Festival Calango 2006 (Cuiabá)
por Mariângela Carvalho
Fotos: Bruno Dias/Urbanaque
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28/08/2006

Cuiabá, devidamente apelidada de Hell City, celebrou mais três dias de rock em seu calendário, com alegria, entusiasmo e uma interação digna de comentários por todos os presentes e prestigiado pelo público local, que pôde assistir a mais de 40 bandas de inúmeros estados brasileiros na quarta edição do Festival Calango de Artes Intregradas.

Desmistificando o calorão que faz por lá, a cidade recebeu seus convidados com um clima ameno, mas o festival deu conta de aquecer a temperatura. Primando pela organização e produção bem estruturada - mas nem por isso sem falhas - o Festival Calango foi exemplo de bom trabalho, cronograma seguido à risca e uma produção que não parou um segundo para que tudo corresse da melhor maneira possível. Com alguns imprevistos e todos sendo solucionados prontamente, a equipe organizadora conseguiu preparar e fazer um evento que, definitivamente, foi um marco.

Muito além de um festival de música, a qualidade "Artes Integradas" do evento se deu pelas palestras organizadas no MISC, localizado no centro da cidade - muito bonito, diga-se. O "Calango na Mesa" suscitou questões importantes quanto à disseminação e distribuição da cultura alternativa por todo o território nacional, além de ter abrigado reuniões do "Circuito Fora do Eixo" onde produtores, bandas, jornalistas, representantes de selos, gravadoras, revistas, TV e rádio se encontraram para uma conversa e para a pré-estruturação de um plano de ação que discutirá a implementação das artes e sua distribuição pelo país inteiro.

Em três dias de comemoração, o Festival Calango cedeu espaço a 44 bandas que surpreenderam, empolgaram e entreteram o público. Shows consistentes, qualidade técnica muito boa, surpresas, novidades, constatações e as bandas prata-da-casa fizeram da edição 2006 do festival um exemplo notório de como é possível trabalhar no independente mantendo e visando o crescimento artístico e estrutural da cultura hoje. E isso vai muito além da música.

Abaixo, você fica sabendo melhor como foram os três dias de festival.

Começando com atraso e tendo o cancelamento das três primeiras apresentações, o início do Festival Calango 2006 foi com a banda sergipana Rockassetes, atualmente residente em São Paulo. O trio foi visto por poucos, mas conseguiu captar a atenção dos presentes na arena do evento. Dividindo o show entre as músicas do primeiro EP com o single virtual As Flechas, lançado pelo Senhor F Virtual, João Melo (baixo) e os irmãos Léo (bateria) e Bruno Mattos (guitarra/vocal) mostraram um rock daqueles que se encaixam no bom e velho jargão rock'n'roll. Música bem feita, letras divertidas em bom português, guitarrinhas saturadas, baixo competente e bateria na medida. Tirando o descuido (pequeno, é verdade) com a qualidade técnica, especialmente no microfone principal, a banda fez um belo show, dando o ponto de partida no festival e mostrando seu trabalho pela primeira vez em Cuiabá.

As quatro apresentações que se seguiram, oscilando entre o Palco 1 e Palco 2, foram exemplos pesados da música nacional. Na verdade, o primeiro dia do evento primou pelo peso e densidade das bandas convidadas. Com exceção dos já citados Rockassetes e da banda Enne (MG), a noite foi dedicada a grupos adeptos do peso, baterias carregadas e muitos esporros no palco - sem contar o desfile de vozes guturais. Sangue Seco (GO), Sinestesia (TO), Chilli Mostarda (MT) e Coveiros (RO) rechearam a programação enquanto o público começava a chegar e lotar o estacionamento da UNIC. Ao que parece, Cuiabá tem tradição e fãs de som mais pesado - heavy mesmo - e o público mostrou-se interessado pelas apresentações, embora ainda estivessem um pouco intimidado. Foi com o show do Chilli Mostarda, banda da casa, que o público começou a se soltar e interagir. A partir daí, o Calango começou a adquirir clima de festival mesmo, com mais público presente e olhos e ouvidos atentos ao palco.

O show dos mineiros do Enne se destacou em meio ao peso e heavies de plantão. Embora parecessem intimidados, os rapazes mostraram um som competente, bem marcado e dosado. Talvez falte a eles um pouco de interação com o público e aquela certa entrega à música. Nada que desabilite a banda em se tornar um importante nome do independente. A primeira apresentação que realmente rendeu urros flertava com o peso, o punk e até elementos mais afeminados: Johnny Suxxx 'n The Fucking Boys. Os goianos já passaram por Cuiabá antes (no Grito Rock também deste ano) e parece que deixaram alguns fãs em Hell City, todos doidos por uma próxima apresentação da banda. O vocalista Johnny (ou João ou até mesmo Joana, como é "carinhosamente" chamado pelos amigos) usava um shortinho bem estilo Axl Rose e rebolava como uma Carla Perez da vida. O som é de matar: ótimo vocal de Johnny e show a parte de seus contorcionismos, caras e bocas e os Fucking Boys mandando bem, guitarrinha serial killer, baixo gravíssimo, pesadão, ora marcado numa nota só ora levado por solos mais intensos e bateria badass. Os caras são goianos, tal qual os também pesados Hang The Superstars e MQN, mas se diferenciam em algo: Johnny Suxxx é um camarada carismático e empolgou demais o público presente, ainda mais quando chamou ao palco Daniel Belleza (hoje, ídolo dos cuiabanos e figura constante por aquelas terras) para dividir os vocais numa cover de T-Rex. Suxxx empolgou também pela simpatia, pelos sorrisinhos sarcásticos e pela pose - que ele tem de sobra. Eles podem não ser originais no que fazem, mas realmente fazem muito bem. Foi um dos melhores shows da noite.

A seguir, Zagaia, também de Mato Grosso, se apresentou contando com o apoio dos presentes para fazer um dos shows mais cantados e interativos do festival. Na seqüência era a vez do trio paulista The Dead Rocks subir ao palco. Numa apresentação redonda, onde não faltaram dancinhas estilo Uma Thurman e John Travolta em Pulp Fiction, o surf feito pelo grupo empolgou bastante os presentes, ainda mais se considerarmos que bandas instrumentais quase sempre acabam por dispersar a atenção do público. Vestidos em ternos pretos e gravatas coloridas, The Dead Rocks entram para o escalão das melhores bandas de surf music no Brasil, ao lado do Gasolines e Retrofoguetes. O show foi rápido, mas suficiente (e eficiente, claro) para descontrair e conquistar cuiabanos atentos à música de qualidade.

O melhor show da noite ficou por conta dos paraenses do Madame Saatan. Depois de mais de 50 horas de viagem de Belém a Cuiabá, a vocalista Sammliz - muito bonita, simpática e dona de uma presença de palco impressionante - e seus comparsas Ícaro Suzuki (baixo), Ivan Vanzar (bateria) e Edinho Guerreiro (guitarra) mandaram muito, mas muito bem no palco. A princípio, o público se mostrou apático e displicente, mas essas qualidades também podem ser confundidas com hipnose. Sammliz é a melhor show-man mulher que deve existir no cenário independente. E ela tem um vozeirão poderoso, sem contar a pequenez e beleza de seu corpo de menina. Dona de um sorriso muito simpático, agilidade e energia não faltaram no palco durante a apresentação da banda. Entre conversas e comentários com o público, a vocalista - lá pela terceira, quarta música - perguntou se a galera estava com frio (!), porque, afinal, viajar tantas horas merecia, no mínimo, uma acolhida mais acalorada. No fim, eles conseguiram animar e captar a atenção do público, que seguia os passos, entrelaçadas de pernas e poses de Sammliz. Embora ela seja o ponto de atenção único no palco, não há de se esquecer que a banda toda é detalhista e trabalha às margens da perfeição sonora. "O" show na primeira noite de calango.

Borderlinez, banda paulistana com já alguns anos de estrada - e que agora conta com Jeff Molina na bateria (um dos Corações em Fúria da trupe de Daniel Belleza), entrou no palco com a certeza da identificação com o público. Também pudera: eles são um dos nomes mais fortes e conhecidos da galera punk rock, seja em São Paulo ou lá em Cuiabá mesmo. Sucesso à parte, antes do fim da última música, o som do palco foi cortado por excesso de tempo... E olha que não restava nem um minuto de música para acabar - organização rígida com o horário. A penúltima apresentação foi também de uma banda local, os stoners Fuzzly. Tendo de volta em sua formação Daniel Típico, que havia deixado a banda tempos atrás e retornou especialmente para esta apresentação, eles quase transcendem o peso. Quase porque têm potencial para fazer muito mais do que fizeram na apresentação e também porque pareciam distantes e pouco confiáveis em seu próprio trabalho. Porém, sabe-se que os caras mandam bem nas apresentações ao vivo, tanto que já se apresentaram em terras argentinas tendo registros gravados lá e lançados em coletânea conjunta. O grupo deve se apresentar nos primeiros dias de setembro na cidade de São Paulo e promete se entregar ao peso e ao stoner de fato. Assim esperamos.

Para fechar o primeiro dia, Subtera (PR) subiu ao palco e começou chamando a atenção por causa do baterista. O cara é tão ágil e rápido que foi apelidado de metralhadora. Bem pesado também, o Subtera agradou aos que por ali circulavam e ensurdeceu alguns pobres incautos, que não faziam idéia da potência do grupo paranaense.

Já para a segunda noite, todos aguardavam a sucessão de bandas boas, conhecidas e já de certo renome na cena independente. O evento foi iniciado pela apresentação de duas bandas escolhidas durante as prévias do festival, seguido por Regra Zero (RJ), The Bonnie Situation (SP), formado por integrantes do Ludovic, Asthenia (MT), Mezatrio (AM) e The Melt (MT).

A coisa toda começou a se tornar realmente interessante lá pelas nove e meia, quando subiu ao palco os Sapatos Bicolores (DF) com direito a topete-brilhantina, sapatos lustrosos e os poderosos olhos verdes do vocalista André Vasquez. Os Sapatos, já conhecidos por boa parte dos presentes, fez o pessoal dançar confortavelmente a base de seu rockabilly abrasileirado. Uma apresentação com grande dispêndio de energia e gritinhos femininos que fez empolgar e esquentar ainda mais a melhor noite do festival.

Numa apresentação redonda e com participação de Hélio Flanders (Vanguart) e Daniel Belleza, o Porcas Borboletas (MG) ensandeceu e encorpou o espírito rock que pairava no ar. Já os Los Porongas fizeram uma apresentação exata no que se refere à inexistência do estado do Acre: ele existe e não é mentira. E, musicalmente falando, a banda é a maior confirmação disso. Numa apresentação bela e bastante densa, os acreanos ganharam confiança e notoriedade, discursaram verdadeiramente sobre fazer música independente hoje no Brasil e sobre a importância do Festival Calango para este cenário. Deixando a conversa, o show deles funciona mesmo ao vivo e leva a sinceridade dos MP3s ao palco, principalmente com a conhecida Lego de Palavras. No que depender da opinião de público e crítica, o Los Porongas vai se dar bem, principalmente agora que está a ponto de lançar o primeiro disco cheio pelo selo Senhor F Discos, de Brasília. Além do Acre existir, dele saiu uma das melhores e mais sinceras bandas do novo rock brasileiro.

O Revoltz, que tem sua formação distribuída por São Paulo, Porto Alegre e a própria Cuiabá, foi assistida de perto e com empolgação. Os hits chicletudos do vocalista, baixista e letrista Ricardo Kudla bateram de frente com o espírito jovem e destemido do público. Tocando quase na íntegra as músicas do primeiro EP A Chinesa, os cuiabanos (sim, porque eles se referem a si próprios como uma banda cuiabana) parecem ser um dos preferidos da cena local e foram ovacionados, além de terem sido acompanhados em coro em canções como Arnoldilene, Mr. White, Você Não Vai Me Conquistar e a mais pegajosa de todas: O Capítulo que Ela Encontra o Monstro. Um show delicioso de se ver e ouvir. Mais impressionante que as tais canções chicletudas do Revoltz, foi o punk rasgado e bem humorado do Pelebrói Não Sei (PR). Depois de se divertirem em um churrasco durante a tarde, à noite a banda levou seu humor, suas piadas e seu profissionalismo para o palco 1 do festival, onde se apresentaram com entusiasmo, cervejas e as pirações do vocalista Oneide. Surtos, gritos, piadinhas bem sacadas e ótimo nível de interação, os paranaenses destilaram simpatia, boa música, ótimos instrumentistas e bastante energia, tudo guiado pelo vocalista falastrão (pelo menos no palco).

Macaco Bong, consagrado em sua terra natal, teve uma apresentação impecável, adornada por um som bem construído e se desvencilhando das previsibilidades que eram de se esperar de uma apresentação em casa. Já o Ludovic (SP) era a banda mais "em casa" vinda de fora. O quinteto - que já foi até considerado o The Smiths brazuca -levou o público à pré-loucura. As letras viscerais, a catarse prolixa das músicas e a entrega total de seus integrantes ao momento, fizeram bonito nas terras cuiabanas. Jair Naves, dono de uma serenidade incrível e de opiniões contundentes deixou muitos dos presentes boquiabertos. O show é uma ebulição de sentimentos: culpa, arrependimento, raiva, desolação e introspecção. As letras pesadas e soturnas têm arranjos de mesmo nível, arquitetados e construídos pelas mãos de Zeek Underwood, Fabio Sant'Anna, Júlio Santos e Eduardo Praça. Se o pessoal de lá já gostava, depois desta apresentação o jogo ficou ainda mais ganho.

A penúltima banda da noite foi aquela que todo mundo quer saber: Vanguart. Impressionou vê-los reinando absoluto em casa, com amigos, conhecidos, família e etc. Assistir a um show do Vanguart é sempre um espetáculo, mas assisti-los em Cuiabá foi um momento único, onde o sucesso do grupo, muito mais que hype, é verdadeiro. A multidão que lotou o estacionamento da UNIC no sábado é um pessoal de sorte. Abrindo a apresentação com Hey Yo Silver e fechando com Last Express Blues, o mais conhecido e adorado trem expresso musical levou à loucura total (que começou no show anterior, de seus amigos Ludovic) os espectadores da noite, que cantaram em uníssono todas as músicas. Foi uma honra e de satisfação extrema ver a apresentação dos Vangs em Cuiabá, afinal, não há lugar melhor no mundo que nossa casa. Eles que o digam.

Fechando a tampa de uma noite inesquecível os Astronautas, com seus samples, peso, cibernética e macacões vermelhos subiram ao palco para fazer um show intenso. Nada de músicas novas - que já estão prontas e em breve serão lançadas no terceiro disco da banda. Uma apresentação que levou muitos à cegueira (devido à intensidade de luzes), à surdez (peso, peso, peso) e também a acreditar que ali estava sendo comemorado não somente o sucesso daquela noite ou do festival, mas o de uma cena musical (que muitas vezes leva indevidas aspas) que, não fosse a extensa territorialidade do Brasil, já teria se estendido por todo o país com força e pela competência de vários.

Assim como nos outros dias, a terceira noite do festival teve sua abertura com bandas escolhidas durante as Prévias Calango. Na seqüência, Unknown Project (SP) fez muitos pararem e ficarem atentos ao palco, com um som etéreo, espacial, ao melhor estilo At The Drive In de qualidade soberba. A próxima, uma das mais surpreendentes apresentações do festival, foi da dupla playmobil-punk (desculpem o rótulo, mas ele é simplesmente perfeito para eles) Lucy and The Popsonics. Eles mostraram o electro (?) punk (?) rock (?) and roll (?) feito nas terras do Planalto Central. Duplinha na linha The Kills e até mesmo os Stripes, Fernanda e Piu Popsonic sabem a que vieram: diversão. Um show divertido, cheio dos barulhinhos sintetizados e programados, um baixo feminino bem pontuado e uma guitarra bem barulhenta. Sem contar os vocais doces-raivosos da garota e os backing contrastantes do rapaz. Sem contar também que o show teve direito à gemidos, gritos, dança sincronizada e uma versão incrível para Rockaway Beach, dos Ramones, que, se foi tão diferente do original, foi também proporcionalmente punk e empolgante.

Não fosse pela não-ida de Marco Butcher (Thee Butcher's Orchestra), o próximo show seria do próprio, encarnando seu alter-ego blues The Uncle Butcher. Fica para a próxima uma apresentação do cara - se ele aparecer. Brinde (BA) e Dragsters (MT) levaram influências britânicas e guitarras bem sujas a Cuiabá, no melhor estilo grunge saído de Seattle. Já o Trilobita, de Londrina (PR), mostrou seu instrumental arranjado pela trinca baixo/bateria/guitarra e um theremim vibrando pelas mãos de Dino, responsável também pelas bases programadas. Som industrial de primeira, inspirado por Nine Inch Nails e Mike Patton. De estilo completamente diferente, era a vez das garotas do Lazy Moon, também banda local, subir ao palco e destilar suas influências college rock pop pirulito indie guitar. Elas têm potencial e - a julgar pelas influências - podem chegar longe, mas o som ainda é cru e precisa dar mais uma encorpada. Grupo perfeito para se juntar ao escalão de outras bandas com meninas na formação - como o Drosóphila - e chegar a ser as Donnas brasileiras. Já o Monno (MG), com influências do rock 00, podia ter feito uma apresentação mais quente e envolvente.

Com 23 anos de estrada e um show brilhante, o Caximir (MT) conseguiu entreter de forma psicodélica. Com direito a muitas cores, jogo de luz, influências regionais e até um guarda-sol multicolorido, o septeto agradou bastante, misturando música, teatro e contra-cultura. Na mesma linha regional auto-referencial, foi a vez do La Pupuña (PA) subir ao palco. Camisas floridas, shorts brancos e rock-pexada no palco. O que se viu foi o show mais dançante e dançado do Calango. Verdadeiras rodas se abriram no público, cada um dançando da maneira que melhor lhes convia no momento. De arrasta-pé a reggae, todos os passos de dança foram encenados num show a parte pelo público. Já o Superguidis, os verdadeiros e melhores indies do país, fizeram um show na medida exata: abriram com Malevolosidade e fecharam com Riffs. O quarteto gaúcho tem pinta de loser, mas somente na opinião dos próprios. No palco eles são guitar heroes em potencial e fora são jovens como tantos por aí, felizes com a possibilidade de fazer o que gostam (desnecessário dizer): música. A penúltima apresentação do festival foi do Lord Crossroad (MT) seguida pela bem humorada Graforréria Xilarmônica. O trio de Porto Alegre se encarregou de fechar as festividades de três dias e mandar todos felizes da vida de volta para casa e com a certeza que a cena independente nacional de hoje já é uma realidade e funciona mesmo.

Mariângela Carvalho é jornalista e apresentadora do programa Independência Ou Morte, na Rádio Faap


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Site Oficial do festival Calango 2006