"13' 31", do (cLAP!)
por Helder Souza
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08/07/2006

Quanto duram 13 minutos e 29 segundos? E quanto podem valer? 13 minutos e 29 segundos podem durar algumas horas. É muito proveitoso saber da existência de uma tecla chamada replay.

É com cautela que precisamos lidar com bandas novas. O desconhecido é, ao mesmo tempo, um charme e uma armadilha. Apesar do desejo constante por encontrar novas pérolas, é bem provável que apenas 10% daquilo que não tem rosto nem som soará aprazível aos nossos ouvidos. Internet, blogs clandestinos, formatos ilegais: tudo perfeitamente à disposição para divulgar aquilo que convier, da forma como convier, na embalagem que se permitir.

E dá-lhe downloads mais downloads, e mais downloads: o mundo está a apenas um clique de distância. E, às vezes, esse mundo está tão próximo. Talvez Minas Gerais. E quão chamativo pode ser um nome estranho, com sonoro impacto vocal, nenhum conteúdo semântico, e dito se tratar de um grupo jovem, anteriores aos poucos 20 anos e ainda por cima brasileiros. Uma foto, capa de EP, transbordando displicência numa imagem informal. Apenas três garotos e um ensaio. E a promessa - numa pequena resenha de Leandro Becker - de que o que estaria por vir definitivamente não seria uma nova tentativa frustrada de crianças grandes mostrando "atitude".

(cLAP!), assim, entre parênteses e exclamação. Tendo o logo carregado nesta estética alegórica, evoca logo distorções, canções protesto e "atitude". Mas a viagem inicia com harmônicos suaves surgindo de um sóbrio violão. (cLAP!) é uma banda mineira composta por Cesar Lacerda, Gabriel Túlio e Thiago Sá, três simpáticos rapazes fãs de gente como Tom Jobim e Emilliana Torrini, e que transformam voz, violão, piano e bateria em mágica e beleza.

O primeiro EP da banda, 13' 31, datado de julho do ano passado, traz talento e maestria traduzidos em cinco canções, recheadas com muita emoção. Destoando da normalidade adolescente, o (cLAP!) trabalha uma sonoridade matura e harmônica, sem exageros para acrescentar peso ou estratégias comerciais visando angariar o grande público. No entanto, apesar da ausência de pedantismo adolescente, a banda não escapa das costumeiras temáticas sofridas e existenciais, o que aqui - por incrível que pareça - leva tom apreciativo. A grande diferença de 13' 31 para os clichês adolescentes é que neste EP, todas essas temáticas são tangenciadas com inteligência e poética apurada. O ingênuo e o maturo se namoram, trocam experiências e geram uma maravilha açucarada e viciosa. Na verdade, se não fossem os timbres vocais jovens e um ou outro "amor" nas letras, poder-se-ia jurar que se trata da velha escola musical pregando uma jocosa peça no cenário artístico.

O trio cria uma sonoridade riquíssima, conquanto simples, utilizando influencias que parecem perpassar desde a levada de violão de Lô Borges até o piano pesado dos Beatles, atravessados pelas letras semi-herméticas dos Los Hermanos. Sem instrumentação elétrica, apoiam-se na completude do órgão de Gabriel para acompanhar e preencher os acordes e licks perfeitos do violão de Thiago. Isso tudo em sintonia perfeita, guiada e completada pela bateria viva de Cesar, que de uma forma enigmática, se une ao piano para criar uma atmosfera vigorosa, apesar de uma conjuntura acústica. Sim, (cLAP!) também tem peso, gingado e é claramente dançante. Porque não?

O Acaso é a primeira musica do EP, trazendo os harmônicos supracitados para iniciar o trabalho de forma majestosa. O vocal grave traça - através de uma melancolia esperançosa - o caminho a ser seguido pelo resto do CD. É uma musica curta, que destaca o piano como carro chefe, guiando a melodia que aborda perfeitamente a admoestação contida na letra. É talvez a música mais comercial do álbum, o que pode até confundir um pouco numa primeira audição, e esconder a evolução que espera por vir ao longo do CD.

Tanto Faz prossegue com um vocal belíssimo, quase sussurrado, suave, porém ligeiramente áspero, e que surge após um curto lick do violão. É de uma melodia desconcertante em sua beleza. Evolui calma e virtuosa, tendo um primeiro compasso desabafante, seguido logo após à deixa vocal por um riff ao piano, cortando do grave ao médio e dando contorno ao verso que retorna para após mais uma sessão do piano descender em uma triste e eloqüente passagem que prossegue numa rápida ascensão para o desfecho profundo, leve e quase otimista ("Não vou partir sem você, sem te ter, é certo que não").

Pequena Flor é como uma aula de MPB. Tem vários dos ingredientes principais: bossa, poesia e ecleticidade. Inicia Jazz. Em poucos acordes passa de melancólica à nostálgica e - logo acompanhada pela bateria - ganha o elemento "samba" que a torna maravilhosamente familiar aos ouvidos. É a canção que mais os identificam como belo-horizontinos. Traz toda a fórmula da MPB clássica mineira, que sem dúvida se une ao antigo cenário musical paulistano e carioca como a grande escola influenciadora de quase tudo o que há de novo e bom hoje em dia. É um verdadeiro deslumbre melódico, que deixa bem claro, após menos de 7 minutos decorridos do EP, que definitivamente não se trata de apenas mais uma banda de garotos querendo fazer fama na MTV. É som de gente grande, gente matura.

A prova cabal vem logo a seguir: De Um Adeus, melhor canção do EP, é um pseudo-xote com uma linha assustadoramente fantástica que registra o equilíbrio e a perfeição de todos os instrumentos ali presentes. A vocalização inicial - sob o som de triângulo e violão - abre alas e pede atenção para a entrada da bateria que, com seu poderoso bumbo, dialoga com o grave do piano e impõe um peso inédito até então na gravação. O piano, num riff eloqüente, ainda trabalha os agudos junto ao violão. A falta do baixo elétrico é completamente suprida pela articulação bateria-piano. Mesmo numa melodia extremamente dançante, o dramático e tristonho não se perdem, e esse equilíbrio entre os extremos permite ao vocal, lindo e virtuoso, emocionadamente chorar a perda e sustentar a contínua esperança numa poesia encantadora. É aqui que se torna indiscutível a majestosa produção do disco. Além de conteúdo, 13' 31 exibe um conteúdo técnico impecável, produção assinada pela banda e Wilson Brina. É mais um ponto favorável, que refuta a negativa de pessoas que citam a má qualidade técnica como justificativa pela aversão ao que há de independente.

Ubiratan, idílica e bucólica, fecha o disco como uma cantiga extremamente serena. Traz a participação de um vocal feminino, Thais Montanari, que se harmoniza perfeitamente com a proposta da canção. A melodia é trabalhada com base principal no violão, e pela primeira vez a flauta de Cesar é sentida. Segue o epílogo e a bateria toma espaço, o vocal masculino se entrelaça ao feminino e a musica segue, novamente calma, para o fim. Treze minutos e vinte e nove segundos. E Repeat.

O EP é curto, o que torna ainda mais caro cada precioso segundo. Sem dúvida, um primeiro grande passo de uma banda absolutamente promissora. 13' 31 esteve disponível para download online no endereço da revista Mp3 Magazine, mas não se desespere. O blog Música Social está disponibilizando as cinco faixas do EP. E a banda já gravou um disco ao vivo, um3, e disponibilizou o álbum na integra (15 faixas) no Mp# Magazine. Para baixar os dois discos, conferir, se apaixonar.

Links
(cLAP!) no Música Social - Download do EP "13' 31"
(cLAP!) na Mp3 Magazine - Download do álbum "um3"