Wacko
- Entrevista
Eles só
querem viver de sexo, drogas e rock
por
Marcelo Silva Costa
Minha memória
foi embora já faz um tempo. Vivo esquecendo coisas, principalmente
nomes de pessoas. Deve ser a idade ou o volume alto de Pixies nos fones
de ouvido afetou não só a audição. Mas, remexendo
as teias da memória tento lembrar e acho que foi no começo
de 2000. Era um feriado, se não me engano. Ainda morando em Taubaté
arrisquei uma viagem à São Paulo para ver algumas bandas
de Goiânia que iriam tocar no extinto Alternative, reduto rocker
no bairro Vila Madalena cujo espaço para banda e público
era quase do tamanho da sala da minha casa. Rock. Gostei pacas das bandas
de Goiânia, mas a que me chamou a atenção foi uma de
Guarulhos, cidade colada em Sampa. O baterista esmagava seu kit de uma
maneira que dispensava o ato de microfonar as peças. As guitarras
se alternavam com inteligência, o baixista ria o tempo todo (devia
estar chapado) e o vocalista bebia tanto quanto cantava. Algumas pessoas
do pequeno público pediam músicas, mas a surpresa veio com
a cover fidelíssima e matadora de "Gouge Away" do... Pixies. O nome
da banda: Wacko. A banda nasceu em 1997 na reunião de cinco companheiros
de bar. O baterista espancador de kits atendia pelo nome de Fábio
Feijão. O baixista chapado era o Rimon. Nas guitarras, Fábio
Cabral e Fábio Japônes e nos vocais bêbados, Daniel
Askera.
Não dá
nem para dizer que virei fã da banda. Seria melhor dizer amigo,
desses de tomar cerveja (Askera, o vocalista, bebe pacas, não era
fácil acompanhar), ouvir som em casa e comemorar vitórias
do Corinthians. Em abril de 2001, depois de duas excelentes demos, a banda
decidiu que era hora de abandonar a panela que é a cena e a mídia
paulistana mudando-se para Londres. E é de lá, entre shows
do Strokes, noitadas junkie e saudades de gritar "gol do Timão"
que o S&Y conversou com Daniel Askera que, numa frase curta e simples,
resumiu:
"Os sonhos da Wacko são simples: viver
de sexo, drogas e rock"
Precisa mais?
S&Y -
Há quanto tempo a Wacko está em Londres? E qual foi a idéia
da banda em mudar de malas e guitarras pro velho mundo?
Askera - Estamos em Londres desde
Abril de 2001, 1 ano e um mês. Sempre tivemos essa idéia de
vir pra cá, desde o primeiro ensaio, por motivos pessoais e pelo
simples fato de não vermos futuro pra nossa música no Brasil.
Nunca vamos chamar atenção do "mainstream" porque cantamos
em inglês, fora certos elementos do som, e nunca conseguimos nada
no underground brasileiro(...). Não somos bonitos, nem falamos de
coisas bonitas. Tudo contribuiu pra reforçar a vontade de vir, e
estamos aqui.
S&Y -
Mas vocês já tinham um certo reconhecimento aqui, não?
Como está sendo começar do zero ai?
A - Tinhamos um certo reconhecimento
em Guarulhos (de onde viemos), mas em São Paulo as coisas eram um
pouco diferentes, nunca tivemos paciência pra lidar com gente que
fala com você um dia e no outro nem olha na sua cara. Voltar a estaca
zero foi complicado, porque, apesar de esperarmos esse tipo de barreira,
também tem o lado psicológico, o lance de ficar longe de
casa, que é pesado. Somos preguiçosos pra caralho, então
tudo vem mais devagar, mas estamos trabalhando mais tranqüilos agora.
S&Y -
Nesse um ano em Londres já pintaram shows? E composições
novas?
A - Fizemos 2 shows, o primeiro no
Monarch (Camden Town, Londres), em setembro de 2001, e o segundo no On
The Rocks (Shoreditch, Londres também). Tivemos uma boa recepção
nos dois, apesar da galera ainda se assustar um pouco com a gente. Estamos
com 5 sons novos, que mostram bem a mudança pela qual a banda passou.
Mais sujo, mais rock, mais trash.
S&Y -
Os ingleses se assustam então? A banda já fazia rock dos
bons aqui no Brasil. Como está ainda mais rock?
A - Eles se assustam porque não
tem muita banda fazendo algo que realmente venha da alma, cuspindo em tudo,
enfim, rock de verdade. Tem poucas bandas fazendo isso direito por aqui.
É o que estamos fazendo, as músicas estão mais selvagens,
mais sombrias, mais boca de lixo. Pra te falar a verdade, até a
gente se assustou um pouco com a mudança, mas estamos gostando,
rolamos na sujeira e gostamos tanto que ficamos lá. Lixamos coisas
que não rolavam, a tendência de ficar naquele formato "indie".
Não evitamos, mas também não queremos chegar lá.
S&Y -
E os contatos, pintou algum?
A - Fizemos contatos, mas vamos esperar
pela nova gravação pra dar seqüência. A gravação
que trouxemos do Brasil esta um lixo e não da pra se fazer nada
com ela.
S&Y -
Já existem planos pra vocês entrarem em estúdio? E
os próximos shows?
A - Sim, já começamos
a fazer algumas demos nos ensaios, e nos próximos meses vamos entrar
pra gravar. Shows estão sendo ajeitados, mas os próximos
vão demorar um pouco. Tudo vai depender do que rolar no estúdio.
S&Y -
A Wry também por ai, certo. Vocês tem contato com os caras?
A - Fizemos um
show juntos, às vezes a gente se tromba nas festas aqui, estudo
na mesma escola que o Chokito e o Luciano. Mas cada banda tem seus planos,
um caminho a seguir. Tem também o Tods, o Ella Guru e o Inner Rage,
que foi a primeira a chegar aqui, em 1997.
S&Y -
E a cena ai, como é? Você disse que não tem ninguém
fazendo rock and roll com alma e coração. Que som tem rolado
nas novas bandas inglesas?
A - A moda agora é anos 80,
muito nego copiando isso. Algumas bandas são realmente boas, como
o Mclusky
e o Seafood, mais punk; ou como o Orange Goblin, na linha mais "stoner".
O resto, quando não copiam o Travis
(até no corte de cabelo!), vão na cola de Strokes e The Hives,
ou Linkin Park. Muita pose, marketing, mas som que é bom, nada.
S&Y -
Como é viver em Londres?
A - É foda pela distância
de casa, de todo mundo que a gente gosta, da cerveja gelada (eles vendem
cerveja quente!), não vejo mais jogos do Corinthians. Mas aqui rolam
muito mais shows, tem uns lugares doidos pra sair, os discos são
baratos, e rola uma facilidade ($$$) maior pra poder visitar outros paises.
S&Y -
Pra fechar. Quais os sonhos da Wacko? Falta muito?
Os sonhos da Wacko são simples:
viver de sexo, drogas e rock. Poder viver do que a gente gosta, coisa que
vamos realizando aos poucos. Ainda falta muito, mas quem falou que ia ser
fácil?
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Cabral
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Rimons
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Fejas
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Askera
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Japonês
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