Pavilhão
9 desmascardo - Interview
por
André Caramante
De
cara limpa para o que der e vier. É assim, sem as polêmicas
máscaras que sempre marcaram o grupo e, principalmente, o vocalista
Rho$$i, que o Pavilhão 9 volta com tudo ao cenário
da música nacional. Exatamente no dia do lançamento de Reação,
o quinto álbum na trajetória da banda que leva o mesmo nome
do lugar onde aconteceu a chacina que vitimou 111 detentos da Casa de Detenção
de São Paulo, Rho$$i e Ortega (guitarra) trocaram
uma idéia com a Rock Press e o Scream & Yell deixando claro
qual é a real intenção do Pavilhão com o novo
trampo: querem romper as barreiras que podem existir entre o pessoal que
curte rap e rock e comprovar o quanto a banda amadureceu durante o processo
de criação do disco, que tem a participação
do batera do Sepultura Igor Cavalera, na faixa Aperte o Play,
do rapper Xis (aquele de Us Mano e As Mina, sacam?) em Poderoso
Chefão, da diva da soul music nacional, Paula Lima, no
som Sigo com Calma, e do cabuloso Falcão, vocal d’
O Rappa, que, simplesmente apavorou mandando bronca na versão que
o Pavilhão criou para a clássica Get Up, Stand Up,
do mestre Bob Marley. Esse som serviu até como homenagem ao não
menos chapa quente Marcelo Yuka. Força para ele, o
rei do borogodó Yuka, vítima da mesma violência
denunciada pelo Pavilhão e que, depois de tomar um montão
de tiros, luta para poder voltar a andar. Ah, não deixem de conferirem
o clipe de Trilha do Futuro, que pede liberdade e igualdade para
todos, sempre quebrando regras, coisa que a banda sabe fazer como poucas.
Além de Rho$$i e Ortega, também fazem parte do grupo, lançado
agora pela gravadora peso-pesado Warner Music, Marinho, que toca baixo,
e Doze, rapper da zona sul de São Paulo.
Rock Press/Scream
& Yell - Fala aí, como foi o processo de criação
desse novo trampo?
Rho$$i – Então mano,
o Reação é, sem dúvida, o disco mais
evoluído que o Pavilhão 9 já criou. Tivemos a liberdade
de participar de tudo e nossas sugestões sempre foram levadas em
consideração pelo Tom Capone, nosso produtor. É sempre
assim: o Pavilhão vem sempre pra romper as barreiras.
RP/SY – Que
barreiras são essas?
Rho$$i – São as musicais.
Tem muita gente que continuam fazendo questão de enaltecer de uma
maneira que não é a real. Acredito que nossas inovações
e a ousadia do Pavilhão assusta que fica querendo levantando essas
barreiras. É um tipo de preconceito musical em relação
ao nosso trabalho, que mistura o rock e o hip hop, que não se justifica,
ta ligado?
RP/SY – O
Pavilhão 9 criou o Reação pensando em que? Qual é
a missão de vocês?
Rho$$i – Fizemos o trampo para
continuar denunciando as injustiças, mano. Me perguntando isso,
você me faz lembrar do Subcomandante Marcos (aquele mascarado, que
lidera o Exército Zapatista de Libertação Nacional,
no México). Ele é um cara que luta para obter a igualdade
para o povo de Chiapas e isso é um tipo de missão. Da nossa
maneira e através do nosso som, estamos aqui para fazer as nossas
denúncias. Isso é o Pavilhão 9.
RP/SY – E
as letras do disco, como foram compostas?
Rho$$i – Vixe mano, a maioria
delas escrevi lá no meu barraco, tá ligado? São todas
fruto do que vivo todos os dias, sou da periferia da zona sul e lá
a vida é daquele jeito: pouca opção de trabalho e
muita chance de se acabar. Tentei passar isso para o papel quando comecei
a fazer as rimas.
RP/SY -
Como o Pavilhão encara esse preconceito de boa parte da galera Old
School do hip hop, que não consegue ver com bons olhos
o som da guitarra se misturando com o que é produzido pelos DJ´s
e os discos de vinil?
Ortega – Nós temos consciência
de que isso ainda acontece bastante, mas essa galera mais mente fechada
não pode ignorar o fato de termos o Rho$$i como vocal. Ele é,
e sempre será, um verdadeiro MC (mestre de cerimônia). O Pavilhão
nunca vai perder essa característica autêntica do hip hop.
Além do Rho$$i, também temos o Doze, outro cara que é
do rap até a raiz. Nosso som é para romper barreiras
mesmo, por isso misturamos o rap com o rock.
RP/SY – E
a ligação do grupo com o pessoal da cultura Low Rider (galera
que anda em carangas antigonas, todas equipadas com um sistema especial
de suspensão que faz o carro quicar no asfalto como bolinha
de tênis), como surgiu?
Ortega – O Marinho (que toca
baixo) já conhecia a galera que curte um Low Rider aqui no Brasil
e isso serviu de ponte para nós também criarmos uma admiração
pelo bagulho. É bem louco mesmo.
RP/SY – Vocês
acreditam que os programas de rap, nas rádios principalmente, vão
tocar os sons do Pavilhão que têm as guitarras nervosas?
Ortega - Nosso objetivo
é fazer a nossa música chegar em todos os locais, mas tem
sempre um som com quem a galera das rádios rap se identificam mais.
E, particularmente, acredito que Poderoso Chefão e Get
Up, Stand Up vão ser mais executadas nessas rádios.
RP/SY – O
que mudou no som feito pelo Pavilhão 9 desde o último trabalho?
Ortega – Antes, nós
estávamos muito desgraceira. As letras eram bem mais pesadas e diretas.
Agora, a gente fez um som muito mais pensante. Isso, em grande parte, nós
devemos às letras do Rho$$i, que fazem a molecada pensar naquilo
que estão ouvindo.
RP/SY -
Qual é a mensagem para a galera que continua fiel ao Pavilhão?
Rho$$i – Somos do gueto e nunca
vamos deixar de falar do que acontece lá, não importando
nunca onde estamos. A molecada da periferia sempre vai encontrar nas nossas
letras o protesto e isso eles sempre sabem reconhecer. Paz a todos.
|