Entrevista com Bid
por Marcelo Costa Foto: Pio Figueiroa
maccosta@hotmail.com
20/04/2005
Produtor de renome, Bid estréia solo com Bambas & Biritas Vol. 1, um álbum repleto de participações especiais, que privilegia a brasilidade em um som que passeia pelo funk, soul e pelo hip hop sem esquecer a eletrônica, presença constante na vida do produtor. Além de membro fundador do Funk Como Le Gusta, Bid é DJ e já produziu remixes para Fernanda Abreu, Otto e Planet Hemp, entre outros. Sem contar discos para Chico Science & Nação Zumbi (Afrociberdelia) e Mundo Livre S/A (Por Pouco).
Bambas & Biritas Vol. 1 começou a nascer há quatro anos. "Eu ia encaixando
esse trabalho solo nos intervalos dos outros trabalhos", conta Bid em entrevista
ao S&Y. "Todas nasceram da secretária eletrônica. Eu telefonava para a secretária
eletrônica do estúdio e deixava recado com a idéia, para não esquecer", conta
o produtor. Bambas & Biritas Vol. 1 conta com um time luxuoso. Black Alien,
Elza Soares, Rappin' Hood, Seu Jorge, Marku Ribas, Carlos Dafé e Arnaldo Antunes
são alguns dos nomes que marcaram presença no disco. São 53 músicos participando",
contabilizou o produtor.
Tanta gente diferente, no entanto, não fez com que o trabalho perdesse em unidade.
"São pessoas com que eu já trabalhei antes, ou no Funk (Como Le Gusta), ou em remixes, ou em produções",
diz Bid. "O mais legal do projeto é que todo mundo estava a fim de estar lá. Não
era uma coisa do tipo: 'putz, tem gravação'.
Sinto que todo mundo participou de coração", acredita. Segundo ele, Seu Jorge
gravou sua participação (cantando E Depois, parceria do cantor com o produtor)
em apenas uma tarde. "Black Alien também fez em um dia a parte de escrever
e gravar", relembra.
As parcerias, alias, se destacam no álbum. Rappin’ Hood ouviu a melodia de Bid e decidiu homenagear o amigo Sabotage. O resultado é a emocionada Maestro do Canão.
"Eu adorava o trabalho do Sabotage e tenho o maior respeito pelo Rappin Hood",
comenta Bid. O produtor acredita que o parceiro na música precisa ter liberdade
para experimentar. "Quando o Black Alien fez a letra, é o que ele escreveu, o que ele sentiu em cima da música
instrumental que foi oferecida. A gente sempre espera que de certo. Nesse caso,
acho que deu super certo, fiquei super feliz", festeja.
Já a parceria com Arnaldo Antunes teve um q de inusitado. "Eu fiz a música com o Marku Ribas. Ele gravou uma voz guia, cantarolando qualquer coisa, umas palavras que soavam alguns sons. Então pensamos no Arnaldo Antunes e mandamos para ele essa fita. O Arnaldo pegou o jeito do Marku cantar e criou palavras em cima dos sons que ele havia improvisado. Muito da letra nasceu inspirado e baseado em uma coisa meio cantarolada, que não
era nada. Foi muito bem feita pelo Arnaldo Antunes. E ficou legal porque o Makcu
canta muito bem, com muito feeling", conta o produtor.
Além das nove músicas originais, compostas exclusivamente para o álbum, Bambas & Biritas
Vol. 1 traz dois bônus tracks, sendo que um deles é Roda Rodete Rodeano ,
com a voz do amigo Chico Science. Essa foi a primeira experiência de Bid no estúdio
com a Nação Zumbi, e que rendeu, em seguida, o aclamado Afrociberdelia.
"A gente fez ela, depois fez Maço, e fizemos mais uma, que está guardada,
quem sabe talvez para o volume dois do Bambas e Biritas. (risos). Macô entrou
no Afrociberdelia e
essas duas ficaram guardadas", diz. A música já havia sido liberada para
um CD que saiu encartado em uma edição da revista Trip,
que homenageava Chico Science. "Eu achei que sair só na Trip não foi suficiente.
Não é todo mundo que teve aquele exemplar da revista, e acesso a essa música.
Achei que era uma idéia bacana colocá-la no disco, tanto que ela vem como bônus
track, não faz parte do disco. É um brinde mesmo. É para as pessoas que curtem
o Chico, e porque ela soa tão atual para mim quanto era quando ela foi feita.
Você escuta hoje e ela é atual. E é legal ouvir o Chico improvizando sobre Caju
e Castanha. É uma
honra. Achei legal colocar no disco, importante tirar da gaveta", explica Bid.
Para o produtor, a parceria com Science e a Nação Zumbi em Afrociberdelia é um
de seus trabalhos mais especiais. "O Afrociberdelia, para mim, é um disco especial e muito importante. Tanto pelo resultado quanto pela importância na minha vida, fundamental. Ele foi o primeiro disco que eu produzi, primeiro trabalho de produção mesmo, na integra. Ele me abriu tanta porta, aqui no Brasil e fora, de gente que escutou e me chamou, pelo Afrociberdelia", destaca, abrindo espaço,
ainda, para outra banda recifense, o Mundo Livre S/A. "O Por Pouco, do Mundo Livre, é um disco que adoro. Foi feito de forma muito especial. O Mario Caldato, no final, fez a mixagem comigo. Soa incrível, mas por algum problema com a gravadora, na época, o disco se calou. Trabalhou-se o single errado. É um disco que ficou meio cult, que pouca gente conhece, mas é um dos favoritos dos que eu me envolvi. É um disco que eu paro para ouvir ainda hoje, ouço
mesmo, faz parte dos discos do meu carro", conta.
Antes de ser lançado no Brasil, Bambas & Biritas Vol. 1 foi editado na Europa e no Japão. A resposta do lançamento
animou Bid. "O disco está tocando na maior rádio da Itália, além do clipe de Mandingueira, que está passando na MTV de lá. Também está saindo em revistas, matérias bacanas. É um processo que vai acontecendo. Agora eu quero começar
a pensar nos shows", avisa, já adiantando o que planeja para os palcos.
"Estou montando uma banda especial. Será um sexteto. Carlos Dafé e Marku Ribbas participam da banda. A gente vai fazer músicas do Bambas e Biritas, músicas do Dafé e músicas do Marku. Vai ser bem roots. Vamos ter samplers e percurssão com o Bruno Buarque. O Lula Barreto (ex-União Black) vai tocar baixo. E na batera é o Rocco, meu irmão. Ele mora em Los Angeles, mas está aqui
e vai trabalhar com a banda por um tempo. Vai ser bacana", acredita.
Confira a integra da entrevista:
Há quanto tempo você está planejando um álbum solo?
Quatro anos. Eu compus a parte instrumental e a Não Pára em duas semanas. Esse foi o começo. Dai em diante, dividi o tempo com os trabalhos que eu estava fazendo. Eu estava tocando no Funk Como Le Gusta. Participei do disco tocando, compondo, da produção. E também fiquei fazendo trilhas de filmes, documentários. Então, eu ia encaixando esse trabalho solo nos intervalos dos outros trabalhos. Eu ia adiantando as músicas. Todas nasceram da secretária eletrônica. Eu telefonava para a secretária eletrônica do estúdio e deixava recado com a idéia, para não esquecer. Também estou com a cabeça igual a tua (risos) (Nota: o jornalista tinha explicado que estava gravando a entrevista pois não dava para confiar na memória :_). Senão esquece. O disco nasce com a história da secretária eletrônica, como registro das idéias, e então cada música vai para o computador e se transforma cada uma em uma. Fui desenvolvendo elas nesses últimos quatro anos. Eu ia chamando gente, ia mandando para alguém escrever letra, e quando a letra chegava eu já pensava em que poderia cantá-la. Gravava voz. Todo o processo durou quatro anos, com mixagem e tudo.
Como funciona isso de escolher determinada pessoa para uma música?
É meio intuitivo. São pessoas com que eu já trabalhei antes, ou no Funk, ou em remixes, ou em produções. São artistas que eu gosto, compositores que eu gosto, e que entraram para reforçar o time. Não existe uma forma. Fui fazendo ao longo do caminho. "Essa aqui tem a cara de não sei quem, vou mandar", é assim. Seu Jorge veio aqui e fez tudo em uma tarde. Black Alien também fez em um dia a parte de escrever e gravar.
Rola uma interatividade? Do cara chegar e querer mudar uma letra ou algo em um arranjo?
Eu acho que é preciso dar essa liberdade. Quando o Black Alien fez a letra, é o que ele escreveu, o que ele sentiu em cima da música instrumental que foi oferecida. A gente sempre espera que de certo. Nesse caso, acho que deu super certo, fiquei super feliz. O Rappin’ Hood fez um tributo ao Sabotage. Eu não sou da periferia e não faço parte do movimento rap, apesar de ter uma coleção de discos de rap, reconhecer a cultura hip hop, freqüentar shows e tudo. Eu gosto, mas o que vale é a linguagem do Rappin’ Hood. É verdadeira. Eu adorava o trabalho do Sabotage e tenho o maior respeito pelo Rappin’ Hood. Ele trouxe, e eu disse: "Legal, faz". Não acho legal interferir. Ou funciona ou não. Tem uma letra que eu recebi e que não funcionou. É uma coisa meio de sorte. Tem que torcer...
A do Arnaldo Antunes?
Eu fiz a música com o Marku Ribas. Ele gravou uma voz guia, cantarolando qualquer coisa, umas palavras que soavam alguns sons. Então pensamos no Arnaldo Antunes e mandamos para ele essa fita. O Arnaldo pegou o jeito do Marku cantar e criou palavras em cima dos sons que ele havia improvisado. Muito da letra nasceu inspirado e baseado em uma coisa meio cantarolada, que não era nada. Foi muito bem feita pelo Arnaldo Antunes. E ficou legal pois o Marku canta muito bem, com muito feeling. O mais legal do projeto é que todo mundo estava a fim de estar lá. Não era uma coisa do tipo: "putz, tem gravação". Sinto que todo mundo participou de coração. A soma de tudo isso criou uma vibe tão boa que o resultado ficou bom. São 53 músicos participando...
No que Bambas e Biritas se diferencia de seu trabalho com o FCLG e com o Professor Antena?
Na verdade, acho que uma seqüência do meu trabalho. A diferença é que agora está no meu nome, e é mais responsa. Mas sigo fazendo o que sempre fiz. Gosto dessa coisa de misturar escola velha com escola nova. Escola velha pega frescor e renova. Escola mais nova se aprende muito. Então tem essa coisa do velho novo. Também tem o fato de ser uma coisa diferente. O Funk era uma big band. São onze músicos e isso influí na forma de fazer arranjo, onde colocar a tua parte para não embolar. E é um aprendizado de relacionamento humano. Isso é ótimo. Os discos foram legais. Agora meu trabalho é uma seqüência, porque na verdade não é diferente, afinal ali era eu também fazendo. Tá na rota.
Bambas e Biritas Vol. 1 . Quer dizer que já tem um Vol 2 na fita?
Tem na mente, mas não na fita (risos).
Como rolou a idéia da gravação do clipe para Mandingueira?
Foi idéia da Mariana Jorge, que ouviu o disco e escolheu essa música. Ela queria dirigi-la, por que ela viajou para a África com a Fernanda Lima e o disco foi a trilha da viagem delas. Então ela dizia que Mandingueira era tudo, que ela queria fazer o clipe. A Fernanda Lima iria participar de atriz. E tinha um ator gringo que iria participar. Um dia antes ficamos sabendo que ele não poderia participar, e então entrou o Seu Jorge na parada. E estou eu de ator ali. Foi uma tiração de onda, mais para o lado do cinema, meio despreocupado, sem ter lábio mexendo acompanhando a música. É uma narrativa. É uma história e foi legal fazer. Foi um dia inteiro de diversão.
Se ela viajou para a África ouvindo, o disco já está rolando há bastante tempo, não?
É que ele foi lançado na Europa e no Japão. Na Europa em outubro e no Japão em janeiro. E está rolando umas coisas legais.
Quem está distribuindo?
Na Europa é a Ether Music, que lançou também o Instituto, o novo do Seu Jorge, o Otto. É um selo que mexe com música brasileira. O disco está tocando na maior rádio da Itália, além do clipe de Mandingueira, que está passando na MTV de lá. Também está saindo em revistas, matérias bacanas. É um processo que vai acontecendo. Agora eu quero começar a pensar nos shows.
E como você vai passar tudo isso do disco para o show?
Estou montando uma banda especial. Será um sexteto. Carlos Dafé e Marku Ribbas participam da banda. A gente vai fazer músicas do Bambas e Biritas, músicas do Dafé e músicas do Marku. Vai ser bem roots. Vamos ter samplers e percurssão com o Bruno Buarque. O Lula Barreto (ex-União Black) vai tocar baixo. E na batera é o Rocco, meu irmão. Ele mora em Los Angeles, mas está aqui e vai trabalhar com a banda por um tempo. Vai ser bacana.
E a Roda Rodete Rodeano, que tem vocal do Chico Science? Como foi gravar ela? E ela tinha saído em um CD da revista Trip, muito tempo atrás, não?
Sim. Ela saiu em uma Trip que foi tributo ao Chico.
Você mudou alguma coisa nela para o Bambas e Biritas?
Só mixei. Ela é bem a original do que foi feito há dez anos atrás. Acabou não entrando no Afrociberdelia. Foi o primeiro trampo que a gente fez juntos. A gente fez ela, depois fez Maço, e fizemos mais uma, que está guardada, quem sabe talvez para o volume dois do Bambas e Biritas (risos). Macô entrou no Afrociberdelia e essas duas ficaram guardadas. Eu achei que sair só na Trip não foi suficiente. Não é todo mundo que teve aquele exemplar da revista, e acesso a essa música. Achei que era uma idéia bacana colocá-la no disco, tanto que ela vem como bônus track, não faz parte do disco. É um brinde mesmo. É para as pessoas que curtem o Chico, e porque ela soa tão atual para mim quanto era quando ela foi feita. Você escuta hoje e ela é atual. E é legal ouvir o Chico improvisando sobre Caju e Castanha. É uma honra. Achei legal colocar no disco, importante tirar da gaveta.
Você produziu uma série de coisas legais na música brasileira. O que te dá um carinho especial?
O Afrociberdelia é um disco especial. Tanto pelo resultado quanto pela
importância na minha vida, fundamental. Ele foi o primeiro disco que produzi,
primeiro trabalho de produção mesmo, na integra. Ele me abriu tanta porta, aqui
no Brasil e fora, de gente que escutou e me chamou, pelo Afrociberdelia. É um
disco muito importante para mim. O Por Pouco, do Mundo Livre, também. É um
disco pouco conhecido, mas é um disco que adoro. Foi feito de forma muito especial.
O Mario Caldato, no final, fez a mixagem comigo. Soa incrível para mim, mas por
algum problema com a gravadora, na época, o disco se calou. Trabalhou-se o single
errado. É um disco que ficou meio cult, que pouca gente conhece, mas é um dos
favoritos dos que eu me envolvi. É um disco que eu paro para ouvir ainda hoje,
ouço mesmo, faz parte dos discos do meu carro.
Você chegou a produzir músicas do Carnaval na Obra?
Sim, quatro músicas. Foram quatro minhas, quatro do Apollo, quatro do Edu K e quatro do Miranda.
Para fechar, Saudades da Black Rio é bem legal. Fale sobre ela? É
uma homenagem ao movimento Black Rio. Foi inspirada pela banda Black Rio, e nasceu
em uma linha de baixo que eu cantarolei pelo telefone, na secretária, e depois
a música foi indo. Os arranjos de metais e boa parte da melodia foram feitos
pelo Paulo William, que é um trombonista carioca, que divide a composição também.
Ele deu um sotaque carioca para a música, meio gafiera, que era tudo que a música
precisava. Então é um funk com suíngue, com uma coisa de gafieira, de fãs de
samba, que foi sempre bem representado pela banda Black Rio.
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