Entrevista - Ludov
por
Marcelo Costa Foto - Divulgação
29/07/2003
Maio
de 2002, Sesc Pompéia, São Paulo. Na Choperia
do lugar, três bandas se apresentam sob a bandeira de
uma nova revista de música que apostava no novo som independente
brasileiro. Das três, uma chamava mais a atenção
do público. Após dois álbuns e dezenas
de resenhas elogiosas pelo Brasil afora, os integrantes do Maybees
decidiram acabar com a banda. E começar de novo. A principal
mudança: as composições, antes em inglês,
agora seriam em português. E para se desligar totalmente
do passado, um novo nome foi proposto. E foi como Supertrunfo
que o quinteto fez sua primeira apresentação,
naquele maio de 2002.
No
palco, o grupo fez um excelente show, com canções
em português, bons arranjos e a bela voz de Vanessa à
frente. Por parte do público, quase todos aprovaram a
nova vocação da banda, mas, mesmo assim, o quinteto
hibernou, preferindo o despojamento de shows intimistas e acústicos
com repertório amparado em covers, enquanto preparavam
a nova vinda. Neste meio tempo, descobriram que o nome Supertrunfo
já estava registrado por outra banda. A troca foi necessária
mais uma vez. O S&Y conversou com o guitarrista Habacuque
Lima para entender esse cenário de mudanças. No
papo, o recém-lançado EP "Dois a Rodar", Maybees
e Ludov, a nova banda.
Três
perguntas em uma: por que a mudança de lingua, de nome
e por que Ludov?
As composições já estavam sendo em português
desde o finalzinho do maybees. A mudança na língua
é simples: a gente passou a procurar algo que expressasse
ainda melhor o que estávamos sentindo. Nada muito planejado,
foi apenas expressão mesmo. O novo nome já é
outra história. A realidade é que o Maybees acabou
e a gente passou uns 2 ou 3 meses meio sem saber direito o que
faríamos do conjunto de músicas. Foi um período
de fim de ano, festas, férias e etc. Foi só por
volta de fevereiro que resolvemos iniciar uma banda, com as
composições novas. Por isso não havia sentido
em tentar manter o nome Maybees. Era tudo novo, e Maybees já
tinha feito sua parte na nossa história, a gente quis
deixar aquela parte bem definida nos 2 discos lançados,
e dar um sentido diferente pro que viria adiante. Mudamos o
nome pra Supertrunfo, mas pra nossa infelicidade já havia
um bom número de bandas que usava esse nome e que vieram
reclamar conosco. Então passamos para Ludov, que não
é nada além de um 'apelido' para Ludovico.
O
que o Ludov herdou do Maybees?
Olha,
os nossos instrumentos ainda são os mesmos hahaha. Na
verdade ainda somos os compositores de nossas músicas,
ainda somos os arranjadores delas, então a herança
está nas pessoas. Só que as pessoas mudam
com o tempo, mesmo que passem a vida toda tocando em uma única
banda de baile, o modo de entender e devolver o entendimento
ao mundo muda.
Vocês
já têm um público fiel aqui em SP, pelo
trabalho do Maybees. Como você acha que esse público
vai receber o Ludov?
O
pessoal que gostava do Maybees já tem recebido muito
bem o Ludov. Somos uma banda nova, mas o timbre da vanessa e
o estilo das composições devem permitir ainda
a identificação do nosso antigo público.
E grande parte daquele público do Maybees se tornou amigo
da banda, então todos acompanharam o processo de mudança
e devem sentir-se como nós nessa nova fase.
Por
que o formato EP? É totalmente independente, feito pela
banda?
Esse
EP é uma apresentação da banda para o nosso
público, para um possível novo público
e para gravadoras. A gente não quis entrar de sopetão
na casa das pessoas com 14 músicas e dizer: 'ouça
tudo'. Então a escolha do formato foi pensando nisso.
Foi pensando em demonstrar nossas composições,
sem que se tornasse demasiado chato pra uma primeira audição.
É difícil pegar um disco de uma banda de que você
nunca ouviu falar e sentar ali pra escutar 50 minutos de música
dos caras. Com meia hora de música já dá
pra dar uma idéia do que somos. O resto virá em
outros EPs ou em um disco completo. O disco é independente
sim. Como disse, é pra ser uma demonstração
que almeja conseguir algo maior com o investimento necessário
para uma produção do disco completo. Mas por enquanto
fomos nós que gravamos, mixamos, prensamos e distribuímos.
E
quanto tempo vocês trabalharam essas músicas? São
todas canções novas?
Algumas
delas vêm sendo trabalhadas desde o final dos maybees.
Até chegamos a tocar nos últimos shows. Outras
são bastante novas, e entraram no EP na última
hora mesmo. É claro que, durante um longo processo de
gravação, mixagem e masterização
do EP, outras músicas foram sendo compostas e são
agora as 'novas canções'. Mas não tem nenhuma
música ali que seja do século passado.
O
que você achou do resultado? Ficou como a banda esperava?
Ficou
muito bom. Acredito que ficou além do que esperávamos.
Era um projeto pequeno no começo e no final, além
das músicas gravadas com ótima qualidade, conseguimos
fazer a parte de CDROM, com video, cifras, música extra,
etc. A parte gráfica também ficou muito bonita.
Estamos muito satisfeitos.
Eu
achei o som mais pesado do que no Maybees...
Achou
mesmo? Talvez tenha sido a qualidade da produção
do disco, que melhorou muito dessa vez. As guitarras soam bem
melhores que nos discos do Maybees. Mas eu não acho mais
pesado não. Acho que esteja mais definido, com estruturas
melhor pensadas. Mas isso é natural pra um grupo de músicos
que já toca junto há alguns anos.
Das
seis canções do Ep, qual a sua preferida?
Não
dá pra escolher muito uma preferida não é?
A gente passa muito tempo gravando as músicas, trabalhando
com elas no estúdio, e acaba entrando em fases de gostar
mais de uma ou outra. Desde o começo das gravações
já gostei muito de cada uma das canções.
Hoje eu estou na fase de gostar da faixa 'Melancolia' por ser
bem diferente, com o arranjo baseado no teclado, baixo e bateria.
Mas também gosto muito de '2 a rodar', que á o
título do EP e que tem um bocado de elementos interessantes.
O
site está bem bacana, com jogos, wallpapers, blog. Como
funciona a atualização?
Nós
mesmos atualizamos tudo o que há por lá. Sempre
que sobra um tempinho a gente tenta pensar em algo que possa
ser interessante pra quem visita. Além disso recebemos
vez ou outra alguns jogos criados por amigos e fãs, e,
quando são legais, colocamos no site também. Durante
alguns meses convidamos um grande amigo para escrever no nosso
blog (Renato Thibes). Foi o tempo em que ficávamos muito
voltados pra gravação do EP, então o Renato
passava as novidades pra quem visitava o site.
E
este projeto Mondo 77, trata-se do que?
Esse
é um projeto que começou quase de brincadeira,
pra funcionar mais como um ensaio extra na semana. Dali ele
foi crescendo e recebendo um bom público, então
resolvemos levar adiante. Tocamos todas as quintas-feiras num
bar aqui em São Paulo. A gente toca um bocado de músicas
covers, coisas que a gente acha divertido, e de vez em quando
uma ou outra música nossa. Tem sido muito bom porque
acaba possibilitando uma proximidade enorme com quem gosta da
banda. O pessoal vai lá pra ficar batendo papo com a
gente, pedindo músicas pra outra semana, essas coisas.
O
que rola de covers no Mondo 77? Alguma chance dessas covers
aparecerem nos shows da banda?
A
gente toca muita coisa por lá. São cerca
de 50 músicas que a gente vai variando, e algumas extras
que entram a cada semana. Tem U2, Cure, Cranberries, Los Fabulosos
Cadillacs, Pato Fu, Cardigans, Blondie, Pulp...
Existe chance sim de alguma delas aparecer no show. Estamos
pensando isso, apesar de, no Mondo'77, todas as versões
serem semi-acústicas. Precisaríamos apenas fazer
um arranjo diferente para um show ao vivo e elétrico.
Qual
as influências da banda hoje em dia, o que vocês
estão ouvindo?
Eu
diria que estamos bastante distantes um do outro no que diz
respeito a 'músicas pra se ouvir em casa'. Na verdade
eu nem sei o que o resto da banda ouve. Eu tenho ouvido muito
pouca música, e quase tudo instrumental/eletrônico
light. Vez ou outra procuro saber das novas bandas (nacionais
e internacionais). Ouço um pouco, mas tenho confundido
tudo, os nomes, os sons, os países. Aí acabado
desistindo. E vou jogar GTA Vice City no computador hahaha.
Como
que pessoas de outros Estados podem contatar vocês e comprar
o EP?
Estamos
preparando uma maneira que seja a melhor possível para
enviar os discos a um custo legal e facilitar o pagamento. Por
enquanto o disco pode ser omprado através de lojas
em SP que fazem esse serviço do envio. Com certeza tem
na Velvet (www.velvetcds.com.br), na Sensorial (www.sensorialdiscos.com.br)
e na Bizarre (www.bizarremusic.com.br). Se alguém precisar
de mais informações ou quiser simplesmente falar
com a gente, pode mandar um email pro ludov@ludov.com.br
. Ou então entrar no nosso site www.ludov.com.br onde
tem uma área pra cadastrar emails na nossa mailing
list, e também um cadastro pra Lista
de Discussão do Ludov.
Qual
os planos da banda, agora, com o álbum pronto, nas mãos?
Nós
vamos partir pra divulgação e venda de parte desses
discos pra tentar pagar o que gastamos até a agora. Além
disso temos que fazer muitos shows pra reconquistar o público
do maybees e mostrar a música pra mais pessoas.
Uma outra boa parte dos EPs está separada para divulgação
e distrubuição em selos e gravadoras, com o objetivo
de conseguirmos gravar um disco inteiro para o próximo
ano.
www.ludov.com.br
Dois a Rodar (Ludov) por Marcelo Costa
Esqueçam
o Maybees. A história aqui é outra. E melhor.
Em "Dois a Rodar", o quinteto paulistano abraça o rock
brasileiro com mãos, dedos, pés, voz e muitas
guitarras. O resultado é empolgante, do começo
ao fim. A união de um excelente instrumental com o forte
vocal de Vanessa Krongold resultou em um repertório conciso
e delicado, pop e roqueiro, na mesma medida. Interessante perceber
que a banda alcança, em sua nova vida, a almejada personalidade
própria, muito pelo vocal de Vanessa, outro tanto pela
qualidade dos arranjos. Há resquício do Los Hermanos
de "Bloco do Eu Sozinho", principalmente no duo de canções
que abre o EP, o que apenas melhora as canções.
São seis músicas, mais uma na parte multimídia
do CD ("Estrelas") que traz, ainda, vídeo, letras, cifras
e fotos.
"Dois
a Rodar", a faixa título, como bem definiu o jornalista
Ricardo Alexandre no release, é quase um tango guitarreiro.
O vocal de Vanessa convida o ouvinte a "rodar e rodar e rodar"
enquanto as guitarras brigam por atenção, impregnando
o ar de detalhes. "Da primeira Vez" começa no clima de
onde a anterior parou, mas segue uma linha mais rock. "Até
que eu sou uma pessoa legal", canta Vanessa. Só as duas
já valem o CD. Mas tem mais. Duas faixas suaves: "Aconteceu"
é uma balada rock conduzida por piano enquanto "Melancolia",
última faixa a entrar no EP, é meio lounge. E
mais duas: "Trânsito" já havia aparecido no CD
encartado na revista Frente nº 2. Aqui, ela surge remixada
e mais pesada (e mais cheia de detalhes). E, por fim, "Princesa",
que, além de violões e uma bela melodia, traz
a tona àquilo que pode ser o único senão
do repertório: quando Vanessa canta, no pseudo-refrão,
"Como seria melhor se não houvesse refrão nenhum,
mas há" é impossível não analisar
a meta-linguagem e perceber que faltam refrãos as canções.
Nada que desmereça ou atrapalhe, já que as canções
grudam de tal forma que poucas audições já
permitem cantar junto, mas que seria melhor se houvesse refrão,
ah, seria.
Em
um ano que o rock nacional passou quase todo o primeiro semestre
em silêncio para, de uma só vez, abrigar vários
grandes discos em maio/junho/julho, o Ludov surge com um punhado
de canções empolgantes. "Dois a Rodar" tem tudo
para ampliar o público fiel conquistado pelo Maybees,
pois o quinteto conseguiu lançar outro disco para figurar
entre os Melhores do ano.
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