Entrevista - Sam Endicott, do The Bravery
Por Marco Antônio Barbosa
Jornal Musical
01/12/2006

"O novo disco é bem diferente do primeiro. Quer dizer, ainda soamos como o Bravery de sempre, mas agora parece MAIS com o Bravery, dá para entender? Faz algum sentido pra você? Acho que não, né?" Essa foi a, digamos, 'explicação' que Sam Endicott, vocalista do The Bravery, fez a este repórter sobre o próximo disco da banda, The Sun and the Moon. Que, como todo mundo já deve saber, foi testado no Brasil em primeiríssima mão quando da recente passagem da banda por aqui (no festival Nokia Trends, no qual o grupo novaiorquino foi uma das principais atrações). Endicott conversou com o S&Y alguns dias antes do grupo desembarcar no país para dois únicos shows - o outro foi no Circo Voador (RJ), um dia antes de São Paulo.

E, de fato, o quinteto chegou a tocar músicas inéditas, como Shapes e Believe, junto às canções do disco de estréia (The Bravery, 2005). "O novo disco é bem mais - odeio essa palavra - 'orgânico'. Captura o som de cinco caras tocando juntos em uma sala. Ainda tem um monte de sons estranhos no meio, mas em vez de serem sons produzidos por sintetizadores, como era no primeiro disco, agora os barulhinhos são feitos por instrumentos de verdade. Cordas, órgãos, efeitos esquisitos nos vocais, esse tipo de coisa", narra Endicott. Produzido pelo 'Liminha indie' Brendan O'Brien, o disco deve sair nos primeiros meses do ano que vem. "Há muito mais musicalidade agora, mais variação nos andamentos e nos climas das faixas", completa.

O segundo disco será o vestibular definitivo para o Bravery, que conquistou popularidade com seu som sintético e roqueiro, que funde glamour tecnopop e rispidez pós-punk, ambas as vertentes influenciadas pelas matrizes dos anos 80. Você sabe quais são: Duran Duran, new romantic em geral, The Cure... "Quando começamos, nos inspirávamos muito no cenário underground da música eletrônica em Nova York", Endicott conta, e enumera seus pares: "Bandas como DFA, Rapture, !!!, Out Hud e Le Tigre, que combinavam eletrônica com rock de garagem. De fora de NY, curtíamos coisas como Air, Daft Punk e Peaches". Mas o vocalista bravateia: "Já disse certa vez e repito: não existe nenhuma outra banda que seja tão eletrônica quanto nós, e ao mesmo tempo tão roqueira também".

O sucesso do single An Honest Mistake garantiu à banda o direito de pôr a cabeça acima da massa de grupos revivalistas que se renova, ano após ano, desde o advento dos Strokes. "Não sei explicar direito a razão de nosso sucesso. Tivemos muita sorte", afirma Endicott. "Mas também fizemos várias coisas por iniciativa própria, tomamos atitudes que outras bandas demoraram muito a tomar. Gravamos nosso disco de estréia por conta própria e o pusemos na internet. E fizemos auto-promoção pra caralho em NY. Sempre fizemos muitos shows, passamos filipetas, dávamos CDs de graça em todo lugar. E de repente, grandes rádios nos EUA e Inglaterra estavam tocando aqueles pequenos MP3 baixados de nosso site. Acho que foi por isso que as coisas andaram tão rápido", considera o cantor.

Lançado em março do ano passado, The Bravery, o disco, chegou ao quinto lugar da parada britânica (18º nos EUA), empurrado por um hype que reverberou até aqui no Brasil. "Ainda adoro escutar o disco hoje", confidencia Endicott. "É como uma bola de energia. Tudo soa tão rápido e urgente nele! Custou tipo uns dez dólares para ser gravado. Eu mal sabia tocar guitarra naquela época". O sucesso levou o Bravery a dividir turnês e palcos de festivais com manda-chuvas como U2, Depeche Mode e Duran Duran. "É, tocamos com alguns dos grandes", reconhece o cantor. "Achei ótimo perceber que essas bandas enormes, importantíssimas, também acabam fazendo as mesmas merdas que também fazemos. No fim do dia, são apenas um bando de caras tocando, assim como nós. Por acaso eles conseguiram fazer música muito, muito boa, por um período muito, muito longo de tempo". Nada mau para um grupo que fez seu primeiro show há meros e exatos três anos, em novembro de 2003.

Se alguém tiver paciência para escutar sobre isso, Sam ainda se dispõe a comentar um pouco sobre a decantadíssima - e cansadíssima? - cena roqueira da Big Apple. "Não estamos mais tão imersos na cena quanto já estivemos um dia", admite Endicott, lembrando que o Bravery passou boa parte do ano gravando o disco novo em Atlanta, Geórgia. "Mas ainda há várias bandas novaiorquinas que eu gosto, e que estão com discos novos na praça. O Interpol e o Ambulance LTD estão gravando coisas novas. Excursionamos com o Radio 4 há pouco tempo e os acho ótimos, foi muito excitante tocar com eles. E eu também amei os últimos dos Strokes e Yeah Yeah Yeahs. Então há várias bandas de NY que eu gosto, mas reconheço que deveria estar mais ligado nos grupos novos, que estão aparecendo agora. Terei de dar um jeito nisso... "

P.S.: Perguntado a respeito de Brandon Flowers, Endicott preferiu não se pronunciar.


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Site Oficial do Bravery