"Baby 81", Black Rebel Motorcycle Club
por
Marcelo Costa Email
28/05/2007
Se existisse alguma lógica na história da música pop, este "Baby 81", quarto álbum da carreira do trio norte-americano Black Rebel Motorcycle Club, teria visto a luz do laser uns três anos atrás, justamente antes de "Howl", terceiro álbum do grupo, que apostava todas as suas fichas no folk, no blues e no soul, radicalmente. Após exorcizar sua paixão por Bob Dylan em "Howl" (segundo melhor disco no Prêmio Scream & Yell 2005), o BRMC retoma a porrada dos dois primeiros álbuns com guitarras pesadas, bateria acelerada e cutucadas políticas, sem fechar as portas para violões, baladinhas ao piano e um folkzinho safadamente pop com gaita. Prepare-se, leitor: você está diante de um dos grandes discos de 2007.
A primeira diferença de "Baby 81" para "Howl" surge logo nos primeiros cinco segundos do álbum. Se "Howl" começava com um vocal a capella, "Baby 81" é aberto com um riff seco, sujo e pesado de guitarra, que serpenteia sobre si mesmo. É "Took Out A Loan", que versa sobre corações vazios e confusos. "Berlim", a próxima, é a preferida dos fãs da banda no site oficial do Black Rebel Motorcycle Club. Não é a toa. Uma porrada com bumbo socando o peito, guitarras chicletudas e um vocal inspirado credenciam "Berlim" como um dos melhores momentos do álbum. "Weapon Of Choice", primeiro single do disco, acelera a batida de violões do álbum anterior, enfia doses cavalares de guitarras por baixo (por cima e pelos lados) e avisa: "Não desperdiçarei o meu amor com um país".
Depois de três canções arrasa-quarteirão, a banda coloca as guitarras distantes na mixagem, e valorizam o piano na balada porrada "Window", que lembra Beatles em algum lugar (mas eu mesmo não sei onde) enquanto aponta o dedo para o peito do ouvinte: "Seu coração é a sua fraqueza". Desse ponto em diante, o disco se parte em porradas rock and roll ("Cold Wind", "Need Some Air", "Lien On Your Dreams") e canções mais lentas, ora baladas folk como "666 Conducer", ora gospel com uma longa introdução de órgão como "All You Do Is Talk", ora rock assoviável como "Not What You Wanted" (outra das grandes canções de "Baby 81"). Levada por violões, e com um belíssimo arranjo de cordas, "Am I Only" fecha o álbum de forma bela e melancólica.
Se o mundo fosse perfeitinho, e tudo seguisse uma ordem correta, "Baby 81" deveria ter vindo antes de "Howl". Suas quedas pelo folk, gospel e blues (inéditas nos dois primeiros discos da banda) não assustariam tanto como assustaram na virada brusca do disco anterior. Mas o mundo pop (felizmente) é recheado de surpresas e decepções sem ordem aparente. Quem cedeu um voto de confiança para o BRMC no excepcional disco anterior, pode colher barulho de primeira grandeza agora. Em seu quarto disco, o trio mistura influências de Jesus and Mary Chain (aquele vocal doce e psicótico), Bob Dylan (o folk, o blues, o ativismo) e Hells Angels (a paixão por guitarras altas e jaquetas de couro). O resultado é um disco forte e empolgante, que deve soar ainda melhor ao vivo. Agora é aguardar que a banda baixe por estes lados. E arrumar um lugar para esse álbum na (sempre complicada) lista de melhores do ano. O BRMC merece.
Leia Também:
"Howl", do BRMC, por
Marcelo Costa
|