"Cativeiro", do Folhetim Urbano
por Leonardo Vinhas
Email
21/02/2007

Os irmãos Carlos (voz e guitarra) e Renato Zubek (baixo cheio de variantes, caminhos tortuosos e inspirações jazzísticas), mais o baterista Marcelo Tchychy (agora substituído por Lucas Baumer), estão juntos desde 2005 e já vem dessa época a peleja para registrar em estúdio as cinco faixas que compõem o EP Cativeiro, lançado de forma independente.

"Guerrilha" havia sido disponibilizada em versão demo no TramaVirtual, quando o grupo ainda atendia por Sabadá e já chamava a atenção pelos grooves solapados de baixo e pela guitarra que rockeava para caminhos desconhecidos a partir de inspirações setentistas. O vocal agudo do convidado Linari (La Carne) trazia a urgência e a convocação aos versos cínicos, fosse na ponte que diz que aqui "só tem índio" ou no refrão que prometia que "quem matar mais americano, mais medalha no peito".

Essa faixa ganhou produção mais pesada e o sax dissonante de Paulinho Branco e abre o CD no susto, seguindo sem descanso até o último suspiro do sax. "Avon", dedicada ao controverso avô dos irmãos Zubek, prova que música não é só profissionalismo - ela ainda requer grande dose de entrega e abandono, sem que isso signifique autodestruição. Só ouvindo para entender como os versos "não feche os olhos pra sonhar / não pare para descansar / a vida segue / e procura o fim / sozinha" perdem a aura ingênua para virar declaração de vida sem qualquer afetação. A guitarra contribui muito para tanto, mas o xeque está no vocal, que ainda entoa o precioso verso "ainda ouço o teu sorriso".

Versos mais densos estão em "Frases, Fases e Tempestades", uma canção cortante, conduzida com menos urgência, mas sem significar descanso. "São os dias engolindo as idéias / tempestade que não passa mais / Ontem eu vi alguém que se ama / Isso é raro e já não toca mais". Internet, pressões profissionais, ditadura estética, a TV exercendo a função de canção de ninar adulta, a rotina para pagar as contas e a diversão para esquecer das dívidas, ansiolíticos e pílulas para todos os males, até os que não são maus; tudo isso levando o Homem numa enxurrada e fazendo-o soterrar-se na nulidade de sua própria rotina.

"F de Todos Nós" traz mais um La Carne, agora Jorge Jordão, para correr com sua guitarra sobre tudo enquanto a independência social declarada pelo crime, representado por Fernandinho Beira-Mar, ganha ares de vingança contra a sociedade que exclui os que nasceram do lado errado da calçada. "Sabadá" era para ser canção-tema dos primórdios, mas é um hard-rock que passa batido frente aos quatro outros monolitos saltenhos que já te envolveram.

Só isso. Só cinco faixas. No máximo, pode-se dizer que algo está iniciando aí. Uma combinação de circunstâncias e emoções banhada por inspiração. As cinco músicas podem ser baixadas gratuitamente no site oficial do grupo, linkado logo abaixo. Fique atento: nem tudo é mercado.

Site Oficial