"Some Cities" - Doves
por Juliana Zambelo
B*Scene
01/03/2005

Apesar de já estar hoje um pouco esquecido, The Last Broadcast foi um dos discos do ano em 2002. A beleza de suas baladas atmosféricas e a batida das faixas mais pesadas formavam um conjunto fascinante, e o lindo trabalho gráfico os embalava com classe. O álbum até chegou a ser lançado no Brasil.

Três anos depois, o Doves, trio de rapazes de Manchester, enfim lança o sucessor. Some Cities chega agora às lojas tentando repetir a dose, consolidando a personalidade da banda sem dar passos muito largos. Mas o grupo vai ter que despertar aqueles corações conquistados tempos atrás, pois talvez seja difícil chamar a atenção da molecadinha hoje para esse tipo de som.

Porque o Doves continua fazendo um rock do tipo limpinho e essencialmente - e cada vez mais - épico. Como um Manic Street Preachers bem comportado e despolitizado, o Doves se revela o mais aplicado herdeiro do U2. Pop rock bem feitinho, com timbres parecidos aos dos irlandeses; um vocalista de potência suficiente para convencer nos momentos mais sérios e nos refrãos expansivos; um guitarrista que vai tranqüilo, em dedilhados modestos, para vez ou outra se revelar o principal trunfo da banda. Doves tem um pouco mais de bagagem psicodélica e um pouco menos de religiosidade, mas vez ou outra chama por Deus no meio de suas letras. Apenas a ausência de defesa de causas humanitárias deixa o Doves menos uncool do que Bono e seus comparsas.

Com produção mais básica que o de costume na carreira da banda, Some Cities apoia-se muito mais nos três instrumentos do que em efeitos eletrônicos, barulhinhos, teclado ou arranjo de cordas. Mas ele perde quando comparado ao trabalho anterior. Nele as faixas lentas, de paisagens etéreas, são em menor número e mais fracas, passando mais como breves momentos de pouca importância dentre as músicas mais grandiloqüentes - quando em The Last Broadcast um equilíbrio tinha sido alcançado.

Desde sua estréia em 2000, o Doves está cada vez menos melancólico. Abrindo com a faixa-título, o disco começa empolgante, com um trio de músicas que o seguram lá no alto e são capazes de te manter dançando. A bateria de Andy Willians vem forte e alta, como já é característica da banda, a guitarra de Jez Williams tem bastante distorção e Jimi Goodwin força uma voz rouca. Black & White Town é a que mais leva jeito de hit, enquanto Almost Forgot Myself ganha toques mais suaves sem perder a pegada.

Então, após a quarta faixa, o álbum deixa poucas surpresas. Como Walk on Fire, tão parecida com There Goes the Fear (single de maior sucesso do disco anterior), que juntas poderiam formar uma suíte. Alguns pontos altos ainda aparecem no restante do álbum, assim como os primeiros continuam lá e durante este ano serão, no mínimo, ótimos singles. O disco completo deve sair no Brasil em breve. Vale uma espiada.


Doves - Site Oficial