Franz
Ferdinand
por
Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
18/06/2004
O
que falar do Franz Ferdinand que já não tenha sido dito pela
imprensa mundial? A banda de moleques escoceses que, ao invés
de centrar foco em apenas uma influência, surrupiou inspirações
musicais de um dicionário de bandas cool está conquistando público
(a banda bateu Beyoncé nas paradas européias), famosos (Brad
Pitt é fã confesso) e roqueiros insuspeitos (abrir a nova turnê
de Morrissey não é, definitivamente, para qualquer um). Escarrando
clichês e tropeçando em riffs chupados, o Franz Ferdinand conseguiu
o impossível: a aprovação da imprensa.
Também, pudera. Seu disco de estréia, homônimo, que acaba de
ganhar edição nacional via Trama, é um compêndio de boas influências
usadas no estilo "Novo Rock": esqueça a personalidade e toque
como seus ídolos. O pós-modernismo reina. O pós-punk renasce.
Na discoteca do Franz Ferdinand há espaço para Public Image
Ltd, Gang of Four, Talking Heads, The Cure, Joy Division, New
Order, The Smiths, The Jam, Blondie, Devo, New Model Army (a
lista segue, infinita). Interessante: passado pela centrífuga
da história, antes de parecer com o exemplar original, o som
traz a memória suas cópias, como irmãos separados no berço.
Assim, no disco do Franz Ferdinand é possível identificar passagens
à la Interpol, Hot Hot Heat, Strokes, Rapture, Libertines, The
Walkmen, Radio 4, The Fever (a lista segue, blá blá blá).
"Às vezes, ouço grupos falando sobre as cinco bandas com as
quais elas gostariam de se parecer. Acho incrível que você queira
se restringir tanto assim. Queríamos ser uma banda de rock que
fizesse as pessoas dançarem também", contou o vocalista Alex
Kapranos em entrevista para a BBC. Segundo Kapranos,
a banda queria parecer com todos os artistas que constavam da
coleção de discos deles. "Formada por pelo menos 2,5 mil álbuns".
Essa adoração pelo déjà vu conduz os escoceses à libertação.
Compondo em território conhecido, os músicos conseguem criar
um painel pop de onze canções pungentes que, se não brilham
pela originalidade, alcançam seu intento primordial: divertir
e entreter.
Um ouvinte menos paciente vai achar que o Franz Ferdinand segue
na linha dos compatriotas do Belle and Sebastian, vide os quarenta
segundos iniciais de Jacqueline, faixa que abre o début
do grupo. Guitarras circulares, baixo melodioso e bateria dançante
surgem na seqüência para jogar o ouvinte no colo do movimento
pós punk do início dos anos 80. Tell Her Tonight lembra
Talking Heads, Gang of Four e The Jam, as três bandas na mesma
música. A introdução de Take Me Out, terceira música
do álbum, traz a memória, pasmen, Strokes. No meio, cola em
Rapture. Só ouvindo pra crer. Parece uma brincadeira: "de onde
nós tiramos isso?", sugere cada nova canção.
Em um mundo coalhado de dúvidas a respeito do futuro da música,
o Franz Ferdinand parece dominar os quesitos diversão e entretenimento,
artigos raros (caros) que merecem respeito. Sobretudo, os moleques
esbanjam conhecimento de cultura pop. Em um fragmento de espaço,
dizem que "fazem canções para garotas dançarem" enquanto escrevem
versos como "Michael, you're the boy with all the leather hips,
sticky hair, sticky hips, stubble on my sticky lips". O profissionalismo
chegou ao rock and roll, de terno e gravata, pronto para a guerra.
Se tudo acabar em uma pista de dança, ok. É tudo tão déjà vu,
mas daí você vai pra casa, pega um Fear of Music, Entertainment,
Unknown Pleasures ou um Second Edition e tem o poder
de colocar tudo de volta no seu devido lugar. Até a próxima
balada...
Enquanto isso, o Franz Ferdinand já prepara o sucessor do álbum
de estréia, com data prevista para chegar às lojas no início
de 2005. Com o fracasso do segundo disco do The Strokes, a expectativa
pelos novos discos do Interpol, The Rapture, Yeah Yeah Yeahs
e Franz Ferdinand aumenta, atiçando a expectativa do que a cena
"Novo Rock" (já não tão novo assim) ainda pode render.
Talvez tudo fosse diferente se fosse possível apagar da história
grupos como Radiohead, Wilco, Flaming Lips e Asian Dub Foundation,
contemporâneos que unem inventividade, criatividade e personalidade
com apreço pelo desconhecido. Como isso não é possível, em uma
análise sobre a música pop que é feita no mundo hoje em dia,
o Franz Ferdinand pode apenas ser apontado como a melhor das
bandas que reciclam os anos 80. A diferença entre os escoceses
e as melhores bandas do mundo é que as últimas reciclam o futuro.
Presos no passado, a cena "Nova Rock" ainda precisa fazer valer
o adjetivo "novo". Refém de suas influências, o Franz Ferdinand
é apenas o novo que soa idêntico ao velho. É bom, é divertido,
é dançante e é déjà vu. Para quem não está interessado em novidades,
basta.
Site Oficial do Franz
Ferdinand
Site Oficial da gravadora
Trama
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