"Live", R.E.M.
por Marcelo Costa
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12/11/2007

Após mais de duas décadas de discos praticamente perfeitos (os anos 80 de "Murmur", "Reckoning" e "Document" e os 90 de "Out of Time", "Automatic For The People" e "New Adventures In Hi-Fi"), e uma decaída em 2004 com seu primeiro álbum abaixo dos padrões de qualidade impostos pela própria banda ("Around The Sun"), o R.E.M. quebra um silêncio de três anos e lança seu primeiro registro ao vivo oficial (descontando dezenas de gravações lançadas em lados b de singles).

"Live in Dublin" compila 22 músicas (em CD/DVD) de diversos momentos da carreira de uma das principais bandas em atividade no mundo, privilegiando o material composto nos anos 2000. A rigor, o R.E.M. já devia ter lançado um álbum ao vivo faz tempo, principalmente quando ainda tinha o baterista Bill Berry na formação original. Esse fato não desmerece em nada "Live in Dublin", que honra a tradição de grandes shows do R.E.M. e só perde em comparação com um ou outro bootleg, como o que registra a antológica apresentação no Rock in Rio, em 2001, no Rio de Janeiro.

Os dois concertos realizados em fevereiro de 2005 na capital da República da Irlanda encerravam a perna européia da turnê do álbum "Around The Sun", e o grosso do repertório (seis canções) é centrado em canções do disco, que felizmente cresceram muito ao vivo (com destaque para "Electron Blue", apresentada por Michael Stipe como sua canção favorita do álbum, "Leaving New York" e "Final Straw"). Metade de "Live in Dublin" é de repertório pós anos 2000 como a forte "Bad Day" (da coletânea "The Best R.E.M – In Time"), a grandiosa "The Great Beyond" (da trilha do filme "Man On The Moon") e a poderosa "Walk Unafraid", do álbum "Up".

O clássico "Automatic For The People" cedeu três canções para o show ("Man On the Moon", "Everbody Hurts" e "Drive" em versões sublimes) enquanto o excelente "Monster" aparece com a barulhenta "I Took Your Name" (que abre o show) e "What's the Frequency, Kenneth?". O multiplatinado "Out Of Time" cedeu "Losing My Religion" enquanto o subestimado "New Adventures In Hi-Fi" comparece com "So Fast, So Numb". Dos anos 80, apenas quatro faixas: "Cuyahoga", "Orange Crush", "The One I Love" e "(Don't Go Back To) Rockville" (esta última cantada pelo baixista Mike Mills).

A impressão que fica é que faltaram muitos clássicos, não é mesmo? E realmente faltaram. Mas é isso que acontece quando uma banda tão perfeita quanto o R.E.M. grava um show após 27 anos de álbuns matadores. Não há como arranjar espaço para tudo, a não ser que o álbum seja triplo. Ou que a banda tivesse resgatado o show do Rock In Rio que, entre outros clássicos, contou com "Finest Worksong", "Fall on Me", "Stand", "So Central Rain (I’m Sorry)", "At My Most Beautiful" e "It’s The End Of The World As We Know It (And I Fell Fine)". Apesar dos pesares, "Live in Dublin" é um álbum ao vivo acima da média de uma banda acima da média. A torcida é que o álbum resulte numa turnê mundial, que passe pelo Brasil. Se isso acontecer, de um jeito de ir: você estará correndo o risco de presenciar um dos melhores shows de rock do mundo.

"Live", R.E.M. (Warner)
Preço em média (importado): R$ 70 (edição tripla CD duplo + DVD)