O futuro
continua sendo Vortex - Replicantes
por
Marcelo Silva Costa
especial
para a revista Rock Press
Era uma vez uma banda punk, em Porto
Alegre, 1983. O trio de instrumentistas só sabia tocar as seis músicas
compostas. Não havia, então, um vocalista. A banda sai de
férias e deixa uma fita das gravações com uma quarta
pessoa que já havia tentado tocar guitarra com o trio, sem sucesso.
Quando a banda retorna, Wander Wildner, a tal quarta pessoa, já
havia decorado todas as letras e está pronto para assumir a posição
de front-man dos Replicantes.
Em sete anos com a banda, Wander gravou
três álbuns (dois deles, clássicos) como vocalista
dos Replicantes, participou de shows antológicos e viu sua voz nas
principais rádios do país com o hit "Surfista Calhorda".
A partir de 1991 a história
bifurca. Wander abandona os Replicantes e monta várias bandas (Sangue
Sujo, Máquina Melequenta) até sair em carreira solo popularizando
o punk brega com canções do quilate de "Bebendo Vinho" e
"Eu tenho uma camiseta escrita eu te amo". Do outro lado, os Replicantes
seguem com Carlos Gerbase, ex-baterista, assumindo a frente da banda lançando
mais dois álbuns de estúdio e um ao vivo.
Corte para junho de 2002. Estou espremido
com mais de duzentas pessoas para presenciar a volta de Wander Wildner
aos Replicantes, em um show no pub Orbital, em São Paulo. Histórias
de sexo (poucas) e violência (muita). Assim pode ser resumido a apresentação
demolidora que os Replicantes fizeram numa sexta-feira fria e perfeita
para cervejas.
Carregando a novidade de trazer de
volta o vocalista Wander Wildner, essa mini tour (que já começou,
claro, em Porto Alegre e havia passado por Curitiba e Londrina) tinha tudo
para resultar em apresentações ensandecidas e antológicas.
E foi exatamente isso que senti quando vi os quatro replicantes amontoados
no pequeno palco do Orbital colocando o barulho em primeiro plano e promovendo
o pogo geral para festa de punks, carecas, fãs do grupo e desavisados.
Começa com "Sandina" e termina
com "Festa Punk". Entre as duas, clássicos ("Astronauta"), sucessos
radiofônicos ("Surfista Calhorda"), esporros sônicos ("Só
Mais Uma Chance"), declarações de amor ("Hippie-Punk-Rajneesh",
"Nicotina"), de falta do próprio ("Amor eu Preciso"), histórias
de sexo ("Motel da Esquina"), guerra nuclear ("Chernobil"), inéditas
("Prá ver se eu conseguia")...
A máquina de barulho não
dava tempo de que Wander Wildner se dirigisse a audiência. O cara
se esgoela todo, a porrada como solta e quando acaba, ele respira e quando
vê, lá vem mais porrada. Se a barulheira vinda das caixas
era ensurdecedora, a porrada na sessão pogo é animalesca.
A volta de Wander aos Replicantes
abre várias possibilidades na cabeça do público. Será
que Wander vai abandonar a carreira solo? Será que "Paraquedas de
Coração", o tal álbum que seria a seqüência
temática de "Baladas Sangrentas", vai sair? Será que ele
grava disco novo com os Replicantes? O S&Y e a revista Rock Press colocaram
o vocalista na parede para dissipar todas as dúvidas. Confira.
Como aconteceu
de você decidir voltar aos Replicantes?
O Gerbase resolveu sair da banda.
A primeira pessoa que eles pensaram foi eu. O Heron me convidou e eu aceitei.
Como está
sendo cantar aquelas velhas canções e como tem sido a reação
do público?
Está sendo muito bacana. As
velhas canções não são tão velhas assim,
tanto que as considero muito mais atuais. Do jeito que a maioria das pessoas
escolheu viver, o futuro continua sendo Vortex mesmo. E tem as novas canções
que são muito legais. O público tem gostado e nós
nos divertimos muito.
E o Punk
Brega, aonde fica nessa história?
O punkbrega
é muito versátil e trabalhador. Adora suas baladas e comprou
um violão novo, agora são dois, um de aço e outro
de nylon. Vai começar a ensaiar na próxima semana o novo
show, com as músicas do próximo disco e as baladas mais invocadas
dos outros três.
E o "Paraquedas
de Coração", sai ou não sai?
Sim, vai sair pela universo paralelo,
já está pronto. Estamos produzindo o zine que vai vir junto,
pois ele será vendido em bancas.
Há
planos para um novo álbum com o Replicantes?
Claro que sim, estamos estudando a
possibilidade de fazer um tipo ao vivo no estúdio com as músicas
do show, prá marcar este momento. E também vamos começar
a ensaiar para fazermos músicas novas para um álbum de inéditas,
mas para o ano que vem. Vamos aguardar.
Não
rola de tocar músicas de seus discos solo nos shows do Replicantes?
Algumas como a versão de "Lonely Boy", "Rato de Porão" ou
"Maverikão" talvez se encaixassem. O que você acha?
Até poderia, mas não
precisa. O público vive pedindo músicas dos Replicantes no
meu show, e tambem pedem músicas minhas no show dos Replicantes,
vão se fuder.
Como estão
as coisas em Porto Alegre? Alguma banda nova pintando?
Estou morando em Florianópolis
já faz dois meses. Antes, lá em Porto Alegre só havia
pintado uma banda nova que se destacasse com algo original que foi Os Alcalóides.
A sua volta
aos vocais do Replicantes levanta a questão dos álbuns nunca
terem saido em CD. A BMG não tem planos de lançar os três
primeiros álbuns?
Não temos este contato assim
com eles. Acho que precisamos fazer mais coisas, gravar outros discos e
ficarmos mais conhecidos do grande público, para eles relançarem
os três em cd.
Quais das
músicas do Replicantes você mais gosta de cantar? E quais
não podem faltar no show?
As que eu mais gosto das novas é
a "Lua que mata" (versão de "The Killing Moon", do Echo
and The Bunnymen) e "Prá ver se eu conseguia". Das antigas é
"O futuro é Vortex" e "Africa do Sul". Prá mim não
tem este lançe de que não pode faltar alguma música.
Pode sim. Não acho que tenhamos que tocar "Surfista Calhorda" e
"Nicotina" sempre. As vezes me parece que o público gosta mais das
confirmadas, mas prefiro não julgar e cantar o que eu tô afim.
Mas há de convir que os Replicantes estão numa fase de mudança,
então, para qualquer coisa é melhor esperar. O tempo se encarrega
do resto.
Tem muita
garoto que está lendo esta entrevista agora e nunca ouviu o Replicantes.
Como você resumiria a banda para esses garotos?
É uma das bandas de punkrock
mais interessantes que surgiu, com letras inteligentes e ironicas, e uma
postura bacana não só no palco, mas fora dele também.
Os novos
shows do punk brega serão só em Porto Alegre ou RJ, SP e
outros estados também vão ter o prazer de sua presença.
Os shows do punkbrega deverão
começar em Porto Alegre em algum teatro, possivelmente uma temporada
no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana, mas isso depende
de quando o disco sair, como ainda falta acabar o zine e o videoclip (sim,
o videoclip virá junto no cd), não sei quando o disco vai
sair. Quero fazer shows só em teatro, com a banda. Também
penso em fazer algumas temporadas solo em algum lugar de São Paulo
e Rio de Janeiro ná época da divulgação.
E, pra fechar,
o que Wander Wildner tem ouvido no momento?
Tenho ouvido o novissimo cd instrumental
do Marcelo Moreira (ex-Sangue Sujo e ex-Argonautas), "Kayanagandaya" do
Gil (tributo ao Bob Marley), "Autocontrole"
do Walverdes, o mais recente da banda Repolho (de Chapecó), não
lembro o nome agora, e o "Are
you passionate?" do Neil Young. |