"Uma Tarde Com PJ", Cansei de Ser Sexy
por Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
03/03/2005

O Cansei de Ser Sexy surgiu em 2003 e, em poucos meses, virou a banda queridinha de vários jornalistas paulsitanos, ganhando um grande espaço na mídia apenas com alguns MP3 circulando na Web, nos mesmos moldes do que acontece no velho mundo, com a diferença de que lá a badalação vende discos e revistas, enquanto aqui fica tudo centrado em um mundinho praticamente fechado, a tal kitnet indie, que só faz barulho de se ouvir até a esquina, no máximo.

No entanto, a babação em torno do grupo, que se por um lado serviu para colocá-los no palco do principal festival do País (Tim Festival), também teve efeito contrário. Muita gente começou a desgostar o CSS sem nem ter ouvido ou assistido a uma apresentação da banda, apenas por asco ao hype (o que costuma acontecer mais do que se imagina). Pior: muitos do que ouviram não entenderam bulhufas do que estava acontecendo, afinal, como uma banda basicamente tão tosca e tão ruim em cima de um palco pode ganhar tanto destaque na mídia impressa? O que o Cansei de Ser Sexy tem que eu não tenho? :_)

Quer saber, mesmo? Antes de mais nada, o Cansei de Ser Sexy tem cara-de-pau. Pouca gente hoje em dia tem coragem de subir em um palco sabendo pouco ou quase nada de música, nos velhos moldes do punk 77, só por diversão. E elas se divertem, o que já é justificativa de sobra para se ter uma banda. Também não dá pra dizer que elas toquem mal, já que Adriano Butcher marca presença nas baquetas e na coordenação da desorganização. E o vocal da Lovefoxx é bom pacas, ao contrário do de Larissa, na banda clone Verafischer, que é decepcionante. Ao vivo, o som do CSS pode ser uma merda (como foi no show do Festival Independente de SP, no Anhangabaú) como pode ser divertido (como foi o do Espaço Olido), reativando um risco interessante de se correr em tempos de tanta previsibilidade musical em todo o mundo.

Em estúdio, tudo se transforma, como demonstra Uma Tarde Com PJ, EP caseiro, de arte tosca e quase 24 minutos de bobagens pop de boa qualidade, que está sendo vendido apenas em uma loja de São Paulo, a Velvet CDs. Uma Tarde Com PJ mistura batidinhas datadamente oitentistas com guitarras safadas circa 93/94, uns efeitos eletrônicos aqui, outras sacanagens vocais acolá, e, por cima de tudo, o vocal de Lovefoxx funcionando como molho de ketchup escorregando sobre uma camiseta branca novinha.

Meetin' Paris Hilton (Versão Banda) é uma deliciosa bobagem, que poderia ter sido trilha sonora de festas chapadas entre 1987 e 1994, se Paris Hilton não fosse uma piveta nessa época. Sô Lora, Sô Burra, do Disk Putas, e Hollywood, da Madonna, são toscas, toscas, toscas, tão toscas que fazem rir. Hollywood ainda surge em outra versão "dos infernos", como remix mesmo, com o vocal da pop star sobre a base tosca do CSS. Do jeito que anda apaixonada por Franz Ferdinand, se Madonna ouvir essa versão é capaz dela cair de quatro, apaixonada, como uma virgem.

I Wanna Be Your J.Lo também surge em duas versões, sendo que a versão Sleater Kinney versus J.Lo é bem melhor que Missy Elliot versus Yeah Yeah Yeahs, mas isso porque o autor deste texto prefere guitarras. Se você gostar de batidas eletrônicas, irá preferir a primeira. Uma Tarde com PJ ainda traz Odio Odio Odio Sorry C (versão banda), que não impressiona muito, e uma sacana e dispensável versão de Humanos (do Tókio, banda de Supla nos anos 80), com Adriano conduzindo toda a marcação de tempo. Por último, o grande momento do disco, o encontro de Blondie com Undertones em One Way Or Another versus Teenage Kicks, pop guitarreiro, um dos maiores refrões do punk rock, e muita farra. Nota dez.

Uma Tarde Com PJ não é imperdível nem essencial muito menos obrigatório, mas funciona se você estiver disposto a deixar o hype de lado e se concentrar no lado punk da música pop, composto por clichês, bobagens e outras mentiras que adoramos ouvir de vez em quando. Também serve para saciar a curiosidade do público, dar mais munição aos detratores, e chacoalhar festinhas no apê, ops, nas kitnets indies de SP, enquanto a banda acerta os detalhes do vindouro primeiro álbum oficial, ainda sem previsão de lançamento.

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