Entrevista Capital Inicial - Yves Passarell
por Marcos Paulino
PLUG
Foto: Site Oficial
31/03/2007

"Eu Nunca Disse Adeus" é o título do recém-lançado disco do Capital Inicial. Título bem significativo, diga-se, porque parece representar o que sente a banda de Brasília. Dinho Ouro Preto, os irmãos Fê e Flávio Lemos e Yves Passarell estão mesmo longe de dizer adeus. Em que pese Ives, aos 38 anos, ex-guitarrista da banda de heavy metal Viper, ser o mais novo do grupo. O fato é que uma audição sem maiores cuidados do novo álbum mostra que o Capital quer mesmo se manter adolescente.

Letras fáceis, melodias que remetem a várias outras músicas da banda, "Eu Nunca Disse Adeus" é um disco que, se não traz novidades, deve contentar os fãs que esperam "mais do mesmo". Fãs que, é necessário reconhecer, os candangos têm o mérito de renovar. Assim, já há muito deixaram de ser reféns dos saudosistas dos anos 80, como tantas outras bandas surgidas naquela época de ouro do rock nacional. O novo álbum é o sexto desde que o Capital retomou suas atividades, em 1998, após dois anos parado, e o 13º em toda sua história.

É também a retomada das músicas inéditas, depois do "Acústico MTV" e do "MTV Especial - Aborto Elétrico". São 13 músicas, fruto da parceria de Dinho com o letrista carioca Alvin L. Yves participa em três delas. Foi justamente o guitarrista, há cinco anos na banda, quem conversou com exclusividade com o PLUG, parceiro do S&Y, sobre essa nova fase (mais uma) que o Capital está iniciando.

O novo disco está bem... Capital Inicial. A idéia era essa mesmo, fazer um CD com um som bem característico da banda?
A gente veio de "Gigante!", que era um pouco mais pesado, depois o "Rosas e Vinho Tinto" e o "Aborto", que era um projeto mais pesado mesmo. Este é um disco mais calmo, um pouco mais melancólico. Mas foi uma coisa natural, não foi nada planejado nesse sentido. Na pré-produção, as músicas foram surgindo e posso dizer que é um disco bem Capital Inicial mesmo, que remete a "Atrás dos Olhos" e "Rosas e Vinho Tinto". Eu chamaria de clássico do Capital Inicial, porque você ouve e vê que tem uma cara, uma linha.

Depois de "Aborto" e do "Acústico", que retomaram canções mais antigas, vocês estavam com saudades de fazer um disco de inéditas?
O "Acústico" já trouxe algumas músicas mais novas, como "Natasha" e "Tudo que Vai". O Capital sempre se pautou, desde a volta, em fazer músicas novas. Acho que isso renova a banda, renova o público, você não fica vivendo só do passado. Mas o Capital Inicial tem uma linha que, quando você ouve uma música, sabe que é nossa. Quando terminamos o "Aborto", já estávamos com vontade de voltar a essa linha, com músicas mais calmas.

O Dinho compôs praticamente todas as músicas em parceria com o Alvin L, sendo que você participou de três delas. Por que a opção de concentrar a autoria das músicas em poucos integrantes?
No fundo, todo mundo participa um pouco, porque cada um sabe como funciona, a gente tem essa sintonia bacana. O Dinho e o Alvin já compõem desde 88, eles fizeram várias músicas para o "Gigante!" e para o "Rosas e Vinho Tinto". É uma coisa natural. O Fê já compôs muitas músicas, mas o Dinho está se sentindo à vontade de uns anos para cá. Nada impede que no próximo disco cada um venha com suas idéias, cada um com seu estilo, mas dentro do que é o Capital Inicial.

Você, que é o caçula do Capital e deve ter sido um mero ouvinte da banda nos anos 80, está sentindo a mesma vontade nos seus colegas depois de todos esses anos?
Acho que agora muito mais do que há alguns anos. Mais ainda depois do "Aborto", especialmente para o Flávio e o Fê, que fizeram parte do Aborto Elétrico, tocaram com o Renato Russo. Mas quando você lança um disco com músicas novas, é sensacional. A gente fica muito motivado para começar uma turnê, para ouvir como elas vão soar num show, como elas serão percebidas. Está todo mundo com muita vontade de começar a turnê.

Qual é a programação da turnê?
Começa no dia 10 de abril, em Londrina. É uma turnê longa, que deve durar até 2008. A gente preza muito pelo show, não só pelo som, mas também pelo visual, sempre procurando agregar algo. Nesta turnê, também vai ter uma surpresa. Vamos levar para todos os lugares o mesmo show para qualquer lugar que formos, sem "muquira-nagem". (Risos) Vai ser um show em que a gente vai se divertir muito.

Você veio de uma banda de heavy metal. Como foi sua adaptação ao Capital? Sua participação amadureceu?
No começo é diferente, o jeito de tocar, o estilo. O guitarrista tem que saber as nuances de cada música. O heavy tem a hora do solo, do outro solo, dos riffs. Num show de rock, você ouve mais a música. Isso é importante.

Você também teve que se acostumar com uma produção mais grandiosa...
Já toquei muitos anos, viajando, então não foi um impacto tão grande, não foi difícil. Mas as proporções são completamente diferentes. A gente faz 120, 130 shows por ano. Passamos a vida na estrada, então tem um esquema gigantesco por trás. É um privilégio.

E você também tinha a experiência de vários shows internacionais, já que o Viper tinha fãs em diversos países, principalmente no Japão.
Isso me ajudou muito também, porque já toquei em tudo que é lugar, pequeno, grande. Então, quando entrei já tinha uma cancha, isso é importante. A gente vê muita banda nova, que tem CD, camiseta, site e que nunca tocou ao vivo.

Como vocês têm sentido a repercussão do "Eu Nunca Disse Adeus"?
A repercussão da música-título do CD está muito legal. A gente tocou ela no final da turnê do "Aborto" e as pessoas já estavam cantando. Isso é muito bacana. O feed back tem sido excelente, por enquanto nada a reclamar. (Risos)

Quais os próximos planos? Vai rolar um DVD desta turnê?
Em princípio, não. Deve sair uma caixa com todos os discos de todas as fases do Capital Inicial. E vamos tocando a turnê, que vai ter uma mistura das músicas novas com outras mais conhecidas.

Inclusive o Dinho disse que já quase está conseguindo fazer um show só com as músicas mais recentes.
Isso é legal, porque o que renova uma banda é não ficar vivendo só do passado.

Parece que, ao contrário de outras bandas dos anos 80, que estão vendo seu público envelhecer junto com elas, o Capital tem conseguido renovar seus fãs. Você sente isso?
Hoje a gente tem aquele público mais antigo, mas também temos um outro público, bem mais novo. Acho que a maioria das pessoas que vão aos nossos shows nem era nascida quando o Capital surgiu.

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