Entrevista - The Berg Sans Nipple
por
Ana Garcia
Speculum
Fotos: Leila / Divulgação
25/08/2005
Existem rumores de que Lori Sean "BERG" e Shane "SANS NIPPLE"
Aspegren são irmãos siameses que foram separados quando nasceram.
Lori permaneceu em Paris e Shane em Nebraska (EUA). Mas a jornada
de Sans Nipple pelo indie rock levou-o para Paris. Foi aí onde
conheceu Berg, que começava a trilhar seu próprio caminho musical
e acompanhar várias outras bandas.
Assim, a dupla, mais conhecida como bateristas, se re-conectaram.
Dessa vez, pela bagunça dos teclados (de Wurlitzer a Casio),
samples e loops, a dupla explora uma região que poucos ousam
se aventurar na música eletrônica e tem como reforço um kit
de bateria datado de 1922.
Para entender o som que a dupla produz, seja ao vivo ou em estúdio,
Shane Aspegren concedeu entrevista por e-mail, falando ainda
de sua união através da música e das influências e dos lugares
por onde a música do Berg Sans Nipple percorre. Confira:
Quando você escreveu a sua primeira música e qual foi o motivo?
Eu não lembro direito a minha primeira música… Alguma coisa
ruim, com certeza. Eu acho que na minha primeira banda de verdade
eu tinha um papel mais como um baterista tradicional, o que
é completamente diferente do que estou fazendo agora no sentido
de criar música. Motivo? Disseram que fazer parte de uma banda
era "cool"!
Como você era com 16 anos?
Eu morava numa cidade pequena, tinha um carro grande e escutava
metal.
O que você queria ser quando crescesse?
Uma estrela do rock.
Bem, agora falando sério, poucos brasileiros conhecem as
suas músicas, poderia então descrevê-la?
É sempre difícil explicar a nossa música para as pessoas. Eu
vi em um panfleto de um festival que iremos tocar na França
que nos descreveu como "samples de todos os gêneros". Acho que
isso não explica direito, mas parece como uma boa descrição.
O aspecto rítmico é muito importante para a nossa música, tanto
quanto tentar coordenar a beleza e o caos ao mesmo tempo. Vamos
trazer alguns discos para vender.
Qual é a idéia mais errada que alguém teve da sua banda?
É engraçado, porque eu sinto que estamos constantemente tentando
mudar as concepções do que as pessoas têm da nossa banda. Eu
acho que é uma banda estranha de uma forma, pelo menos nas nossas
intenções, e porque temos feito muita música instrumental, estamos
sempre encaixados nesse negócio de "post-alguma coisa", que
é uma concepção que queremos ficar completamente longe. Em algumas
outras formas, depois que fazemos as idéias iniciais da nossa
música, eu sempre estou tentando pensar "o que podemos fazer
com isso para tornar o que as pessoas (incluindo nós mesmos)
não estão esperando" porque eu quero sempre manter o que estamos
fazendo fresco.
Você acha que o show funciona para um local como o teatro?
Eu realmente prefiro fazer um show em locais onde as pessoas
possam ficar em pé e se mexer um pouco porque, apesar ser bem
cinemática, a nossa música tem muito ritmo e sempre ajuda criar
energia quando as pessoas mexem as suas bundas! Se bem que o
local não impede as pessoas de fazerem isso.
Verdade, as suas músicas parecem funcionar bem melhor ao
vivo, concorda?
Sempre tivemos dificuldades em capturar o mesmo sentimento de
um show ao vivo numa gravação, mas eu não diria que é melhor,
é uma experiência diferente. Conversamos muito com Antoine Gaillet,
que está gravando o nosso novo disco, sobre como fazer um álbum
com o mesmo impacto, mas não necessariamente tentar reproduzir
a coisa ao vivo, o que já nos frustrou em tentativas
passadas. Espero que com o tempo, ambas as coisas ao vivo e
gravações poderão ser belas igualmente, mas coisas completamente
diferentes.
Poderia contar algumas das suas influências?
Muita coisa nos influencia. Nós dois escutamos muita coisa diferente
e é isso que acaba sendo interessante sobre a nossa música,
você pode escutar pedaços de coisas que fazem ou fizeram parte
das nossas vidas, desde hip-hop ao pop minimalista, ou a eletrônica,
a música africana, a música brasileira e por aí vai. Também
temos duas culturas diferentes e eu acho que essa mistura acontece
naturalmente. Apesar de a nossa música ser principalmente instrumental,
quando eu escrevo letras, eu penso em muitas coisas que remetem
à confusão, e a mistura de culturas acaba se infiltrando na
música também. Eu tendo a misturar todas as minhas influências
de arte, visualmente, sonoramente e emocionalmente.
Existiu um choque cultural quando vocês se juntaram?
Isso é engraçado. Quando tocamos sempre nos sentimos como se
fosse algo bem natural, mesmo quando no começo existia um buraco
enorme na nossa comunicação já que eu não falava francês e Lori
mal falava inglês. Eu acho que foi assim que aprendemos a nos
comunicar. Para ser sincero, eu tenho uma dificuldade enorme
em aceitar muitas coisas da cultura francesa, mas eu acho que
a forma que aproximamos a nossa música é fora de qualquer cultura
específica.
O grupo é ligado a alguma cena artística específica?
Sempre gostamos do fato de que não nos encaixamos em nenhuma
cena. Por isso podemos tocar com bandas que fazem músicas diferentes.
Isso também se torna difícil para nós porque muitas pessoas
querem que você seja um grupo de rock ou hip-hop, ou dub, ou
sei lá o quê. Eu já passei por muitos momentos na minha vida
onde eu fui realmente influenciado por certos artistas, tanto
musicalmente quanto visualmente, mas agora é uma mistura de
todas essas coisas que me inspiraram.
O que você sabe do Brasil? Estão animados com a turnê (a
banda tocou em Recife e SP)?
Eu não sei descrever como estamos animados. Por um lado, realmente
não sei o que esperar e tentamos não esperar nada, já que nunca
fomos para aí. O que acontecer será algo diferente. Amamos música
brasileira, como Tom Zé, por exemplo, mas eu espero conseguir
uma perspectiva completamente diferente quando estivermos no
Brasil e descobrir um monte de coisas que não conhecemos. Isso
é algo incrível sobre a música - leva você para muitos lugares
que você normalmente não teria a oportunidade de conhecer.
Site Oficial The Bergs Sans Nipple
Texto cedido pelo site Speculum
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