Curitiba Rock Festival + Tim Festival 2005 Ou a melhor temporada de shows de todos os tempos
por
Marcelo Costa
Fotos: Strokes (Tim Festival Divulgação) Mercury
Rev e Weezer (CRF Divulgação) Elvis Costello (Amanda
França/Speculum)
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02/11/2005
Nunca
houve uma temporada tão farta de shows no lado debaixo do Equador
como a que estamos presenciando neste segundo semestre de 2005.
Se compararmos, então, com o primeiro semestre, a sensação é
de que estamos no paraíso musical, tamanha a variedade, qualidade
e quantidade de grandes shows que estão deixando contas bancarias
em vermelho tanto quanto levando pessoas de um lado para outro
neste imenso País chamado Brasil. Do Campari Rock, em setembro
- com um ótimo show do duo Kills, uma apresentação mediana do
MC5 e qualidade de som questionável - até o Claro Que é Rock
no final de novembro, mais de duas dezenas de grandes nomes
da música internacional terá passado por nossas terras em festivais
como Curitiba Rock Festival, Nokia Trends, Tim Festival, Resfest,
o citado Claro Que é Rock, e apresentações isoladas como as
do duo Stereo Total e do histórico Pearl Jam. O S&Y não pôde
(e nem poderá) estar em todos os lugares ao mesmo tempo agora,
mas vai procurar dar uma pequena pincelada no que de melhor
(e pior) andou encontrando nos palcos nos últimos tempos. No
final, a gente junta tudo com a cobertura de alguns sites amigos,
só para registrar para a posteridade o quanto a briga de empresas
telefônicas pode ser útil para a música pop. E o Wilco veio.
E foi. Será que eles voltam?
Curitiba Rock Festival - 24 e 25 de setembro
Fotos:
Mercury Rev (Marcelo Costa /S&Y) Weezer (CRF Divulgação)
Mais de 3500 pessoas em um dia e 2200 no outro, muita gente
de fora da cidade. No entanto, o agito em Curitiba começou mesmo
com pouco mais de 100 pessoas espremidas no pequeno bar Motorrad
para a primeira edição do festival independente Tinidos, que
esquentava os motores para o badalado CRF. O Tinidos aconteceu
nos dia 23, 24 e 25 de setembro, mas os dois últimos dias acabaram
se chocando em horário com o CRF, o que não impediu de afastar
um bom público do Motorrad. A abertura, no entanto, na sexta-feira,
sem "concorrência", lotou o festival da jovem revista eletrônica
curitibana que destacava shows das bandas Poléxia, Ludov e Relespública.
Uma das sensações da cena curitibana nos últimos anos, a Poléxia
exibiu maturidade, punch de palco e canções cantadas em coro
pelo público ao tocar o seu autodenominado "pop alternativo".
Com domínio sobre a audiência, o quarteto exibiu um show perfeito,
em que os destaques foram a cover de Odair José (A Maça e
a Serpente, presente no tributo em homenagem ao cantor)
e a dobradinha Melhor Assim/Garoto de Aluguel,
pungentes, fortes e simplesmente arrepiantes. Junto às boas
canções do álbum O Avesso (download
gratuito no site da banda), a Poléxia apresentou uma música
nova, Inércia, que, no entanto, mostra que os curitibanos
começam a seguir por um novo caminho, e andam ouvindo bastante
Los Hermanos (a banda mais influente na música nacional desde
os Cascavelletes). Mesmo assim, o refrão da excelente Garoto
de Aluguel ficou ecoando por vários dias na cabeça: "Eu
vou te dar o seu prazer / Mas com amor é mais caro / O meu amor
é mais caro / Me diz quanto você pode pagar".
Na seqüência, o Ludov trocava os "grandes" palcos em que anda
se apresentando para adentrar carregando seus próprios instrumentos,
pedindo licença para o público para chegar ao local da apresentação,
ligar seus instrumentos e contagiar o público com um dos grandes
shows brasileiros da atualidade. Vanessa se firma, cada vez
mais, como a grande cantora do rock nacional. Habacuque alterna
bons solos, parece cada vez mais seguro ao cantar seu momento
solo no show (a boa Elastano) e até se soltou a ponto
de puxar (e cantar) uma cover de Cabelos Cor de Jambo,
do mestre Frank Jorge. Mauro se alterna entre a guitarra, o
microfone e os teclados com extrema habilidade, tornando a fofa
Sete Anos um dos grandes momentos da noite. Paulo (bateria)
e Edu (baixo) completam o time de uma das melhores formações
instrumentais do País. Mas o melhor ficou mesmo para o final
com a dobradinha A Primeira Vez (extremamente roqueira)
e o sucesso Kriptonita, que fechou o show com um crescendo
mortífero. Fim de show. Fim de balada. Na saída, Habacuque festejava
a apresentação dizendo que estava sentindo falta de tocar tão
próximo ao público. Eram quase 3h da manhã em Curitiba, garoava,
e a Relespública se preparava para adentrar ao palco. No entanto,
o cansaço pedia chuveiro quente, cama e cobertor.
O segundo dia do Festival Tinidos coincidiu em horários com
as primeiras apresentações do Curitiba Rock Festival. Deu para
passar no Motorrad e ver de relance as bandas Jorge Constanza
e Liss, e perder a grande Wandula tocando Goddess On a Hiway,
"uma música nossa que o Mercury Rev costuma tocar nos shows".
Já no Curitiba Rock Festival, boas primeiras impressões: a troca
de local foi muito boa para o público. A casa Curitiba Master
Hall é ótima, espaçosa, e o som estava perfeito. Porém, uma
má noticia: em dois dias de festival, nada de bebida alcoólica,
já que a bebida da casa era a horrível cerveja Conti. Também
tinha Campari, para quem quisesse jogar na roupa de algum amigo.
Na boa, ninguém merece.
Bem, ao rock. O S&Y acabou perdendo um dos shows mais comentados
do sábado no CRF: o dos recifenses da Rádio de Outono. O público
se dividia. Só fui tirar a prova dos nove na semana seguinte,
já em SP, na Funhouse: até senti falta da guitarra, mas a formação
com baixo, bateria e teclados segura bem o pique. E a vocalista
Bárbara Jones tem tudo para ser a nova Celly Campello. Canções
fofas, show fofo, mas falta "perigo" à banda. E música
de "baratinha" ou "joaninha" não
dá. Voltando ao CRF, no fiel da balança, O Sete, Ultramen
e Black Maria formam o trio perfeito para um festival paralelo
em homenagem ao seu pior inimigo. Karine Alexandrino não se
encontrou com o som em Curitiba. O Smiths caipira Charme Chulo
mostrou que precisa de mais experiência para conseguir transportar
para o palco suas boas melodias. O bom Los Diãnos assustou com
sua mistura esporrenta de jazz e dixieland com punk e hardcore.
O Biônica até fez uma boa apresentação, em que o visual superou
a parte musical, enquanto a Patife Band soa superestimada demais.
O Acabou La Tequila se saiu bem, com o acréscimo de Gabriel
"Autoramas" Thomaz na guitarra, mas os shows nacionais do festival
foram do Cidadão Instigado no sábado e dos brasilienses do Móveis
Colôniais de Acaju no domingo. Estes últimos eram apresentados
no guia do CRF como uma mistura de "Pato Fu com amendoim". Se
em disco, o som do grupo se perde entre piadinhas sem graça,
ao vivo funciona muito bem, tendo sido o grande show nacional
do festival, e alcançando o ápice com uma cover da cantiga Se
Essa Rua Fosse Minha. No entanto, o melhor show nacional
do CRF não alcançou o nível de qualidade da Poléxia e do Ludov
no Tinidos.
Atrações nacionais à parte, o grande blá blá blá do Curitiba
Rock Festival era a apresentação única do Weezer em terras brasileiras.
A banda que ficou congelada durante cinco anos após a dobradinha
Blue Álbum (1994) / Pinkerton (1996) retornou
em 2001 com uma postura festeira, mais canções chicletes e shows
empolgantes. Em Curitiba, o Weezer fez um show irrepreensível,
que conquistou até quem não era fã da banda. Dezenas de clássicos
cantados em coro pelo público, que em alguns momentos se sobrepôs
ao som que saia das caixas, e executados de forma primorosa
pelo quarteto. No palco, o Weezer leva tão à sério o quesito
"entretenimento" que chega a trocar o que poderia ser um bom
momento musical no show por uma "gracinha" que acaba aproximando-os
ainda mais do público, como o baterista Patrick deixando as
baquetas para o frontman Rivers e assumindo os vocais da ótima
Photograph: musicalmente o resultado foi mediano, mas
o inusitado da situação valeu a brincadeira e o público cantou
em coro. Mais do que qualquer outra coisa, o show valeu para
que o público brasileiro conhecesse Rivers Cuomo no palco. Definido
com excêntrico, Cuomo não deixou o clima cair em nenhum momento
do show. Bancou o crooner apenas com o microfone nas mãos, homenageou
o Foo Fighters com um cover (com quem o Weezer está excursionando
mundo afora) e até apresentou um momento solo "voz e violão"
no meio do público. Um show fudidamente perfeito. No mais, o
que falar de um show em que a própria banda em seu blog oficial
definiu como "one of the all time top weezer shows tonight".
No domingo, enquanto o Terminal Guadalupe alternava covers de
Franz Ferdinand e Nirvana no palco do Motorrad, no encerramento
do Festival Tinidos, o Raveonnetes provava com dó mais ré e
mi o quanto são devotos fervorosos do Jesus & Mary Chain. Se
a influência em discos permanece no limite do aceitável (principalmente
no recente Pretty in Black, em que a banda apontou as
guitarras para os anos 60), ao vivo é caricatura pura. Se o
ouvinte fechar os olhos vai achar que está presenciando um show
dos irmãos Reid, claro, com os dois junkies sem nenhuma gota
de álcool ou resquícios de drogas no corpo. Apesar de deja vu,
a apresentação do Raveonettes foi correta, e esquentou a audiência
para o Mercury Rev. Entre o público, pouca gente acreditava
que Jonathan Donahue e sua turma conseguissem superar a perfeição
indie do Weezer na noite anterior, mas a banda foi além: enquanto
o Weezer fez um show jovem, energético e divertido, o Mercury
Rev fez uma apresentação adulta, com momentos instrumentais
impecáveis, imagens no telão (perfeitamente sincronizadas com
as músicas) com citações que iam do filósofo prussiano Arthur
Schopenhauer ao piloto norte-americano Michael Andretti; do
cineasta Stanley Kubrick, passando por Vladimir Nabukov e Yuri
Gagarin até chegar em E.T. e no Mestre Yoda. Inspiradíssimo,
e um tanto afetado, o vocalista Jonathan Donahue deixou sua
performance estática de outrora para reger a banda como se fosse
um maestro em uma orquestra. O repertório juntou canções novas
(Secret Song, My Love, Vermillion), faixas
luminosas dos bons discos All Is Dream e Deserter's
Songs (Opus 40, Dark is Rising, Tonite
it Shows, Spiders and Flies) e nenhuma concessão
ao material mais antigo da banda. No fim das contas, uma frase
no telão resumiu tudo: "O mundo não é feito de átomos. É feito
de histórias". O Mercury Rev fez história em Curitiba.
Tim Festival SP 2005
Fotos:
Divulgação Tim Festival
A organização do Tim Festival, desde sempre um dos grandes festivais
anuais do calendário brasileiro, bateu cabeça neste ano. Primeiro
levou o festival para o RJ, conforme seguia o planejamento de
um ano lá (RJ) e outro aqui (SP), mas acabou montando uma "pequena"
edição especial na capital paulista (e em MG e no RS) com os
principais nomes do cast de jazz desta edição, mais nomes badalados
como Strokes e Arcade Fire. Depois, foi liberando, um a um,
que artistas do festival fizessem apresentações solo em outras
capitais. No final, dos grandes nomes do evento, só o Wilco
tocou apenas no RJ. Teria sido muito mais prático se o festival
tivesse sido realizado simultaneamente nas duas capitais, e
evitaria o problema de som que ocorreu (e estragou) na edição
paulistana. Bem, nada de chorar sobre a cerveja derramada. E
se tem alguém que tem que reclamar é o pessoal do Arcade Fire,
bastante prejudicado no Tim SP.
Em SP, o Tim aconteceu na Arena Skol, que nada mais é do que
a área de dispersão do Sambódromo paulista (e onde fica o palco
Stage do Skol Beats). O público tinha duas opções de convites:
R$ 250 para ficar na área VIP em frente ao palco junto com famosos
e R$ 100 para ficar um pouco mais atrás. Mais de 22 mil pessoas
lotaram o local, expondo a desorganização no estacionamento
(que acabou fazendo com que muita gente, inclusive este que
vos escreve, perdesse a apresentação do Mundo Livre S/A) e tornando
intransitável a tal área VIP. O problema de som não atingiu
a cantora M.I.A., que, no entanto, ficou distante do público
ao optar escolher o telão para projeções e não para que o público
a visse. Mesmo assim, a cantora fez um bom show, que chegou
a animar as primeiras filas. Na seqüência, a banda mais adorada
dos últimos meses penou para fazer o público ouvir seu show.
As sutilezas de Funeral, do Arcade Fire, foram levadas
- literalmente - pelo vento. O som era tão baixo e tão frágil
na Arena que o forte vento dispersava a música fazendo imaginar
que alguém estava brincando com os botões de volume na mesa
de som. Parece que a apresentação foi boa, mas não deu para
aproveitar. Uma pena.
O Kings of Leon entrou na seqüência gastando seu único hit logo
na abertura do show e mostrando que a banda não tem nenhum charme,
nenhuma simpatia, nada que os diferencie de milhões de outras
bandas iguais. Se em disco os irmãos Followill já não convencem,
imagine ao vivo. Nos bastidores, o comentário era de que os
Strokes tinham escolhido à dedo o Kings of Leon como
banda de abertura da nova turnê, pois sabiam que nunca o Kings
of Leon irá poder roubar à noite da banda principal. Riffs sujos
e vocal fanho não bastam para se fazer bom rock and roll. No
máximo um clipe para a MTV, e olhe lá. Uma bobagem. Depois de
suportar o Kings of Leon, qualquer coisa que viesse era lucro.
Até o Strokes.
Primeiro o ponto positivo: Julian Casablancas canta muito. Mesmo.
O único microfone no palco é o dele e ele não precisa forçar
a voz para berrar os refrões. Além do mais, Julian canta com
segurança, como se estar diante de 20 mil pessoas (a maioria
estava ali só para ver a sua banda) fosse a coisa mais comum
do mundo. No entanto, sua banda é chinfrim e de uma infantilidade
melódica de dar dó. Duas guitarras que não fazem o som
de uma. Mesmo na bateria do brasileiro Fab Moretti falta peso.
As linhas básicas do baixo de Nikolai Fraiture acabam se sobrepondo
sobre os riffs infantis e guiando a banda. Hits como Last
Nite, Barely Legal, Reptilia e 12:51
foram cantados em coro por um público que já saiu de casa gostando
do show. Na área VIP, Marcelo Camelo (Los Hermanos), Marco Túlio
(Jota Quest) e Fernanda Abreu deviam estar pensando: "o que
que eles tem que nós não temos?". Entre as faixas inéditas,
o já conhecido single Juicebox e Hawaii-Aloha
são prova de que eles realmente descobriram os pedais
de distorção. Porém, Heart in A Cage, a terceira inédita
exibida em SP, mostra que o novo álbum, First Impressions
of Earth, que deve chegar às lojas em janeiro de 2006, pode
ter um lado Is This It também. No geral, um bom show,
mas bons shows até o Rei Roberto faz. E ele ainda joga rosas
para o público e canta Emoções.
Television, Elvis Costello e Stereo Total
Fotos:
Elvis Costello (Amanda França/Speculum)
São Paulo não teve tempo de ter ressaca do Tim Festival. Na
terça e quarta, o Television mostrava com quantos riffs de guitarra
se constrói um repertório clássico. A quarta ainda teve o senhor
Elvis Costello despejando inspiração por mais de 2h30 de show
à la Ramones ("One, Two Three, Four"). Para fechar,
o Stereo Total fez todo mundo sorrir na quinta. Se todas as
semanas fossem assim, hein caro leitor...
O Television aportou em São Paulo carregando a mística de que
era uma banda chata ao vivo, muito pelo que o público fã de
Strokes deve ter assistido do Tim Festival RJ via MTV. Bem,
para quem não sabe o que é vinil e só entende de MP3, para quem
não entende que show de rock raramente funciona na telinha da
televisão, para quem só se liga no que a mídia diz que é bom
e nunca teve oportunidade de pegar um álbum do Television nas
mãos (já que todos só existiam importados até dois meses atrás:
os três discos do grupo acabaram de ganhar edição nacional),
a banda de Tom Verlaine, Billy Ficca, Richard Lloyd e Fred Smith
é aquilo mesmo: uma banda de rock clássica desfilando riffs
acachapantes de guitarra com cadência e estilo. Nada de batidinhas
manjadas aceleradinhas para fazer o público pular. Nada de bateria
ensandecida. É um show de rock para ser assistindo como se fosse
uma orquestra. É rock para ser ouvido como se bebe uísque, com
paladar apurado. A banda contou com o excelente som do Sesc
Pompéia, disparado o melhor local para shows na capital paulista,
com ingressos baratos, cerveja boa e também barata, bom som,
convites esgotados, mas sem sufocar o público dentro da casa.
Além de tocar três canções inéditas, o Television mostrou pérolas
do álbum Marquee Moon (1977) (See No Evil, Prove It,
Venus, Marquee Moon), outras do Adventure (1978)
(Glory, The Dream's Dream), b-sides (Little
Johhny Jewel) e covers (Knocking On Heaven's Door,
de Dylan, sempre fez parte do repertório da banda e está registrada
ao vivo em Blow Up). Faltou Friction, mas mesmo
assim foi uma aula de elegância e estilo rock.
Na quarta, enquanto a turma de Tom Verlaine lotava novamente
o Sesc Pompéia, Elvis Costello carregava um excelente público
para o Tom Brasil Nações Unidas. E em pouco mais de 2h30 de
show, o músico deu um extenso passeio por sua carreira em quase
30 canções. Foi desde seu debute, My Aim Is True, de
1977, que cedeu ao show as canções (The Angels Wanna Wear
My) Red Shoes, Less Than Zero, Watching The Detectives
(emendanda em uma acachapante versão de When I Was Cruel
no. 2 que arrancou gritos da platéia), Mystery Dance
e Alison (num medley matador bem próximo ao registrado
no box especial Costello & Nieve com a inclusão de Track
of My Tears, Tears of a Clown e encerrando com Suspicious
Mind) até canções mais recentes do álbum The Delivery
Man (2004) como Bedlam e Monkey To Man.
Entre os dois vértices, um passeio pela carreira do músico
passando por Pump It Up, Radio Radio, Lipstick
Vogue, (I Don't Want To Go To) Chelsea (álbum This
Years Model, 1978), Oliver's Army (Armed Forces,
1979), High Fidelity, I Can't Stand Up For Falling
Down (Get Happy, 1980), Clubland (Trust,
1980), Man Out of Time (Imperial Bedroom, 1982),
Uncomplicated (Blood and Chocolate, 1986), a bela
So Like Candy (Mighty Like a Rose, 1991), Clown
Strike, Rocking Horse Road (Brutal Youth,
1996), Tear Off Your Own Head (It's a Doll Revolution)
e Episode of Blonde (When is a Cruel, 2002). Nos
bis, temas de filmes: She (Notting Hill) e (What's
So Funny About) Peace, Love And Understanding (Lost and
Translation), com citação de The Kid's Are Alright,
do The Who. Para o final, uma versão extensa e violentamente
crua de I Want You, com citações de U2 (Ever Better
The Real Thing) e Beatles (Happiness Is A Warm Gun).
Houve até espaço para Basement Kiss, canção
do álbum Not Ain't The Time For Your Tears, que Costello
deu inteirinho (as dez canções eram todas inéditas) para a cantora
Wendy James, ex-Transvision Vamp.
Porém, o repertório extenso escolhido na hora por Costello (que
emendava uma canção na outra a todo momento) só ressaltou a
excelência dos Imposters, versão atualizada dos Attractions,
que como única mudança traz o excelente baixista Davey Faragher
no lugar de Bruce Thomas. O baterista Pete Thomas e o tecladista
e mago do theremin Steve Nieve estão com Costello desde o início
dos tempos, e a banda é tão coesa que fica difícil não se prender
a uma linha de baixo por meio minuto para logo em seguida descobrir
que Nieve está fazendo alguma maluquice nos teclados ou que
o próprio Costello está brincando de guitar hero e solando muito.
O instrumental é tão poderoso que dá vontade de ver o mesmo
show várias vezes, para ir colhendo detalhes que possam ter
passado desapercebidos em uma primeira audição. Costello entregou
ao público paulista seu suor, seu melhor repertório em uma execução
primorosa. Um show para ficar guardado na memória, e ser relembrado
com o DVD Live in Memphis.
Para fechar a semana de shows, Françoise Cactus e Brezel Göring,
que formam o duo franco-alemão Stereo Total, precisaram de quatro
bis para acalmar o público do Sesc Pompéia na noite de quinta-feira
em um dos shows mais divertidos dos últimos tempos. Françoise,
que mais parece uma professora do colegial, divertiu o público
com caras, bocas, guitarra pink em formato de coração e vocais
em alemão, francês, italiano e... português! "Estou com fome,
porque você nãããããão está aqui", gritava Françoise em uma das
canções mais aplaudidas da noite. Em outra, I Am Naked,
cantava: "Estou pelada".
A postura de Brezel contrasta totalmente com a da cantora. Ele
pula, grita e parece que tomou várias anfetaminas antes de pisar
no palco. Já ela age de forma cool, anunciando sempre a próxima
canção em português mesmo, e se perdendo em seu caderninho cheio
de anotações e suas várias bolsinhas. O show em si é uma grata
surpresa. A música é boa, a dupla é divertida, e as situações
são improváveis. Quantas vezes você já viu um show em que mais
de 50 pessoas sobem ao palco e dançam o tempo inteiro da canção
(no caso, Wir Tanzen Im 4-Eck) junto com os artistas?
O repertório é decidido na hora e enfileira hits da dupla como
Party Anti-Conformiste, Exakt Neutral, Miau Miau ("Rock
about cats", segundo Françoise), Supergirl, Movie Star
e Amor a 3 ao lado de covers improváveis como Ringo
I Love You (Phil Spector), Mothers Little Helper
(Rolling Stones), Comme D'Habitude (versão original da
clássica My Way, eternizada na voz de Frank Sinatra)
e Joe Le Táxi, hit francês com Vanessa Paradis, que ganhou
um versão no Brasil da (hoje) apresentadora Angélica. Foi surreal
ver todo o público cantando "vou te táxi, cê sabe, tava morrendo
de saudade". Após quatro bis, o duo se despediu de São Paulo
deixando um enorme sorriso no rosto dos paulistanos.
Nessa primeira leva de shows o que ficou evidente é o quanto
um bom som é importante para uma banda. No Campari Rock e no
Tim Festival, nomes como Kills e Arcade Fire poderiam ter tido
uma outra recepção do público se o som colaborasse. Desta forma,
Weezer e Mercury Rev se deram bem com a boa acolhida do CRF.
E o Sesc Pompéia é a casa de shows perfeita da capital paulista.
Agora, é esperar que o Claro Que é Rock não cometa o mesmo erro
grave do Tim. A escalação espremida promete shows curtos (em
média, 55 minutos) de cada uma das entidades roqueiras (Sonic
Youth, Nine Inch Nails, Iggy Pop & The Stooges, Flaming Lips)
em um dia que promete entrar para a história musical do País.
Pouco depois, o grunge renasce no Brasil com Pearl Jam e Mudhoney
passeando de mãos dadas pelas terras de Pedro Álvares Cabral.
No entanto, agora é hora de descanso e de contabilizar
o rombo na conta bancaria. E fechar os olhos para se lembrar
de alguns grandes momentos que a música nos presenteou nos últimos
meses. Bordão público: que as companhias de telefone continuem
brigando entre si. É extremamente saudável para a cultura nacional.
:-) Ah, logo mais têm Tv On The Radio no Sesc Pompéia...
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S/A, por Marcelo Costa
"Funeral" do Arcade Fire,
por Marcelo Costa
Links
Site
Oficial Tim Festival
Site
Oficial Claro Que é Rock
Site
Oficial Curitiba Rock Festival
Site da
revista eletrônica Tinidos
Fotos:
Mercury Rev (CRF), Television e Stereo Total (Fábio Carbone
/ Ruídos) Bebidas (Marcelo Costa / S&Y)
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