Entrevista - Debate
por André Azenha
Blog
14/11/2007

Na ativa desde 2004, o trio paulistano Debate, integrante do cast da Amplitude Musical, de artistas como Elma, pexbaA, Satanique Samba Trio, SOL, Fossil e Lacertae, já possui um EP bastante elogiado pela crítica na praça, cujas seis faixas passeiam pelo rock setentista em cerca de meia hora, mesclando guitarras altas, vocal visceral, algumas pitadas de jazz e uns toques de música brasileira, com letras cantadas/berradas em português.

Sérgio Ugeda (guitarra e vocal), Richard Ribeiro (bateria) e Marcelo Mandaji (baixo) deram acabamento ao trabalho nos EUA, no Magpie Cage Studios, do produtor J. Robbins, e no Inner Ear Studios, por onde já passaram bandas como Fugazi e Bad Brains.

A produção na terra do Tio Sam faz parte da estratégia da banda em estabelecer carreiras sólidas por aqui e no exterior. Em outubro, os três realizaram a segunda turnê por aquelas bandas. Foram onze shows, incluindo o CMJ - Music Marathon & Film Festival, que acontece há 27 anos em Nova York.

Entre março e abril desse ano, na primeira jornada internacional, deram vida ao seu novo disco com o produtor J.Robbins, quando gravaram uma sessão com um dos papas do rock alternativo Steve Albini, em seu estúdio Electrical Audio, em Chicago. Estas músicas estarão presentes em um vinil previsto para 2008.

Em papo com o Scream & Yell, Ugeda comentou as duas turnês internacionais, o encontro com Albini, os planos para o próximo ano – que devem incluir o lançamento de um CD e mais shows fora do país – e as dificuldades de tocar numa banda independente. "Nós ainda tomamos calote de pessoas mal-intencionadas quando devemos receber R$ 200 por um show, então estamos muito longe de 'viver apenas da banda'", diz o guitarrista, que, ainda assim, faz questão de ressaltar: 'Pretendemos permanecer no circuito independente".

Como foi a última turnê no exterior?
Qual a diferença da recepção do público estrangeiro para o brasileiro?

A rigor, não existe grande diferença do público quanto ao número ou quanto ao comportamento durante os shows. Mas existe uma diferença em estrutura: marcar shows é mais fácil, receber por isso é mais garantido e a garantia de que seu trabalho terá continuidade e só dependendo de você é mais clara. Ainda assim, voltando ao público, a cultura é a palavra-chave: as pessoas sabem o que o seu trabalho significa, respeitam isso e sabem consumir do modo certo. Lá o conceito de independência sustentada por jovens existe há muito mais tempo e é muito mais enraizada na vida das pessoas de forma definitiva – até porque lá é mais comum para um jovem ter condições econômicas mínimas para consumir esse “bem” - que é a música - com muito mais freqüência do que no Brasil. Por aqui, sempre fica a sensação de que estamos fazendo algo que ninguém realmente quer – ou, financeiramente, pode - consumir .

O primeiro EP mescla rock com outros gêneros musicais.
O que podemos esperar do próximo trabalho?

Uma continuidade da mesma proposta. Esperançosamente melhor elaborada e mais definida.

Por que a idéia de lançá-lo também em vinil?
Vamos lançar em vinil apenas a sessão realizada em Chicago com o Steve Albini para vender apenas durante nossos shows. É a chance das pessoas levarem um show do Debate para casa já que gravamos tudo literalmente ao vivo. E uma vez que todo o processo de gravação e mixagem foi feito analogicamente, faz sentido que a masterização e a experiência de ouvir estas músicas também sejam assim.

Como foi o encontro com Steve Albini? Ele deu conselhos em relação ao som do grupo?
Houve algum aprendizado?

Tivemos 12h dentro do estúdio com ele para gravar e mixar seis músicas. Não havia tempo de pedir nenhum conselho e, como ele mesmo faz questão de colocar, ele é um engenheiro de som, e não um produtor. Logo imagino que ele jamais faria qualquer tipo de comentário remotamente próximo a um conselho. Quanto ao aprendizado... Bem, foi interessante aprender um pouco de como ele obtém a ambiência maravilhosa e tão característica em seus trabalhos.

Quais artistas valem a pena na música brasileira?
Limitando a uma lista com seis: pexbaA, Maqno, Hurtmold, Satanique Samba Trio, Hierofante Púrpura e Garage Fuzz.

Atualmente todos os músicos vivem apenas da banda?
Quais são as dificuldade de fazer parte de uma banda independente?

Nós ainda tomamos calote de pessoas mal-intencionadas quando devemos receber R$ 200,00 por um show, então estamos longe, muito longe de "viver apenas da banda".

Quais os projetos, além do disco, para 2008? Outra turnê no exterior? Uma turnê caseira?
Deve ser lançado pelo menos mais um disco – desta vez não um EP – em 2008. Sobre turnês, vamos tocar onde formos convidados. Já recebemos o convite do SXSW, festival no Texas onde tocamos em março deste ano. Então é provável que iremos para os EUA para terceira vez.

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