"Super Extra Gravity", The Cardigans
por Danilo Corci
Foto: Derrick Santini/Divulgação
Speculum
04/12/2005

Cinco discos de estúdio e mais um ao vivo foram apenas um laboratório para o sétimo. Se pegarmos a recente história da música pop, contando a partir da década de 90, você terá realmente muitas dificuldades em imaginar um cenário como este. Mas aí, uns suecos (curiosamente históricos mestres em sucessos populares) quebram a regra e produzem um álbum que sintetiza não só sua carreira, mas também a precisão sensorial que um disco pode alcançar. Sim, o Cardigans lançou uma das maiores obras-primas do cancioneiro pop dos últimos dez anos.

Genialidade não se mede, mas se constata. Pois bem, o que a trupe de Nina Persson realizou com Super Extra Gravity fica muito próximo desta constatação, afinal, mais do que refrões fáceis, o álbum é repleto de uma sonoridade contagiante, que transpira emoção em cada canção, daquelas que até mesmo os inimigos mortais do pop rock são capazes de se pegarem balançado os pés ou a cabeça ao ouvir os timbres e melodias. De fato, uma virada no jeitão da banda.

Sha-na-nas e du-du-dus deixam o repertório do Cardigans. A felicidade fofinha também foi varrida. Sai a loura feliz, entra a morena blasé. Surge então um material mais sombrio, depressivo, triste, carregado de emoção genuína. Sai o antigo raio solar e vem o dia nebuloso. Este é o espírito de Super Extra Gravity. Losing a Friend, canção que abre esta pequena pérola musical, define com exatidão tudo o que está escrito acima e vai além. Batida ritmada do bumbo da bateria de Bengt Lagerberg sob a jeitão choroso de Nina ao perder um amigo... Chega a causar calafrios na espinha.

Segue então Godspell, agora ritmada pelo baixo de Magnus Sveningsson, num ídilo anti-guerra. Vem Drip Drop Teardrop, onde Nina diz que cantará até você odiar esta música. Impossível. As guitarristas de Peter Svensson e Lars-Olof Johansson dominam o petardo. Já Overload, estilo clássico de balada ao piano, é um descarrego para a vocalista mostrar seu desespero e desencanto. A amargura continua em I Need Some Fine Wine And You, You Need To Be Nicer, que vem logo com o verso "I'm wasting my life, you're changing the world" sob uma batida um pouco mais acelerada. Não é preciso dizer mais nada.

Don't Blame Your Daughter (Diamonds) mantém o pessimismo claro desde a abertura - e aqui evidenciado ao extremo. Little Black Cloud, In The Round (com toques blues), Holy Love e Good Morning Joan seguem a linha esfumaçada de emoção. And Then You Kissed Me II fecha a edição nacional, cravando: "Man, he left me blue/And if I could I would do it too".

Pena que a edição brasileira ignorou Give Me Your Eyes e Slow: "There'll be rain on our wedding day/And the chapel will be mud and clay/There'll be rain on our wedding day/Gray be the sky/I don't know why". Nada mais apropriado para encerrar Super Extra Gravity, que mostra que os rumos mais cinzentos, menos ensolarados, podem fazer um bem danado para uma banda.

A constatação é que tudo o que fizeram antes foi apenas um grande ensaio, uma brincadeira para se chegar em Super Extra Gravity. Com a realização deste, podem parar. Já fizeram mais do que seria imaginável para o então Cardigans. E voltam a despejar a eterna esperança cinérea e sestra à música pop.

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Site Oficial do Cardigans


Texto cedido pelo site Speculum