Intuição
- Pedro Camargo Mariano (Trama)
por
Victor Hugo Lopes
O peso nas costas do cara é
tremendo. É um dos cabeças da chamada nova geração
da MPB. É filho de uma das maiores cantoras brasileiras. Foi saudado
como revelação. Seu disco anterior, "Ao Pé Do Ouvido",
já é considerado uma pequena obra-prima. Comparações
e críticas tendem a ser constantes. Para atravessar esse árduo
caminho, a intuição é fundamental. E Pedro Camargo
Mariano batiza assim seu novo trabalho, lançado pela Trama.
"Intuição" é,
ao mesmo tempo, um passo à frente da carreira do cantor e um retorno
às suas raízes. Deixa a mistureba eletrônica um pouco
de lado e se concentra mais nas melodias, adocicadas em sua maioria. O
apelo dançante não compromete o sensível arranjo da
maioria das canções. Já na faixa-título, essa
harmonia rítmica combina perfeitamente com o vocal pop, com leves
pitadas de soul e funk. "Intuição / uma resposta para mim
/ meditação / só o silêncio para definir", canta
Pedro sutilmente.
O disco parece ter sido gravado com
grande tesão. O clima beira a intimidade. A produção
e arranjos foram feitos por César Camargo Mariano, pai do cantor.
O filho de Elis Regina abre o disco com a impressão de continuar
o disco anterior. "De Repente", de Lulu Santos e Nelson Motta, poderia
muito bem ter sido gravada pelo Pato Fu. O baixo ganha destaque na mixagem
e empresta o suingue necessário ao arranjo da guitarra com efeito
wah wah.
Em seguida, o músico emenda
"Distante Calma", de autoria de Daniel Carlomagno. A percurssão
intensa dá o contraste harmônico necessário aos vocais
quase etéreos, mágicos. "O Amor Se Acaba" é balada
eficiente. Traz verniz, mas destila sensibilidade. Os versos bem construídos
fazem uma analogia entre o poder das lembranças do início
de um
relacionamento e seu final. "Mais
um beijo / antes do romance voltar para o nada", canta Pedro. Letra de
cortesia de Jair Oliveira.
"Você Vai Ver" é uma
velha conhecida, composta por Tom Jobim. Tem a levada bossa nova, embora
remodelada com arranjos mais dançantes. Verdade seja dita: não
supera a original, mas mostra uma versão ao menos mais acessível.
"Pode Ser" busca sua força na leveza soul das vocalizações
de background. Black music made in Brazil. Tem traços de samba em
letra que adota o carpe diem da literatura como meta de vida. No amor funciona.
Fernanda Takai e John, ambos do Pato
Fu, emprestam a faixa "5 Discos" para Pedro. Não tem a mesma estranheza
que teria com a banda mineira, mas destaca-se do mote melodia agradável
e performance bacana. Talvez seja uma das melhores músicas do disco.
"Preciso Dizer Que Te Amo", de Cazuza, Bebel e Dé, já gravada
por Marina, por Bebel Gilberto, por Leo Jaime e com único registro
na voz do Caju retirada de uma gravação caseira para o álbum
"Red Hot + Rio", mostra que o filho de dona Lucinha Araújo, morto
em decorrência da AIDS em 1989, já antevia melodias que mais
tarde seriam resgatadas pela turma de Pedro Mariano. Poesia primorosa.
"Intuição" é
um daqueles discos difícieis na primeira audição.
Um novo timbre de guitarra ou um sintetizador surge em cada escutada. É
denso no número de instumentos e leve nos arranjos. Chega a ser
sacanagem continuar evocando o nome de Elis Regina todas as vezes em que
se escreve sobre Pedro Mariano. O trabalho do cara já tem personalidade
e nada a ver com o de sua genitora. Não deve mudar o mundo, mas
garante um bocado de canções legais para curtir no final
de semana. |