Entrevista Leela
por Marcos Paulino
PLUG
14/10/2007

Ex-underground e ex-carioca, a banda Leela vem experimentando novos tempos. Agora sob muito mais holofotes e baseados em São Paulo, Bianca Jhordão e companhia acabam de lançar o segundo disco, 'Pequenas Caixas", que mantém o estilo do CD de estréia: vocal feminino narrando o cotidiano sobre uma base de guitarras pesadas. São 12 músicas que foram compostas no sítio da avó de Bianca, em Itaipava, região serrana do Rio, onde o grupo se enfurnou por uns tempos.

Depois, com o quarteto devidamente instalado numa casa na Vila Madalena, em São Paulo, o material foi finalizado. Nesse meio tempo, a banda teve que lidar com a saída do baterista Luciano Grossman e com a troca de empresário e de gravadora. Problemas que, segundo conta Bianca nesta entrevista ao PLUG, parceiro do Scream & Yell, serão assimilados como experiências que servirão de inspiração para outros trabalhos do conjunto, que continua contando com o guitarrista Rodrigo Brandão e o baixista Tchago Kochenborger.

Aliás, para responder a estas perguntas, a cantora teve achar um espaço em sua agitada agenda, em que acumula os compromissos do Leela com o trabalho de apresentadora do "Nickers", programa pré-adolescente da Nickelodeon.

Faz três anos que o Leela lançou o primeiro disco, que leva o nome da banda. O que mudou para vocês no período entre ele e este "Pequenas Caixas"?
Como o disco de estréia tivemos uma exposição razoável na mídia, nos tornamos mais conhecidos do que éramos antes, na época em que tocávamos basicamente no circuito underground. Aproveitamos esse tempo que tivemos para experimentar bastante quando fomos criar o novo repertório.

Como foi a fase de mudanças no Leela: de cidade, de gravadora e de baterista, já que o Luciano saiu da banda pouco antes do lançamento de "Pequenas Caixas"?
Enxergamos essas mudanças como parte do caminho que temos que percorrer para continuar "tocando o barco" com a banda. Todas elas ocorreram num período curto de tempo e passamos certa dificuldade para superá-las. Mas mudar tem sempre o lado bom, porque você passa a conviver com novas pessoas, ambientes e novas experiências, que certamente se refletiram e irão se refletir ainda na nossa música.

Como foi a experiência de se "exilar" por um mês na região serrana do Rio para se concentrar nesse trabalho?
Foi maravilhoso poder tocar a qualquer hora do dia o que desse na telha. Isso nos trouxe uma liberdade que ajudou bastante no processo criativo. Ter todo o nosso equipamento montado e disponível foi como ser uma criança num parque de diversões mágico e sem filas. (Risos) Fora que eu estava no sítio da minha avó e isso trouxe memórias antigas e boas à tona pra mim. Também estar em contato com um ambiente com muito verde e natureza em volta aumentou ainda mais o prazer de estarmos lá tocando e nos divertindo.

Depois vocês finalizaram o disco em São Paulo. O clima paulista teve influência no resultado final?
Sim, ainda finalizamos a composição de músicas aqui em São Paulo e repetimos o processo de ensaios numa bela casa na Vila Madalena, que não tinha exatamente o clima urbano notório da cidade. Mas, como a gravação ocorreu próxima da nossa chegada a São Paulo, acho que a maior influência foi a mudança em si.

O poeta e compositor Fausto Fawcett é uma presença constante no trabalho do Leela. Dá para dizer que ele é o "quinto elemento" da banda?
Certamente, porque o Fausto está presente conosco no trabalho desde o início da banda, é quase um membro fundador. (Risos) Temos uma enorme admiração pelo seu talento com as palavras e idéias, além de ele ser um superamigo, muito querido.

Várias letras de "Pequenas Caixas" são inspiradas em quadrinhos e filmes. Por quê?
Porque foram as formas de expressão com que mais tivemos contato durante o processo criativo do disco. O Rodrigo é um grande colecionador de quadrinhos e me apresentou várias obras fantásticas, como o Sandman. Somos grandes amantes do cinema também e de lá surgiram muitas idéias. Mas também li alguns livros que tiveram forte influência no nosso trabalho.

Você acaba de completar 30 anos. Como está se sentindo?
Realmente não tenho como negar que o tempo traz uma experiência de vida bastante enriquecedora, mas vejo a idade apenas como mais um número que ronda nossas vidas. Meu espírito e minha cabeça são bem adolescentes, afinal ainda mantenho firme e forte o entusiasmo de ter uma gangue de amigos fazendo um som e viajando juntos como na época da escola.

O Leela parece ter um público significativo entre os mais jovens e até mesmo crianças. O que você acha disso?
É ótimo, até porque o rock'n'roll tem uma atitude adolescente, transgressora e inovadora com a qual nos identificamos plenamente. Acho que os jovens trazem essa atitude e frescor de idéias para o mundo.

Seu trabalho como apresentadora do "Nickers" tem contribuído para sua identificação com o público jovem?
Acredito que esse trabalho tenha surgido em função da minha identificação com o público jovem, que vem anteriormente ao programa por conta do Leela, e não o inverso. Mas ter um programa diário na TV voltado para esse público certamente aumenta bastante minha visibilidade e identificação com a galera. De qualquer jeito, artisticamente me sinto com liberdade total para definir meus caminhos e acho que isso traz um frescor que mantém o trabalho bem jovem.

Aliás, como tem sido essa experiência? Como você se sente no meio da molecada?
Me sinto bem à vontade no programa. Antes de ter banda, alguns anos atrás, comandei um programa de rádio em Petrópolis, onde eu vivia, e sempre tive necessidade de me comunicar e expressar. Apresentar um programa é mais uma experiência nesse sentido, ainda mais em contato com um público com o qual me identifico muito.

Como você concilia a carreira de música e a de apresentadora de TV?
Tem sido uma grande correria. Gravo o programa três vezes por semana e tenho certa flexibilidade de horários, que permite conciliar com as atividades do Leela. Estou curtindo porque adoro agitar e estar ativa. Sou muito inquieta e, quando sinto as coisas mais devagar, logo invento um monte de coisas pra fazer.

O que está na agenda do Leela daqui pra frente?
Faremos um show de lançamento em São Paulo e temos shows em outubro e novembro na região do Vale do Paraíba, em Jacareí e São José dos Campos. Nosso show de lançamento no Rio irá ocorrer no dia 6 de novembro, na Sala Baden Powell. Esperamos tocar muito na turnê de divulgação do novo trabalho.

Links
Site Oficial do Leela