Funk Como Le Gusta
ao vivo na Choperia do Sesc Pompéia - SP
por Marcelo Costa
Fotos - Karina Tengan
11/08/2003

Para quem gosta de funk e soul, impossível sair mal-humorado de um show do Funk Como Le Gusta. Primeiro porque a banda se diverte tanto no palco que chega a contagiar. Segundo, porque o repertório caprichado pesca clássicos da música mundial. E terceiro, porque poucas bandas hoje em dia tem estofo para tocar por mais de 3h30 sem que o público arrede o pé do salão ficando até o último bis e querendo mais.

A diversão sugerida nos três itens acima aconteceu na Choperia do Sesc Pompéia, em SP, com lotação esgotada em dois dias frios de julho. Com um público fidelíssimo na capital paulista, o time do Funk Como Le Gusta exercitou o funk como profissão de fé para uma platéia entusiasmada. Time porque onze integrantes lotavam o palco. E profissão de fé porque, característica da banda, os integrantes tocam de uniforme, como se estivessem ali para cumprir o papel de transmitir boa música aos ouvidos castigados do povo. 

A primeira vista, a banda lembra muito o filme/banda The Commitments de Alan Parker. O baixista e responsável pelo agrupamento dos músicos, Sergio Bartolo, chegou a dizer, certa hora, que a "a música não tem cor", parafraseando as idéias do mentor de Alan Parker no filme. É claro que a citação é meia verdade, e os falsetes de Little Cris durante o show só reforçam a velha máxima do músico Beck: "Entre um disco de um artista branco e outro de um negro, escolha sempre o segundo. Se o negro não tiver criatividade para compor, pelo menos vai ter aquele balanço incrível dentro dele". Suingue é para quem pode.

Dessa forma, o Funk é montado a perfeição. Dois branquelos com muita competência em seus instrumentos assumem a cozinha (o duo Karnak, Sergio Bartolo no baixo e Kuki Stolarski na bateria) com um negão colocando o molho sobre a mesa na percussão, o excelente James Muller. Um quarteto de metais entrosado e dois bons vocalistas seguram a peteca à frente do palco, enquanto uma guitarra e um teclado fazem a cama para o som deitar e rolar. Festa.

Não bastasse onze integrantes no palco, convidados mui especiais abrilhantaram a noitada. O rapper Xis mostrou entrosamento com a turma e mandou ver em suas mensagens. E Marco Matolli trouxe sua guitarra e seu (clube do) suingue para colocar a torcida em polvorosa. Foram, ao todo, 23 músicas. Passeando com muita propriedade por ritmos latinos, soul, funk e samba rock, a banda manteve o astral do público no alto. 

Só incomoda um pouco a opção por abrir os arranjos para cada integrante fazer um solo. Às vezes fica parecendo que a banda busca confete fácil, o que é um risco. Mas quando optam por tocar e tocar e tocar, o resultado são releituras emocionantes, como Funk Brother Soul de Gerson King Combo e a genial 16 Toneladas, clássico do samba-rock que foi gravado por Noriel Vilela no final dos anos 60 e que é uma versão da norte-americana Sixteen Tons, composta na década de 40. 

Enquanto prepara repertório para um vindouro segundo álbum, o Funk alegra noitadas frias com boa música, lotando espaços por onde passa sem precisar se vender a programadores de rádio movidos a jabá. O fato de ser um projeto paralelo (todos os integrantes tocam em outros grupos) facilita a vida destes trabalhadores, mas eles mereciam melhores salários pelo bem que fazem aos ouvintes. Pelo menos, salários melhores do que vários funcionários públicos do Governo Federal...