Dandy Warhols
por
Marcelo Costa
01/08/2003
Antes
de entrar no bate papo "eu comigo mesmo" que o vocalista sex-symbol
Courtney Taylor-Taylor distribuiu como release para o disco
novo de sua banda, o The Dandy Warhols, algumas coisas precisam
ser ditas. A primeira, e infame, é de que Courtney é
homem (até onde se tem notícia), apesar de ter
o mesmo nome que a musa de Kurt Cobain. Isso porque a semelhança
enganou os pobres tradutores da gravadora brasileira, que tascaram
"fiz uma entrevista sobre mim mesma".
Segundo: a banda saltou de um culto indie nos dois primeiros
álbuns para um sucesso relativo com o terceiro, Thirteen
Tales From Urban Bohemia, o que não catapultou
o grupo para o mega-estrelato, mas lhe rendeu elogios de pessoas
ilustres como David Bowie, Robert Smith e Joe Strummer.
Terceiro: finalmente a EMI brasileira não comeu barriga
e lançou, simultaneamente a EUA e Inglaterra, "Welcome
To The Monkey House" no país. O anterior, só importado,
não tem choro.
Quarto:
discaço.
Quinto:
com a palavra, Courtney Taylor Taylor
Rock.
A última fronteira.
Essas
são as jornadas dos Dandy Warhols. Levar novas vidas desconhecidas,
buscar novas situações, ir aonde nenhuma banda jamais
foi…
Mas não sabíamos que grande parte de nossas fantasias
de rock and roll seria gasta trancados em quartos de hotéis
do mundo todo respondendo às mesmas questões repetidamente.
Bem, enquanto os meses, anos passaram percebemos que essas perguntas
diferiam mais no sotaque que no conteúdo. "Como
pode ser", você pode perguntar. Bem, deixe eu lhe
contar, a biografia.
Sim,
tudo que você disser em sua biografia voltará para
te assombrar em uma infinita barreira de densos e coloridos
sotaques mundo afora, repetidamente. Então, na tentativa
de poupar a todos um pouco do sofrimento (motivo pelo qual os
The Dandy Warhols fazem tudo que fazem), eu, Courtney Taylor
Taylor, fiz uma entrevista sobre mim mesmo e foi assim que saiu:
Q:
Então você diz em sua biografia que o rock é
a fronteira final. Isso ainda é verdade?
A: Bem, é, sim, eu acho. Quer dizer, eu realmente não,
é... não sei. Qualquer coisa pode ser…… quer dizer,
ah, sei lá. É simplesmente uma besteira dita em
uma biografia. Acho que é a última fronteira se
você achar que sim.
Q:
Ok, vamos em frente. Este é seu quarto disco. O terceiro
pela Capitol Records. Houve um álbum que a Capitol rejeitou
por ser muito "surreal"?
A: Não, na verdade nunca finalizamos nosso primeiro álbum
da Capitol. Os mixes crus foram compilados no que geralmente
se chama de The Black Album. De vez em quando está
disponível na internet, mas na maior parte do tempo é
difícil de encontrar. Eu, por exemplo, procurei pelo
meu há duas semanas, mas acho que o perdi.
Ok, entendo. Então da onde veio o nome?
A: Você fala sobre The Black Album?
Q:
Não, "The Dandy Warhols." A:
Ah, isso é fácil. Tinha esse pintor nos anos 60,
e fica bem claro se você pegar esse nome e...
Q:
Sim, sim, Andy Warhol, eu sei. Ok, pergunta estúpida.
Não há um maior significado, então?
A:
Só se você for o tipo de pessoa que precisa de
maior significado, mas por mim basta. Próximo assunto.
Q:
Ok, então como e quando vocês se conheceram?
A:
Todos crescemos na área de Portland. Pete e eu éramos
amigos desde a escola, Zia trabalhava em um café local
com algumas de outras amigas minhas e Brent é meu primo.
Acho que a banda foi idéia do Pete. Ele havia voltado
de Nova York e considerou que seria uma forma fácil de
conhecer gente com melhor gosto para música que acompanhasse
bebidas que as pessoas com que estávamos bebendo na época.
Q:
Você disse "música para acompanhar bebidas"?
A:
Sim, as pessoas precisam de boa música para beber, mas
antes que você leve isso para um lado ruim, deixe-me dizer
que toda música boa é boa em todas as horas.
Q:
Entendo. Bem, correm rumores de que estrelas como David Bowie,
Robert Smith, o falecido Joe Strummer e Trent Reznor todos foram
fãs dos Warhols. Isso significa que você faz música
boa? Para acompanhar bebidas ou outra coisa? A:
Bem, um não necessariamente segue o outro, de fato fazemos
boa música. Para acompanhar bebidas ou outra coisa.
Q:
E é claro que temos um egocentrismo sobre isso também.
A:
Claro, qualquer coisa.
Q: Seu último disco Thirteen Tales From Urban Bohemia
foi uma grande sucesso. Tornou-se ouro e platina na Europa e
Austrália. Como você explica isso? A:
Não explicamos.
Q:
E com o novo álbum?
A: Na realidade ainda não sabemos, mas foi muito divertido.
Acho que isso é parcialmente porque nosso disco chama-se
Welcome To The Monkey House (Bem-vindos à Casa
dos Macacos).
Q:
Você diz "parcialmente". Então quais são
as outras razões? A:
Bem eu não sei. Quem se importa? Não pensei muito
sobre isso e é apenas um modo de falar. Não é
como se fosse um deslize com o qual você vai descobrir
uma grande conspiração governamental estilo Richard
Belzer ou algo assim. É mais possível que você
simplesmente entedie ainda mais muitos leitores e vai parecer
que a culpa pelo tédio é minha.
Q:
Um pouco temperamental, não? Talvez você tenha
uma grande insegurança sobre ser entediante e é
isso que estou revelando. A:
Ou talvez a única coisa que salvaria essa entrevista
chata seria se eu me levantasse agora mesmo e te desse um chute
no traseiro.
Q:
Você não pode. Porque eu sou você. A:
É, talvez você tenha conseguido toda a informação
pertinente de que precisa e agora está me entediando.
Essa entrevista acabou.
E
então eu saio do quarto.
Então
aí está. Nossa nova biografia.
Com carinho, Courtney Taylor-Taylor
"Welcome To The Monkey House"(The
Dandy Warhols)
por
Marcelo Costa
Esse
tal de Courtney Taylor Taylor é um tremendo cara de pau.
Não, não estou falando isso por ele ter usado a
artimanha acima de se auto-entrevistar. Digo isso porque o cara
parece estar pouco se fodendo para o mundo, para o que os outros
vão pensar e para a crítica especializada. Só
isso explica um disco tão sensacional como Welcome To
The Monkey House.
Porque Welcome é um guinada na carreira da banda.
Ela, que posava de filhote do britpop dos anos 90 em álbuns
como o genial Come Down (1997) e o excelente Thirteen
Tales From Urban Bohemia (2000), voltou uma década
para presentear o mundo com o álbum mais anos 80 desde
os anos 80.
Eu, pessoalmente, tendo a desvalorizar grupos que mudem radicalmente
de um disco para o outro, mas, neste caso, é impossível
não festejar, tamanha a qualidade do repertório.
Também, não dá para dizer que a mudança
foi assim tão brusca. Ok, as guitarras, que tanto faziam
pelo som da banda, desapareceram ou ficaram beeeem escondidas.
Mas o teclado oitentista já marcava presença no
álbum anterior, em canções como Godless.
Para colaborar na coloração dançante do
álbum, o Duran Duran Nick Rhodes co-produz o disco, toca
teclados em muitas faixas e trouxe o amigo Simon Le Bom para
fazer backing em Plan A. As participações
não param por ai: Nile Rodgers, guitarrista do Chic,
esmerilha seu instrumento na chicletuda I Am A Scientist,
faixa assinada por David Bowie e Courtney que conta com sampler
de The Fame, e o ex-Lemonheads (ou o Lemonheads) Evan
Dando que também divide a composição de
uma música, You Were The Last Night, com Courtney,
duas únicas parceria presentes no disco (todas as outras
músicas são do vocalista/guitarrista).
A ultra-referência não se restringiu às
canções. Para a capa, a banda uniu os dois mais
famosos trabalhos artísticos de Andy Warhol no rock:
a banana do álbum Velvet Underground & Nico
(1967) com o zíper de Stick Fingers dos Rolling
Stones (1971) em um resultado bem legal. Não dá
para apontar uma canção apenas, talvez o primeiro
single, We Used To Friends, o que desmerece todo o álbum.
Welcome To The Monkey House é um dos poucos discos
nos últimos tempos que merece o adjetivo "matador". Esse
tal de Courtney Taylor Taylor é um tremendo cara de pau
estiloso.
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