Entrevista - Cansei de Ser Sexy
por Marcelo Costa
Foto: Tod Seelie/Divulgação
Email
09/11/2005

Mordam a língua, invejosos. Recolham as pedras, desinformados. O Cansei de Ser Sexy - a banda mais comentada e menos ouvida do cenário nacional em anos - lança seu primeiro álbum oficial provando que todo blá blá blá em torno deles não era à toa. CSS, o disco, é festeiro, bem produzido e internacional. Junto com o álbum surge, também, uma banda decidida a provar o quanto é boa ao vivo. No show de lançamento do disco, no Rose Bombom, em São Paulo, um Cansei de Ser Sexy menos baderneiro destacou guitarras altas fazendo cama para a voz doce de Lovefoxxx, em um show mais "certinho" e menos zoado.

Porém, quem vai notar a diferença entre o Cansei de Ser Sexy de antes e o Cansei de Ser Sexy de hoje é o público que realmente acompanha a banda desde que alguns MP3 foram disponibilizados no Trama Virtual, em 2003. Desde então, a banda recebeu a acolhida de jornalistas como Lúcio Ribeiro e Érika Palomino, tocou em vários festivais, fez um EP caseiro que era vendido apenas em uma loja de CDs de São Paulo, e assinou contrato para ser a banda estreante do selo Trama Virtual. CSS fecha o ciclo da primeira fase do grupo, vai deixar de boca aberta muita gente que não dava nada pela banda, e pode ser o responsável por carregar um grupo brasileiro para as badaladas paradas européias e norte-americana. Potencial o disco tem.

Adriano Cintra, baterista e principal compositor da banda (e ex-guitarrista do Thee Butcher's Orchestra), reclama que o "povo do rock", que se leva à sério demais, não gosta deles. "Eles têm um tremendo preconceito. Esse povo que se leva a sério, mais ferrenho. É algo assim: 'Como um bando de meninas que não se levam a sério, que não sabem tocar, que se levam na brincadeira, conseguem muito mais coisas que a gente?'", comenta em entrevista por telefone ao S&Y. O "bando de meninas" a que Adriano se refere é formado por Iracema (baixo), Luiza , Carolina, Ana Rezende (guitarras e teclados e bateria) além de Luiza Lovefoxxxx nos vocais. Adriano também assume a guitarra em algumas músicas.

CSS não é só um disco e sim três. O segundo é vendido nos shows, um EP com mais sete faixas que "sobraram" das sessões do álbum. O terceiro é um CDR com logotipo da Trama Virtual, para que o comprador copie o CD e o dê para um amigo. Enquanto as majors procuram encontrar maneiras de bloquear a cópia de músicas em CDs oficiais, o Cansei de Ser Sexy segue pela mão contrária, em uma posição que pode e deve dar muito que falar. Porém, a banda está mesmo preocupada em tocar. "A gente quer tocar muito, a gente quer viajar. A gente quer ir tocar em Curitiba, que a gente nunca foi. Quer tocar no Nordeste. Basicamente, a gente quer viajar. Tocar muito", garante Adriano. Confira o papo e conheça a banda, sem preconceitos.

Adriano, como funcionou a produção do CD? O que você buscou realçar no som da banda?
Quando a gente compôs essas músicas, e a maioria das músicas são minhas, eu estava trabalhando. Eu trabalho com publicidade, faço trilha para filme publicitário, mas eu sou muito estressado. Odeio trabalhar. Hoje em dia não muito, porque trabalho em um lugar bem mais tranqüilo, mas na época em que fiz esse disco eu estava trabalhando em um lugar em que eu ficava muito mal-humorado o dia inteiro. Então, entre um trabalho e outro, eu pegava o que tinha na minha mão: um computador, o teclado e um monte de instrumento virtual, sintetizadores, essas coisas. E ficava compondo. Então na hora que fiz a música ela era eletrônica, mas depois eu levava essas músicas para o ensaio, e dava para as meninas fazerem os arranjos de guitarra. Quando a gente foi finalizar o disco, eu tive que dar um jeito de juntar essas duas coisas. Tive que tirar um monte de bateria eletrônica e tocar outras por cima, do jeito que é feito no show. Na verdade, não foi nem realçar alguma coisa, e sim misturar a coisa eletrônica - que era algo bem primário, com sintetizadores bem toscos - com as guitarras e o resto...

Então o disco se aproxima mais do som do Cansei de Ser Sexy ao vivo?
Sim. Total. O disco é todo feito com os arranjos que fazemos ao vivo.

Qual a diferença, por exemplo, do EP Uma Tarde Com PJ para este primeiro álbum?
Naquele lá (Uma Tarde com PJ) basicamente só teve a primeira parte (eletrônica), muito embora tenha algumas coisas acústicas. É um disco que tem música que é só eletrônica, que fiz sozinho e nem tem a participação das meninas, mas tem também músicas que nem tem eletrônica e foram gravadas no ensaio. O EP não teve muito a mistura das duas partes. Da parte eletrônica, tipo aquela cover do Blondie (On Way Or Another), eu toquei uma guitarra direto no computador e a Lovefoxxx só cantou. (Por outro lado) tem outras faixas, como a Sô Lôra Sô Burra, Meeting Paris Hilton, Ódio, que são a banda tocando, só a banda, não tem nada eletrônico.

Além do álbum, vocês também estão lançando um outro EP que será vendido só nos shows...
A gente gravou 21 faixas ao todo, e nesse EP ficaram as coisas que meio que não se encaixaram no disco. É meio uma sobra, porque quando a gente começou a montar a ordem do disco, não tínhamos muito definido o que iria ser disco e o que seria EP. A gente pegou e foi colocando: "Essa soa bem. Isso faz dar uma lógica". O que sobrou a gente compilou no EP. São sete faixas...

Qual a expectativa da banda com este CD?
A gente quer tocar muito, a gente quer viajar. A gente quer ir tocar em Curitiba, que a gente nunca foi. Quer tocar no Nordeste. Basicamente, a gente quer viajar. Tocar muito.

Vai rolar aquele show em Londres que está sendo comentando?
Então, está rolando, mas como não somos mais nós que cuidamos disso, não estamos sabendo de nada. O Edu (Eduardo Ramos, diretor internacional da Trama), que está fazendo esse contato todo, é muito ético. Ele não fala. Ele só diz que está tudo indo bem, só que ele só vai falar no dia em que estiver o contrato assinado e a passagem comprada. Senão a gente fica louco, não dorme (risos). Temos duas semanas de novembro reservadas. Todo mundo refez o passaporte, está tudo pronto. Só que a gente não sabe...

Seria interessante, visto que o disco tem muito mais músicas cantadas em inglês.
Há uma expectativa de trabalhar na gringa?

Acho que rola. Quando saiu aquela crítica do Observer, o Edu, que é um cara que viaja muito para fazer contatos (ele assinou com o Franz Ferdinand com a Trama antes do FF assinar com a Sony) e é superbem relacionado, desde que a gente mixou o disco ele vai e passa o álbum para um monte de gente. E ele falou que várias pessoas se interessaram em lançar. Então, sei lá. O que vier é lucro.

Antes mesmo de gravar o CD vocês já tinham um bom espaço na mídia desde revistas como a Simples até jornais como a Folha de S. Paulo. E isso criou uma grande expectativa do público em relação à banda. Você acha que essa relação com a mídia foi realmente legal ou foi prejudicial?
Tem dois aspectos. O nosso público, que eu sinto que são pessoas que gostam da gente de verdade, é adolescente e jovem adulto. É gente que gosta muito. Não é um "povinho" descolado, sabe. É um povo que lê jornal, lê revista, sem ficar julgando se é cool aquilo que está escrito. Eles lêem a informação e vão atrás. E se gostam eles compram a causa. Então por esse lado é bom. Já por outro lado, tem aquele povo que se acha espertinho e cool, que quer estar na crista da onda, e lê aquilo, não ouve o som e já fala mal. É tudo uma faca de dois legumes. É bom e ruim ao mesmo tempo. Mas foi essencial para a banda que essas pessoas formadoras de opinião tenham gostado da gente no começo. A Erika (Palomino), o Lúcio (Ribeiro), foi foda. Eu sei que a gente só está aqui na Trama por causa disso. E a gente não fez nada para que eles gostassem da gente além daquilo que a gente sabe fazer, que é música. O povo fala: "Ahh, é amiguinho, da turma", mas não é. A gente fez o show, a gente fez o disco, a gente sempre correu atrás das nossas coisas. Não ficamos esperando uma gravadora vir. A gente foi lá, fez o disco, "silkou" em casa, pintou a capa a mão e vendemos em loja, vendemos no show, fizemos camiseta. Não ficamos sentados esperando o (Carlos Eduardo) Miranda bater na porta e dizer: "Ei, vocês querem gravar um disco?". Tanto que quando ele veio oferecer o contrato, o disco já estava quase pronto.

O Álvaro Pereira Jr se refere a vocês como uma banda ultratosca. O Lúcio Ribeiro diz electropunk. Peter Culshaw, do Observer, fala em "satanico samba". Entre um e outro qual é a do CSS?
O Álvaro deve ter visto apenas um show nosso, que foi no Tim (Festival 2004), se é que ele viu, né. Nunca o vi em show algum na minha vida. Acho que esse ultratosco é meio que um resquício de quando a gente começou a banda e falava: "A gente não sabe tocar, a gente é qualquer coisa". Porque no começo era mesmo. Depois, quando chamaram a gente para tocar no Tim, a gente conversou e chegou a conclusão que não dava para fazer no Tim o que a gente fazia no Outs (pequena casa de shows na Rua Augusta, em São Paulo). Tínhamos que desenvolver alguma coisa. Então tem a banda antes do convite do Tim e a banda depois. Se não tivessem chamado a gente para tocar no Tim eu nem sei o que estaríamos fazendo hoje.

A banda cresceu pra caramba...
Cresceu, cresceu. Sério. A baixista, Ira, não sabia tocar antes do Tim. Depois que recebemos o convite, ela passou dois/três meses fazendo aula todos os dias. Ela ficou louca. Ela é super sistemática. Agora ela toca de olho fechado, de ponta-cabeça. Ela não é o Jaco Pastorius, mas ela toca igual a Kim Gordon (Sonic Youth), com um dedo. Ela é 100% para o que a banda faz. Então acho que essa história de ultratosco é meio que um pré-conceito, da pessoa que leu muito a respeito, só que nunca viu. Tanto que aconteceu uma coisa engraçada em Porto Alegre, quando a gente foi tocar lá um mês atrás. Os caras de lá foram tão fudidos tecnicamente que tudo que a gente pediu para tocar eles arranjaram. Eles foram muito profissionais. E teve gente que, depois do show, veio falar que era playback. Só porque a gente toca com uma base, e a base eletrônica só tem um beat eletrônico que eu acompanho e toco por cima. Não tem guitarra, não tem baixo, não tem voz. E o cara: "Os amplificadores estavam desligados". Como assim? No fundo acaba sendo um elogio, né. Metade do show tem base eletrônica, metade não tem, e o pessoal acha que o show inteiro foi de playback, quer dizer que a gente está tocando muito bem. (risos)

Sobre o electropunk...
É por causa da base eletrônica. Quando eu compus a maioria das músicas era uma bateriazinha eletrônica com sintetizadores. E daí tem as guitarras por cima. Por isso dizem que é electropunk. Eu não gosto muito do termo electro, porque a gente não é uma banda de electro. Porque quando fala electro nego já pensa em Miss Kittin, e não tem muito a ver sonoramente com essa cena, mas tudo bem. Acho justo até.

Com o que teria?
Esse é o problema (risos). Porque o povo do rock não gosta da gente. Outro dia o cara do Cachorro Grande veio me encher o saco, veio me xingar, dizendo que "só porque eu era viado e tocava no Cansei de Ser Sexo, eu podia furar a fila do banheiro" (risos). Eu respondi: "Só porque você toca no Cachorro Quente você vem me encher o saco. Vá se fuder" (mais risos). O povo mais do rock odeia a gente. Eles têm um tremendo preconceito. Esse povo que se leva a sério, mais ferrenho. É algo assim: "Como um bando de meninas que não se levam a sério, que não sabem tocar, que se levam na brincadeira, conseguem muito mais coisas que a gente?". Por eu tocar no (Thee) Butcher's (Orchestra) tem muita gente que respeita e conhece. O Flávio, do Forgotten Boys, gosta. O Carlinhos, do Polara/Againe, fez até letra comigo para o disco. É um povo mais velho e sem preconceito. Por outro lado, o povo da música eletrônica super acolhe a gente. Então eu penso que o povo que curte música eletrônica é menos careta. Porque você vai numa noite de música eletrônica e toca rock, mas você vai num clube de rock e só toca Ramones, MC5 e, sei lá, blues, a noite inteira. É foda. O Bill quer que a gente toque no Hell's Club e vai ser muito divertido. Vai ser uma bagunça do inferno.

Pra fechar as citações, a do Observer...
Eu acho que esse "satanique samba" não era se referindo a gente, e sim a tudo que o Peter Culshaw viu. Tem até uma banda que se chama Satanique Samba Trio, que ele também viu aqui, e acho que ele usou o nome da banda para definir o conjunto da obra que ele conheceu.

Como você define uma apresentação do Cansei de Ser Sexy? No palco você são meio caóticos e nunca dá para saber o que esperar do show. Eu mesmo já vi sete shows de vocês. Tem três que eu gostei e quatro que eu não gostei...
Cara, depende muito do som que tem no lugar. Por exemplo, naquele show do Campari Rock eu me diverti muito, só que eu tenho plena consciência que o som devia estar um cu, porque todos os sons estavam ruins naquele dia. Tanto que no dia do MC5 eu fiz a besteira de chegar cedo, e tive que ir embora no meio do show do Forgotten Boys, com enxaqueca, por causa daquele barulho. Não tinha condições. Mas a gente se diverte. Se o som está muito ruim eu fico bravo e estressado no meio do show e acho uma bosta. Mas se ao menos eu consigo ouvir o retorno, tudo direitinho, às vezes tenho a ilusão de que pode ter sido bom. Eu sei que não adianta ir num lugar e fazer um show de som de merda porque só queima o filme da banda...

Sim. Poucas pessoas têm essa noção de que a banda precisa de uma estrutura para um show...
É. E a gente já é mal-visto porque aparece muito. Dai, no show, as meninas se jogam, caem no palco, mas elas tocam. Só que se o som está ruim, e a pessoa não percebe que elas estão tocando, e fica um barulho horrível. É lenha na fogueira para falarem mais mal da gente.

Nesse ponto, como foi a apresentação do Tim Festival, aliás...
Cara, eu nunca fiquei tão nervoso na minha vida inteira quanto naquele dia. O show do Tim tinha tudo para ser perfeito. Sério. A gente ensaiou todos os dias, cinco horas por dia, durante dois meses. A gente gastou, sei lá, R$ 5 mil de ensaio, sendo que eles pagaram R$ 2 mil de cachê. Então a gente pôs R$ 3 mil do bolso só para fazer ensaio. A idéia era fazer um show para calar a boca das pessoas. Só que no dia do show, a gente acordou e pensou: "Vamos passar o som". E nisso liga a pessoa do Tim e diz: "Olha, tenho uma notícia pra dar. Vocês não vão poder passar o som porque o Kraftwerk montou um palco de US$ 10 milhões e ninguém pode pisar no palco deles". Eu disse, juro: "Não vou fazer esse show". As meninas começaram a gritar, a chorar: "Vamos, a gente dá um jeito". Mas não tinha jeito. "Vocês não estão entendendo. Não é o Outs em que você vai ali e aumenta a guitarra. É outra coisa". Tudo bem, a gente tinha técnico de som, tinha tudo, mas... a gente tem uma Beta desse show e eu nunca tive coragem de assistir.

É interessante falar sobre essas coisas que acontecem no backstage...
Eu fiquei muito decepcionado na época. Foi o primeiro show que a gente fez formatado do jeito que é hoje. Eu levei o meu laptop, com placa de som, sintetizadores, era uma parafernália. Você dava um play e o negócio disparava. Tinha que ter retorno para eu poder tocar bateria por cima e elas ouvirem. Cheguei lá e não tinha passagem de som. Tinha bateria eletrônica, sintetizador tocado na hora, sintetizador seqüenciado, eu tocava com um clic na bateria e todo mundo nervoso porque não teve passagem de som e não dava para ouvir nada no palco. Sem contar a inexperiência, pois no contrato do Tim estava escrito que o show teria que ter uma hora de duração. A gente se fodeu. Um show de uma hora é muito comprido. O show hoje, com todas as músicas, tem 45, 50 minutos. E tem gente que disse: "Foi longo". Claro, a gente não sabia. Depois tem gente que foi lá e fez vinte minutos de show. Tocou os quatro hits e foi embora. Arrasou. A gente devia ter feito isso (risos).

O CD vem com um CDR. Como a banda vê a troca de MP3?
E essa pretensa liberação para copiarem o CD de vocês?

É óbvio. Quem não faz isso? Faz tempo que eu não compro CD. Eu só compro quando a capa é muito bonita e eu preciso ter o CD para ler as letras. Mas todo mundo copia CD. Hoje em dia, de tudo que a gente vê, ninguém ganha muito dinheiro vendendo CD. Tem que encontrar outra maneira de se ganhar dinheiro com música. Todo mundo que pode tem um iPod e copia música um do outro. O CD, que é legal ter, é um CD bonito, cheio de fotos, com letra, senão não vende. E essa história do CDR foi meio que para agradecer a Trama Virtual. Se não fossem os downloads que a gente teve ninguém ia conhecer a gente. É uma forma da gente agradecer. O Miranda teve essa idéia de colocar o CDR junto. "Bah, velhinho, tive uma idéia foda". E o legal é que o EP que fizemos para vender nos shows é vendido em um envelopinho. Então, quando você tem uma coleção de CDs muito organizada, você coloca o envelopinho no meio e some. O legal é que quando a pessoa comprar o envelopinho poderá colocar no lugar que ficou vago do CDR no álbum. Fica tudo junto.

Disco lançado. Quais os planos da banda daqui pra frente?
A gente quer marcar show no Brasil inteiro. A gente quer tocar.

Qual a diferença de tocar no Cansei de Ser Sexy e no Thee Butcher's Orchestra?
Por ser uma banda de meninas, a grande diferença que existe é que quando você vai viajar eles te colocam em um hotel decente. Antes do show perguntam se você quer voltar para o hotel para trocar de roupa, maquiagem. É um outro tratamento, bem mais cordial. Você não vai dormir em uma rede, na varanda da casa do cara. Nada contra. Já fiz muito isso. Tá calor, você dorme na varanda. Mas quando a banda tem menina é outro tratamento. É bem mais legal.


"CSS", do Cansei de Ser Sexy
por Marcelo Costa


Definir em palavras o som de uma banda é sempre injusto. Na maioria das vezes é até simples, mas tremendamente reducionista. É um serviço sujo, mas alguém têm sempre que faze-lo. No caso do Cansei de Ser Sexy a tarefa é ainda mais árdua. Porque a banda já foi tão badalada antes mesmo de ter um álbum pronto que o ouvinte fica com cachorros pulguentos atrás da orelha. É de se entender. Em um mundo em que o marketing supera o produto, ser enganado pela mídia é a coisa mais fácil que se pode acontecer. Então, nada melhor do que a própria banda se autodefinindo: "Music is my boyfriend / Music is my girlfriend / Music is my dead end / Music is my imaginary friend". Ou então: "O que eu gosto não é farsa / Tem guitarra, bateria, computador saindo som / Alguns dizem que é mais alto do que um furacão".

As duas aspas do primeiro parágrafo fazem parte da mesma música, Music Is My Hot Hot Sex. Na boa, uma música com um título desses não pode ser ruim. Music Is My Hot Hot Sex abre com boas guitarras pesadas, cai para uma parte suingada e depois vira um rap. Entre todas as definições que já tascaram para o Cansei de Ser Sexy, o electropunk é a que chega mais perto. Porém, quem entendeu a banda com perfeição foi o britânico Peter Culshaw, do jornal Observer: "Eles estão no meio do caminho entre uma banda-bobagem como as Spice Girls e um grupo revolucionário como os Sex Pistols". Spice Girls com Sex Pistols! É exatamente isso. Não sonoramente, mas em atitude. Não se levar à sério é uma grande virtude.

CSS é um disco dançante, festeiro e com letras cheias de sacadas legais. Tem pop songs de forte apelo comercial (Meeting Paris Hilton, Fuck Off Is Not The Only Thing You Have To Show, Bezzi), electro tosco (Alala, This Month Day 10), r&b (Let's Make Love And Listen Death From Above), regaee disfigurado (a deliciosa Alcohol), indie rock (Off The Hook), garageira (Art Bitch), eletronices (Acho Um Pouco Bom, Computer Head) e até baladinha (Poney Honey Money). Além de tudo, o disco ainda tem a canção pop de 2005, que periga ser a música do próximo verão, caso seja descoberta pelo grande público ou por algum executivo de novela da Globo. É a tola e chicletuda Superafim, que lembra muito aqueles raps cariocas feitos no fundo de casa. Tem batida de bateria e riff de guitarra que trazem o Clash de London Calling à memória (ou o Kid Abelha de Educação Sentimental II) e refrão grudento. Impossível esquecer.

Enquanto o álbum CSS reuniu o lado mais pop do Cansei do Ser Sexy, o EP CSSSUXXX, que é vendido em shows por R$ 10, traz as canções mais barulhentas, como a faixa título, as oitentistas Patins e Party Animal, além de versões alternativas - para Meeting Paris Hilton, Fuck off Rock e Art Bitch - e da primeira canção do grupo postada no Trama Virtual, três anos atrás, Ódio Ódio Ódio Sorry C. Juntos, os dois álbuns provam com bobagens e diversão que existe inteligência e bom humor na música pop nacional. Você pode até não aprovar o hype, mas não pode negar que CSS é um grande disco. Ok, até pode, mas ouça antes.



Leia também
"Uma Tarde com PJ", do Cansei de Ser Sexy, por Marcelo Costa

Links
Site Oficial do Cansei de Ser Sexy
Cansei de Ser Sexy no Trama Virtual