Titãs
- Uma instituição pop
Ao vivo em Taubaté/SP - 08/06/02
por
Leonardo Vinhas
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A
Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana.
Esse é o título dos novos disco e turnê
dos Titãs. E é o título que coube à
banda durante as 2h10min de sua apresentação no
ginásio da Associação dos Funcionários
Municipais de Taubaté em 08/06/2002.
Com
seu disco mais recente, os Titãs finalmente perceberam,
como o Ira!,
que chegaram na faixa dos 40 anos e certas posturas, atitudes
e fórmulas musicais não se aplicam mais a eles
(se é que um dia se aplicaram). Mais que isso, notaram
também que o público estava cansado das regravações
bisonhas dos dois últimos discos (o primeiro Acústico
tem seu valor) e que já era hora de saírem-se
com um bom disco que valorizasse suas experiências musicais
e pessoais. O resultado é que A Melhor Banda...
é um disco maduro e conciso, pop e bastante curtível,
com bons hits em potencial e canções boas que
cumprem papel maior que de meros fillers (faixas usadas para
"completar" um álbum com dois ou três "faixas de
trabalho").
Por
isso é insólito que a turnê não valorize
esse álbum e concentre-se justamente nos hits mais fáceis
da carreira da banda, alternados de forma a manter o pique e
o interesse sempre altos e executados de forma competente e
sem invenções. A abertura, com Aluga-se, Domingo
e Homem Primata é emblemática nesse sentido.
A faixa título do disco - que começou sendo vendido
em bancas e hoje é facilmente encontrado a R$ 10,00 em
balcões de promoção - só aparece
após essas três músicas, recebida aos pulos
e berros, e somente ao seu término a banda se dirige
ao público, com Nando Reis lendo um texto da autoria
de Marcelo Fromer, homenageando o falecido companheiro de banda
tal qual o fazem no disco com fotos e dedicatórias.
Mesmo
essa atitude, contudo, o show não merece ser chamado
de populista. Apesar da seqüência cuidadosa do repertório,
a banda não escorrega em truques de auditório
para animar o público e, apesar de não ter apresentar
aquele frenesi no palco como nos anos 80, garante uma presença
cênica espontânea e carismática, principalmente
Paulo Miklos, Toni Bellotto e Sérgio Britto (esse, mais
que qualquer outro).
Os
climas se alternaram, e o marcante aparato de luzes acompanhava
cada mudança. Tons exagerados realçavam alguns
climas (azul em Pra Dizer Adeus, vermelho em Epitáfio,
amarelo em Marvin), brilhos piscantes ressaltavam as
apoteoses de Cegos do Castelo e Nem 5 Minutos Guardados,
foco em Toni Bellotto nos seus poucos solos (o guitarrista convidado
Emerson Villani solou na maioria das músicas)... Tudo
muito bonito, profissional e empolgante.
Porém,
a sensação de estar diante de uma "instituição"
é inevitável. Num repertório que resgata
até Sonífera Ilha, mas despreza pérolas
perfeitas do último álbum como Isso e Eu
Não Presto (fora canções que seriam
de encaixe preciso ao vivo, como Vamos Ao Trabalho, Daqui
Pra Lá e Cuidado Com Você), constata-se
que os Titãs são uma banda ciente de sua história
e de sua natureza pop - pop no sentido de popular, reconhecível,
divertido; e que hoje evita os "riscos" (ainda que calculados)
pressupostos no rock'n'roll. Sequer nas execuções
foram permitidas grandes alterações, a não
ser por uma discreta citação ou outra e uma mudançazinha
breve no arranjo de guitarra de alguns trechos de músicas.
Não
houve, portanto, nada próximo ao rock nessa noite. Mas
houve ótimas canções, muito suor, berros,
pulos, "bateção de cabeça" e confraternização
(foi lindo ver as pessoas se abraçando no refrão
de Epitáfio). Além disso, a seqüência
que encampou Jesus Não Tem Dentes no País dos
Banguelas, Nome aos Bois e Cabeça Dinossauro
lembrou o pique febril da banda nos anos 80, especialmente Cabeça...,
com luzes brincas piscando epileticamente, Branco Mello levando
as mãos à cabeça, backing vocals exatos
(nos "ôôôs" introdutórios) e na bateria
de cerimonial indígena que marca a canção.
Só esses momentos já valeriam o ingresso, mas
a diversão foi bem maior que esses fatores isolados.
Durante o tempo em que estiveram no palco, os Titãs eram
a melhor banda do mundo. E se, passado o show, percebe-se que
eles são e sempre foram pop, chegando a virar uma instituição
do "ramo", melhor. Talvez sejam a única desse quilate,
e, convenhamos, nós e a indústria fonográfica
não temos do que reclamar. Ambos precisamos disso e eles
nos dão. Enquanto o próximo disco - uma incógnita
- não vem, o show é o melhor da última
semana.
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