Entrevista: DoAmor
por
Tiago Agostini
Blog
18/09/2008
“Não tem nada de cabeçudo na parada, é tudo de coração, sincero. Não tem preocupação conceitual, é uma festa.” É em cima do palco que a afirmação de Ricardo Dias Gomes, baixista da banda carioca Do Amor, faz o maior sentido. Quando ele, Gustavo Benjão (guitarra), Gabriel Bubu (guitarra) e Marcelo Callado (bateria) – os quatro cantam – tocam juntos, a festa de ritmos está armada. Metaleiros, micareteiros, indies, não tem quem não dê pelo menos uma balançada nas cadeiras.
Há duas informações básicas que quase sempre acompanham qualquer comentário sobre o Do Amor. A primeira é em relação ao passado musical: os quatro tocam ou tocaram em diversas bandas e com artistas extremamente respeitados – Marcelo e Ricardo fazem parte da atual banda de Caetano Veloso, Bubu acompanhou o Los Hermanos, Benjão já tocou com Lucas Santana e Totonho e Os Cabra, entre tantos outros. A segunda é que a banda mistura em sua equação sonora o maior número de ritmos e estilos musicais possíveis, do heavy metal ao carimbó, do punk ao axé, do hard rock ao frevo. Sem desafinar ou perder a linha em qualquer momento.
De alguma forma essas duas características intrínsecas ao Do Amor têm tudo a ver uma com a outra. “Crescemos tocando em outras bandas e, de alguma forma, nossas influências vêm daí”, analisa Ricardo. De cada experiência profissional eles foram agregando alguma coisa em sua formação, não apenas musical. “Aprendi com o Los Hermanos a ter uma certa organização, vender as coisas no show, coisas que a gente não fazia com o Carne de Segunda (banda anterior ao Do Amor que contava com Bubu, Marcelo e Benjão)”, conta Bubu. “E os contatos que a gente constrói com as outras bandas servem pra gente também”, completa Marcelo.
Sentados na mesa do restaurante ou em uma conversa pós-show, os quatros transparecem uma naturalidade enorme no relacionamento, entre si e com os outros. Talvez seja o jeito carioca de ser. Não há momento em que não haja sorrisos nos rostos ou uma piada a cada cinco minutos. Espontaneidade, coisa que se reflete no som e nas apresentações. Os quatro parecem estar à vontade o tempo inteiro, principalmente juntos. Há uma segurança em relação ao trabalho e à banda diferente do que normalmente se encontra. Coisa de quem se conhece desde moleque, que convive desde as peladas na zona sul carioca.
Algo que se reflete no momento das composições. “É uma coisa bem despretensiosa, de fazer a musica e jogar pra fora, sendo boa ou ruim. Um processo de construir idéias, acho mais divertido ver o que acontece, deixar aquela coisa não fazer mais parte de você”, explica Bubu. Assim, com cada um colocando um elemento novo, experimentando enfoques, eles constroem um estilo único de não soar repetitivo em momento algum. “Quando a banda se prende a um gênero fica algo político até. E isso não é ruim, mas a gente não tem compromisso em seguir nada, a gente gosta igual de muitos estilos”, resume bem Ricardo.
Tudo isso estará registrado no primeiro disco da banda, que deve sair até o começo do ano que vem. Gravando com o produtor Chico Neves, que trabalhou com o Los Hermanos no disco “Bloco do Eu Sozinho”, eles não tem pressa. “Vamos fazendo no nosso ritmo, conciliando um monte de coisa, porque tá sendo feito meio na camaradagem”, conta Marcelo. “E tem uma coisa relevante do processo de gravação, de registrar a banda naquele momento, os arranjos de cada música”, completa Bubu.
Certo é que a banda é o grande destaque do cenário independente em 2008. Mesmo sem nenhum dos quatro ter previamente estabelecido, 2008 é o ano do Do Amor. Com a parada por tempo indeterminado do Los Hermanos e o fim da turnê do disco Cê, de Caetano Veloso, os quatro puderam se dedicar mais à banda. “Não que antes a gente não se falasse. Estávamos viajando, mas sempre trocando e-mails, dois dias depois que o Marcelo e o Ricardo chegaram da turnê do Caetano a gente já tinha show marcado”, diz Benjão.
O resultado são diversas apresentações por todos os cantos do
país. Só em São Paulo já foram mais de dez neste ano, fora a
participação em alguns dos principais festivais independentes
do Brasil até agora – Bananada, Casarão, Calango e Se Rasgum
no Rock. E não devem parar. “Esse ano a gente tá tentando usar
todo o tempo livre pra banda. Vamos correr atrás, mesmo que
bata com outra coisa”, afirma Benjão. “Quem quiser trabalhar
com a gente agora vai ter que conviver com a banda”, completa
Ricardo.
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