Rock
In Resumo Rio
por
Marcelo Costa
22/01/2001
O
editor da revista Bizz é que estava certo. No editorial
de janeiro mandava: "Só um molusco surdo pode ser contra".
O público rock dividiu-se em "eu fui" e em "eu vou...
ficar em casa". Os dos primeira turma presenciaram alguns shows,
no mínimo, históricos, como o do R.E.M., o do
Neil Young e o do Carlinhos Brown (sic). Os do segundo grupo
criaram mil teorias para criticar o festival. Bem, o Rock In
Rio 3 não foi perfeito (e acredito que nunca vai ser,
afinal aqui é Brazilzilzil). Não foi o festival
dos sonhos, mas, sim, foi excelente. A galerinha indie que reclamou
do preço do ingresso deveria ter reclamado também
de Sonic Youth a R$ 50 no Free Jazz e Morrissey a R$ 60, mas
nada de chorar sobre a Malte Nojenta derramada (lembra?). O
Rock in Rio 2001 possibilitou dois shows antológicos,
um inesquecivel e um engraçado em um fim de semana. No
outro, teve Neil Young, e não é preciso dizer
mais nada.
Dia
a dia
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12/01
- A comitiva Scream &
Yell reuniu-se na sexta-feira para deixar São Paulo
em direção ao Rio de Janeiro. Com isso,
e graças a isso, perdemos os shows desse dia, a
saber, Milton Nascimento – Gilberto Gil – James Taylor
– Daniela Mercury – Sting. O que soubemos, por amigos
e pela imprensa, foi que lencinhos foram levados ao ar
no show de James Taylor e que o celular de Clarah Averbuck,
colunista do Cardosonline e colaboradora do S&Y, foi
roubado no meio do show da Daniela Mercury. Ah, vimos
um pedaço do show de Daniela Mercury cantando "Amor
de Julieta". Por tudo isso decretamos que nesse dia o
Rock In Rio foi terrível, para todo mundo.
13/01
– Acordar as 5h, pegar ônibus as 5h30, chegar
no Rio as 11h da manhã. Da rodoviária,
vários telefonemas para ver qual alma caridosa
iria acolher quatro marmanjos barbados. Depois
de uma pequena estadia no morro do Vidigal, acabamos
indo parar no Leblon, para a casa do irmão, zineiro
e querido Byra Dornelles (do zine Freak Out) que nos
aguentou no fim de semana. Chegamos na "Cit of Rock"
quando Cassia Eller encerrava a sua apresentação
com "Smells Like a Teen Spirit". Dizem que foi um bom
show. Eu dúvido. Fernanda Abreu entrou e já
estava torrando a paciência quando, numa sacada
genial, tirou da cartola Evandro Mesquita e ambos relembraram
o primeiro RiR com a clássica "Você Não
Soube Me Amar". Primeiro momento "levanta poeira do
chão" do festival. Penelope assumiu o palco Brasil
e fez um show bacana. Voltamos ao Palco Mundo. O Barão
Vermelho veio e foi, e eu não vi. Deve ter sido
a mesma coisa de sempre. O festival começou mesmo
com a entrada de Beck. O cara é talentoso, o
cara é charmoso, o cara faz boa música,
mas o show (e o som baixo) não empolgou. Uma
pena. Em seguida Dave Grohl chegou para quebrar tudo
com seu Foo Fighters.
Pena que estava impossível ouvir o som das guitarras.
A banda venceu esse contratempo e fez uma apresentação
excelente. Dave é um entertainment perfeito.
Brincou com o público, disse que tinha visto
na TV as pessoas balançando lencinhos no dia
anterior, no show de James Taylor, e ordenou que todos
levassem as camisas ao alto. Detonou Axl Rose. Recebeu
da namorada, baixista do finado Smashing Pumpkins e
do Hole, Melissa, um bolo de aniversário. Fez
uma grande apresentação. Para fechar a
noite, R.E.M.. Só três palavras: Antológico.
Clássico. Inesquecível. O resto está
na resenha do show. Mas quer saber, foi antológico,
clássico e inesquecível...
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14/01
– Acordamos tarde, descobrimos que os cariocas não
sabem o que é pizza e tomamos chopes com amigos
no bar Caneco 70, em frente da praia do Leblon. Nos rendemos
depois ao McDonalds e fomos super atrasados para o festival.
Perdemos o show do Pato Fu, que costuma ser bacana. Chegamos
no meio do show do Carlinhos Brown, e conversando de galera
em frente da sala de imprensa, observamos que muita coisa
atingiu o baiano, sim. Ira! foi muito bom. Ultraje a Rigor
foi legal. Juntos realizaram o segundo momento "levanta
poeira do chão" do festival tocando "Should I Stay
Should I Go", do The Clash. O Papa Roach veio em seguida,
esforçou-se muito, mas não convenceu ninguém.
O Oasis não quis convencer ninguém e do
meio do show pra frente conseguiu sufocar os gritos dos
fãs de Axl Rose. Mais detalhes na resenha especial.
O Guns' N Roses foi
interessante. Eu e namorada estávamos sentados
na sala de imprensa. Éramos os únicos ali.
Estava todo mundo esperando para ver Mr. Axl Rose. Quatro
músicas depois nem eu resisti e fui ver o show.
O instrumental estava ok. Axl até estava cantando
bem. E "Sweet Child O Mine" foi festa geral. Momento 3
de poeira. O problema foi que ele quis lavar roupa suja
em frente à 180 mil pessoas. Patético. Devia
ter feito isso no Programa do Ratinho. Mas ele é
rock star e muita gente gostou.
18/01
– Noite teen. Não vi, mas queria ter visto
a Britney Spears. A
polêmica a respeito de "cantar com playback ou
não" é irrelevante (gente, é a
Britney!). No mais, fui buscar no Napster a bonitinha
Britney xingando todo mundo no palco. Um beijo, Britney.
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19/01
– Noite heavy. Já ouvi muito e cheguei
a bancar de roadie de banda thrash, e gostava
muito da banda, mas hoje não tenho mais
paciência (e nem 14 nos). Vi pouco dessa
noite. Falaram que o Sheik Tosado foi bom e eu
acredito, mesmo. Falaram que o Pavilhão
9 foi bom e eu acredito também. O Queens
On The Stone Age eu vi e gostei. Não
foi tudo aquilo que todo mundo que gosta da banda
esperava, mas foi bacana, apesar do mico da capoeira
e tal (a banda tem mais poder de palco do que
aquilo). No fim, o show foi mais falado pela nudez
do baixista Nick Oliveri durante boa parte do
show - até ser avisado que seria preso
pelo ato. Diz muito. Adoro o Sepultura, mas não
me acostumei com o vocalista novo, ainda. Mesmo
assim, impossível não se empolgar
com "Territory" e "Refuse/Resist". Na hora do
Halford eu fui tomar um sorvete. E voltei para
o show do Iron Maiden. Vi os outros shows deles
aqui, e esse foi o mais fraco. O repertório
novo não empolga. As músicas são
estendidas demais para os três guitarristas
solarem. Mas é impossível dizer
que um show que tem "Two Minutes To Midnight"
e "Hallowed By The Name" seja ruim.
20/01
– Eu gosto de Engenheiros do Hawaii (sim,
e sou feliz) mas não gostei do show.
Não vi Zé & Elba Ramalho e
quem quiser dizer algo que se manifeste (ninguém
manifestou-se). Kid Abelha foi pop e isso é
ok, sem contar que a Paula Toller usa todo seu
charme para mostrar que ainda dá um caldo.
Dave Matthews Band foi curtinho demais, mas
eu até gostei. Alguém escreva
dizendo como foi o show da Sheryl
Crow. Eu cochilei. E Neil Young foi
simplesmente arrepiante. O melhor show dos três
Rock In Rio. Resenha especial para ele.
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21/01
– Me falem também sobre o Diesel. O que eu
soube sobre O Surt é que eles tocaram "A Cera"
(a tal do cabeção) três vezes,
além de destruírem músicas de Plebe
Rude, Raimundos e Ramones. O crime maior foi uma "versão"
de "Californication" do Red Hot
Chilli Peppers, vertida para "Triste mas eu
não me queixo", cujo um verso diz "Entraram na
minha casa e roubaram o meu Play Station". Não
tenho palavras para descrever. A pior seria elogio. Muita
gente elogiou o show do Deftones, que eu também
não tive paciência para ver. O Capital Inicial
excessivamente acústico e com acréscimo
de Marcelo Sussekind e Kiko Zambianchi nos violões/guitarras
foi bom. Só isso. Silverchair impressionou. Um
show seguro, com ótimo repertório e muito
rock and roll. O Red Hot Chilli Peppers tinha tudo para
encerrar o festival com uma apresentação
memorável. Começaram muito bem, mas foram
caindo, caindo, caindo. Flea e Frusciante são estrelas
a parte. Revezam-se. O baixo faz base e Frusciante sola.
A guitarra faz base e Flea sola. É arrepiante.
"Other Side" foi delírio coletivo. Mas, talvez
o problema seja Anthony que parecia estar a milhas e milhas
de distância, mesmo frente a um público de
250 mil pessoas. Era uma vez. Quem sabe um dia eu retorno
ao Rock in Rio. Será? |
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