'When I Said I Wanted To Be Your Dog', Jens Lekman
por
Juliana Zambelo
Foto: Site Oficial
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27/01/2006
E enquanto o mundo passava os últimos anos distraído por disco-punk,
guitarras angulares, pequenos emos e funk carioca, nasceu nos
recônditos da Suécia um indivíduo raro: um cantor pop romântico.
Seu nome é Jens Lekman. Calma, não se trata de mais um compositor
de folk pop desses que se proliferam com mais eficiência que
a gripe aviária. Ele vem de uma linhagem mais clássica, aquela
que tem gente como Frank Sinatra, passa por Bryan Ferry e Lloyd
Cole e parecia ter acabado em Stephin Merritt.
Lekman é um rapaz bonito, com olhar triste e uma aura de nostalgia
que não combina muito com seus vinte e poucos anos. Sua música
está perdida em algum ponto entre o pop orquestral e o indie
lo-fi. As letras, sempre sobre o amor, são simples, entregam
a mensagem sem muitos recursos estilísticos, mas com graça,
sensibilidade, uma ou outra bobagem e muita honestidade. A voz
de crooner de Jens, bela e expressiva, enche de amargura músicas
que trazem detalhes por si só melancólicos: piano delicado,
trompetes arrebatadores, uma harpa sonhadora.
Chegando aos cinco anos de carreira, ele já tem dois álbuns.
O mais recente é Oh You're So Silent Jens, que chegou
às lojas ano passado reunindo canções lançadas entre 2003 e
2004 em eps, singles e coletâneas raras, mas o melhor de Lekman
está no seu álbum de estréia, When I Said I Wanted to Be
Your Dog, de setembro de 2004. O disco chegou ao top 10
na terra natal do rapaz.
Parte da magia de Jens está nas oposições que carrega. Ele é,
na essência, atemporal, mas na prática é fruto do nosso tempo:
foi lançado por um pequeno selo e se tornou conhecido graças
à Internet. Suas gravações são caseiras e cheias de samplers
de sons dos instrumentos que ele não soube ou não quis tocar.
Tem ares de pop adulto (a ótima You Are The Light, com
naipe de metais e irresistível refrão pra cima, ficaria perfeita
na programação de qualquer Alpha FM da vida, ali entre Sweet
Caroline e alguma do Elton John dos anos 70), mas é inquestionavelmente
jovem (Do You Remember The Riots? fala sobre um romance
no seio das manifestações contra a globalização e anti-Bush
em Gotemburgo em 2001).
E Lekman expõe sem pudores seu coração novo, que acredita no
amor verdadeiro e, apesar de sofrido, é cheio de paixão e desejos.
"Eu cortaria meu braço direito para ser amante de alguém", canta
em If You Ever Need a Stranger. "Se você não segurar
minha mão, eu vou perder a cabeça, a loucura vai finalmente
me vencer", clama sob violinos e flauta em Maple Leaves.
Os backing vocals femininos enfeitam diversos momentos do disco,
mas é em The Cold Swedish Winter que eles ameaçam alcançar
o sublime. Lekman volta a tateá-lo na faixa-título, uma balada
embaçada sobre solidão, desamparo e devoção.
"Eu estava tão apaixonado que achei que tivesse entendido o
amor", confessa no final do álbum. Jens Lekman pode não saber
tudo sobre esse sentimento e talvez nunca saiba, mas dizem que
o que importa é o caminho. No caso dele, isso é muito provável
que seja verdade. Ele está investigando e, enquanto faz isso,
vai colocando em cada canção uma pequena descoberta, uma observação
ou mesmo um retrato corriqueiro que, ele sabe, são tão cheios
de significados para quem está amando. Não faltam detalhes a
esse tema, e parece não faltar talento a Jens para esmiuçá-los.
Tudo o que se pode esperar agora é que, depois de nos conquistar,
ele não parta nossos corações.
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