 1999. – Nunca havia pensado em expôr minhas obras. Para o Brasil, vou levar 50 quadros, alguns deles nunca vistos pelo público.

No cinema, o cantor começou atuando (participou de A estrada perdida, de David Lynch, 1997) e prepara-se para estrear como diretor. Em 2005, anunciou que iria dirigir Phantasmagoria, baseado nos escritos de Lewis Carroll (autor de Alice no país das maravilhas). Sua atual namorada, Evan Rachel Wood (de Aos treze), é a mais cotada para o papel de Alice.

– O filme está parado. Gravar Eat me, drink me e mostrá-lo ao vivo era mais imediato para mim. Minha mente está trancada na música agora. Depois de terminar a turnê, retomarei o trabalho no longa. Passar por esses diferentes tipos de expressão artística me fez enxergar melhor meus limites como criador. A inspiração para cada uma das formas de arte chega a mim de formas diferentes. Por exemplo, em 2006 eu não queria saber de música; este ano, só penso nisso – resume.