"MTv Unplugged 2.0" - Lauryn Hill (Columbia)

Sucesso é uma faca de dois gumes. Por mais que muita gente acredite que é sensacional ter seu trabalho reconhecido por milhões e milhões de pessoas, esse reconhecimento traz consigo invasão de privacidade, pessoas falsas que só interessam em estar ao lado de alguém famoso e muitas outras coisas. Não a toa, muitos dos melhores foram derrubados pela fama (Kurt Cobain se matou, Eddie Vedder preferiu um retiro anti-musical, Bono parou por dois anos até entender que é preciso cinismo para lidar com a máquina, Ian McCulloch preferiu sair do Echo antes de estourar, o The Clash virou briga de egos, Axl Rose jogou cadeiras em jornalistas e por ai vai). Lauryn Hill chega ao seu segundo disco com o tema "sucesso" atravessado na garganta. Para isso, recusou-se a incluir uma músiquinha que fosse de seu multiplatinado álbum de estréia "The Miseducation of Lauryn Hill" tal como recusou acompanhamento de banda. "MTv Unplugged 2.0" são doze faixas inéditas, uma cover de Bob Marley ("So Much Things To Say") e uma canção tradicional do cancioneiro norte-americano ("Conquering Lion") levadas apenas no voz e violão, clean ao máximo. O resultado? Emocionante. Cantando o soul no que o soul tem de melhor (sim, alma), Lauryn não abre o coração, rasga o peito e mostra veias, artérias e sangue em longas conversas com a platéia (e porque não, conosco) que vão dos sorrisos da abertura ("Isto não é real. Eu não estou aqui") até lamentos contra a prostituição da fama ("Sei que o conteúdo dessas músicas é pesado. As pessoas querem fantasia. Mas precisam é encarar a realidade"). A tristeza toma conta da maioria das canções num quase protesto contra a fama que a universalização da palavra permitirá soar aqui, ali e em qualquer lugar como a invasão que todos temos em nossas vidas. É claro que a indústria faz o papel dela: empacota todo esse discurso e coloca nas lojas em forma de cd duplo. A música, o item mais importante, sai no lucro. Se fosse possível resumir os Estados Unidos em apenas uma artista hoje, essa artista seria Lauryn Hill. E isso não é pouco, meus caros, não é pouco.

Marcelo Silva Costa