"In Your Honor", Foo Fighters
por
Renato Beolchi
Email
27/07/2005
Em Mate-Me Por Favor (um relato sobre o nascimento do
punk na costa leste dos EUA no fim da década de 70), os autores
Legs McNeil e Gillian McCain dedicam a obra ao executivo, empresário
e jornalista Danny Fields, por ele ser o cara mais "cool do
pedaço". Não conheci Danny Fields pra saber, mas conheço Dave
Grohl e ele é disparado o cara mais cool do rock hoje em dia.
Dizer o que de um cara que - por puro tesão roqueiro - gravou
com Lemmy Kilmister do Motörhead, contentou-se em ser "apenas"
baterista em um disco do Queens Of The Stone Age em 2002, e
agora faz o mesmo no Nine Inch Nails, no mesmo momento em que
lança o CD duplo In Your Honor com sua banda titular,
o Foo Fighters? Cool ao máximo.
In Your Honor é um CD roqueiro, diferente, variado
e divertido. Mas, acima de tudo, é um disco legal, e pronto.
São vinte canções divididas em dois CDs (vendidos pelo preço
de um CD simples): um elétrico e um acústico. E os extremos
são levados às últimas conseqüências por Grohl. O que é para
ser roqueiro é rápido, pesado e gritado. Nos momentos em que
resolve ser melódico, a banda arma-se de uma harmonia que faz
a participação especial de Norah Jones quase desaparecer.
O álbum começa com a faixa título. A música vai ganhando densidade e velocidade e culmina num final explosivo. O track list segue com No Way Back e Best Of You, duas canções bem rápidas, mas que são um prato cheio para as FMs. Já em D.O.A. e Hell os vocais gritados de Grohl ficam também roucos. The Last Song é mais um filé para tocar em rádios: música de 3 minutos com um refrão que gruda na cabeça.
Até aqui, tudo que se ouve é um Foo Fighters diferente de seus outros cinco álbuns. Grohl nunca explorou tanto sua voz quanto nesse disco. As duas últimas canções do CD plugado apresentam um terceiro Foo Fighters: o que toca pesado músicas lentas. The Deepest Blues Are Black e End Over End são músicas tristes em suas letras e melodias. Mas a mão pesada do baterista Taylor Hawkins não deixa que as canções virem lamentos quase-roqueiros.
E em 10 segundos - tempo aproximado que alguém normal leva pra
trocar rapidamente um CD no aparelho de som - Grohl causa nova
revolução. O segundo disco, desplugado e suave, cura todos os
hematomas. São mais dez canções que dá vontade de ouvir deitado.
Começa com Still, uma balada sussurrada por Grohl e que
quase dá pra acreditar que o roqueiro ouviu muita coisa de João
Gilberto antes de gravar. Em What If I Do? e Miracle
a banda pisa levemente no acelerador em duas faixas que flertam
mais com o pop e com a possibilidade de chegar - novamente -
às FMs.
Hora de frear. E o Foo Fighters faz isso em Another Round, uma música lenta e densa que chega a ter um clima até pesado. Aura soturna que segue pela seqüência Friend Of A Friend, Over And Out e On The Mend. Para fazer o contraste, chega a voz e o piano de Norah Jones e o violão de John Beebe em Virginia Moon. Aqui sim Grohl realmente gastou o CD de João Gilberto de tanto ouvir. A baladinha é bossa nova sem retoques, e cantada em inglês.
Hora de descontrair. Grohl assume a bateria e Hawkins vai para
os vocais, o que rende Cold Day In The Sun, a faixa mais
agitada do segundo disco. Ainda dá tempo de mais uma e Razor
vem fechar o álbum de forma brilhante. Como uma navalha,
a faixa só no violão dedilhado e voz põe ponto final na seqüência
musical de mais de 80 minutos de In Your Honor.
Mostrando que tem pique para serviços múltiplos (que ainda incluem gravar com Killing Joke e Garbage, entre outros), e parecendo que se diverte muito com tudo isso, Dave Grohl é a antítese do rock star que sofre por ser famoso. Ex-baterista de uma das últimas grandes bandas que o Planeta Terra assistiu, Grohl usa sua fama pelo rock and roll, e passa seu tempo livre com amigos em estúdio (ou no palco com gente como David Bowie e Brian May). Nas horas vagas, grava um punhado de canções, seleciona 20, e coloca um disco duplo excelente no mercado. Extremamente cool.
Seja pela guerra do CD um ou pela paz do CD dois, In Your Honor surge como um dos grandes discos do ano e é a trilha sonora perfeita para casais sem muito diálogo.
Leia Também
"With Teeth",
do Nine Inch Nails , por Marcelo Costa
Link
Site Oficial Foo Fighters
|