Entrevista - Os Gardenais
por André Azenha
Blog
27/06/2007

Na estrada desde 1992, os mineiros Caio Ducca (voz, guitarra e violões), Leo Moraes (guitarra e bandolim), Bruno Ducca (baixo) e Del Cabral (bateria) surgiram como Os Gardenais do Samba animando festas, seguiram no circuito independente e em 2001 soltaram "Sucessos Inéditos", estréia bacana, mas que ainda não alcançava completamente o som pretendido pela turma.

Após participarem do projeto Conexão Telemig Celular, correndo o estado de Minas Gerais dividindo o palco com Paralamas, Ludov e outras feras, eles colocaram o clipe de "Pra Quem Sabe" na MTV. E arregimentaram os competentes produtores Berna Ceppas e Kassin (Caetano e Los Hermanos), que assumiram a produção das doze pérolas que resultaram no ótimo "Lindo Triste Mundo", desde já um dos melhores lançamentos do ano no país.

O álbum é gostoso de acompanhar, tem um poderoso hit pra puxar a carruagem, a deliciosa "Eles Não Pensa em Mais Nada", e um baita time de colaboradores. Destaque para o trio de cordas mineiro formado por Aureliano Afonso Araújo (violino), Gláucia Barros (viola) e Antônio Maria Viola (violoncelo), regido pelo arranjador Hermínio de Almeida, e para os teclados de Alexei Michailowsky, representante brasileiro na Red Bull Music Academy, de Roma. Em papo com ao S&Y, Caio Ducca falou do início da banda, a produção do novo trabalho, Clube da Esquina e o "processo" para lidar com Lobão.

A banda começou com o nome Gardenais do Samba. Havia samba no som?
Esse nome veio porque eu achava engraçado alguns nomes do samba como Os Demônios da Garoa, Originais do Samba. Tinha bolado uma brincadeira, um roteiro para novela mexicana, chamada "O Candelabro dos Gardênias". Aí sugeri o nome. Estreamos como Os Gardenais do Samba, tocando exclusivamente rock. Mas samba nunca deixou de nos influenciar. Não somos belo-horizontinos típicos. Adoramos samba... A melancolia veio desta tradição do samba e das canções, e principalmente por eu estar sofrendo por um relacionamento acabado.

Como aconteceu a produção e a repercussão do primeiro CD? Me parece que a "cara" da banda ainda não estava completamente azeitada como no álbum atual...
O primeiro disco foi produzido em BH pelo Marcelo de Paula, um dos fundadores da Virna Lisi, banda mineira da década de 90. Fizemos num estúdio daqui chamado Engenho. Valeu porque foi uma escola. Aprendemos a compor, a trabalhar os arranjos, como gravar. E a imprensa deu muito espaço. Tanto que a gente entrou no projeto Conexão Telemig Celular seguinte. A gente tocou com o Lobão. O show foi grande. Além disto, participamos de shows e eventos com artistas mineiros que sempre assistíamos.

O Lobão não assustou vocês? (risos)
O Lobão...Bem, com ele é necessário um processo. No fim, ele saiu satisfeito. Acho que fizemos a quantidade de barulho suficiente.

Que tipo de processo?
A gente precisou conhecer o Lobão, conversar muito com ele, fazer programas de entrevistas com ele, passagens de som. Ele é um cara com uma personalidade fortíssima, e nem sempre está relaxado. A participação dele no Conexão daquele ano foi um dos pontos altos. Teve polêmica. O som do palco estava horrível, no fim de ano em BH chove muito, não tínhamos condições de tocar. O show foi adiado... E o Lobão estava bem empolgado com o discurso a favor dos independentes, e foi na época que saiu a obrigatoriedade da numeração dos CDs. Ao mesmo tempo, o Gil foi nomeado Ministro da Cultura. Ou seja: era muito assunto. Mas o rock também estava presente. Foi bem legal tocar com ele. Ele saiu com uma camiseta dos Gardenais. Curtiu também.

O fato do Kassin ter produzido e um pouco da sua voz e dos arranjos, fizeram com que rolassem comparações com Los Hermanos... Incomoda esse tipo de comparação?
Estas comparações não nos incomodam. Em primeiro lugar, nós não nos sentimos tão parecidos com eles assim. Então não há aquele tipo de constrangimento. Pelo contrário, a gente até compreende alguns motivos de ter havido comparação. O que nós gostamos, que é Beatles e MPB, samba, sempre foram influências naturais. Nós não forçamos para ficar parecendo ninguém.

Vocês se sentem parte da cena de Minas? Gostam de Clube da Esquina? Se dão bem com alguma banda tipo Pato Fu, Skank?
A gente não tem tanto contato com estas bandas. Conheço o Ricardo Koctos, baixista do Pato Fu, e o Aluízer, empresário deles. Nunca fizemos nada em termos musicais. Já o Henrique Portugal, do Skank, tem um programa de rádio na Rádio Oi FM, chamado Frente, em que toca músicas de bandas independentes. Ano passado tocou "Palavra Tímida". Aliás, na rádio Oi tem outro programa sobre independentes, o Ronca Ronca, produzido no Rio, que este ano tocou "Bailarina". Obrigado aos dois!

Fale da produção do "Lindo Triste Mundo"?
A gente não tinha produtor, empresário, e começamos a sentir que, passado o movimento causado pelo primeiro disco, a gente precisaria de outro empurrão. Procuramos o Kassin pela Internet. Telefonamos, ele disse que queria ouvir a demo. Falou que poderia nos receber no Rio no mesmo dia. Despencamos pra lá. Chegamos direto, com a demo na mão. Ele ouviu de madrugada. E topou produzir. Aí rolou a dificuldade: ele é muito ocupado. Ficamos com receio de 2004 acabar e as gravações não começarem. Aí rolou uma idéia: se o Berna aceitasse também produzir, a gente poderia começar a gravar enquanto o Kassin estivesse no Japão.

Os Gardenais têm influência do Clube da Esquina?
Basta ser mineiro para ouvir Clube da Esquina. Quanto a mim, o que mais ouvi e me tocou foi Milton Nascimento. Inclusive Leo e eu já tivemos aulas com o Wilson Lopes, guitarrista que acompanha o Milton. Acho que o Clube da Esquina não influencia os Gardenais. Mas digo isto por mim. O Leo gosta mais, sobretudo do Lô Borges. Os caras do Clube eram também fãs dos Beatles, se alguma coisa parecer próxima, pode vir daí.

Links
Ouça o álbum no site oficial: www.gardenais.com