Modelo Para Enganar (Quem?)
por
Leonardo Vinhas
leonardo.vinhas@bol.com.br
16/06/2003
Você liga a ignição
do seu carro, um Interceptor quase igual ao visto no filme "Mad Max II",
só que mais potente e pintado em tons agressivos de preto e vermelho,
e sai desembestado por uma paragem escangalhada e cheia de buracos, mas
ainda assim instigante.
Quando menos percebe, crê estar
diante de um cenário australiano já conhecido mas logo é
surpreendido com uma sensação incomum de familiaridade. Uma
certa calmaria permite a você reconhecer melhor o cenário
que você vê, e é quando seu motor desacelera como que
para acompanhar seu reconhecimento.
Vez ou outra, ele ronca um pouco mais
forte, mas sem dar sinais de problemas. Você se empolga e dá
umas pisadas quase seqüenciadas no freio. Continua a sensação
de que você já fez isso outras vezes, porém há
coisas diferentes. Novas.
É hora de começar a
ver o que seu carro pode fazer. Você brinca com os recursos dele,
muda marchas e velocidades de forma quase desencontrada: acelera ao máximo
com a segunda engatada, deixa o pedal livre na quarta, arrisca cavalos-de-pau
numa reta e deixa de virar o volante nas curvas. Seu Interceptor começa
a brincar com você também, parecendo ter comandos próprios.
Você está decididamente
empolgado e, julgando dominar seu veículo, segue em frente fazendo
tudo o que havia feito até agora e um pouco mais. É quando
entra uma interferência em seus sistemas e o motor pára. A
inércia arremessa o cockpit para longe, deixando o chassi fincado
no chão.
Capotando junto com a cabine, você
é arremessado sem um arranhão em uma praia industrial de
rara beleza, onde é inevitável que você tome uma pausa
em uma rocha, para apreciar melhor a paisagem. Depois de longa contemplação,
você se depara com estranhas estantes para palavras pouco usadas
mas de grande complexidade. Sobressaindo do aparente formato padrão,
destacam-se belos ornamentos diversificados que, devidamente aditivados
por ruídos que saem das conchas desse litoral, formam um colorido
altamente distinguível e singular.
Até agora, se não é
a melhor viagem que você fez até hoje, certamente é
uma das mais desafiadoras e empolgantes. Só que o sol que ficou
entre o ofuscante e o difuso o tempo todo está ameaçando
se pôr. E aí, será que você sabe voltar para
casa? Antes de responder a essa pergunta, indague-se: será que vale
a pena voltar depois de tudo o que você viu? Fique por aqui. Ainda
há mais para descobrir.
[roteiro de audição
para Model To Deceive (Highlight Sounds), segundo disco do quarteto paulistano
Diagonal].
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