Los
Hermanos
Uma constação,
uma teoria absurda e um conselho idem
por
Juliano Costa
Há cerca de quinze meses, o
Los Hermanos, "aqueles da Anna Júlia", tocavam em festivais/rodeios/escambau-a-quatro,
ao lado de Ara-Ketu e Karametade, para um público de vinte, quarenta,
sessenta mil pessoas. Alguns meses depois, estavam no ostracismo, totalmente
esquecidos ou lembrados apenas como uma banda one-hit-wonder, e ninguém
dava a mínima por
eles.
Hoje, são sucesso de crítica
e vêm conquistando um público cada vez mais cativo -- mas
em shows com, no máximo, mil pessoas, o que remete, mais ou menos,
à "quantidade ou qualidade dos fãs, eis a questão".
O que eles preferem? A segunda alternativa, aparentemente.
Mudando de assunto, Bloco do Eu Sozinho,
o último trabalho do Los Hermanos, é um disco "sincero",
com músicas que juntam a raiva e o descontetamento juvenil com um
amor e uma esperança pueril. Usei e volto a usar e abusar dos clichês:
o peso das guitarras e dos metais contrasta com melodias e letras, digamos,
delicadas. (Viagem minha: sabe aquela maneira com que Nelson Rodrigues
colocava na boca de seus personagens de A vida como ela é... um
"Eu te odeio" que, na verdade, significava um "Eu te amo"? Sabe? Então
agora imagina o Sunny Day Real Estate dos bons tempos cantando isso em
português, com o auxílio de metais e algumas doses camaradas
de ska e até de samba -- exagerei, né? (Mas é mais
ou menos "isso" que é o Los Hermanos em Bloco do Eu Sozinho).
Resumindo, o disco é ótimo
-- o melhor de 2001 na opinião deste que vos escreve e de não
sei quantos outros que participaram de uma enquete
promovida por este site.
(Agora, minha teoria absurda:)
Tanta sinceridade em um disco acaba
criando uma certa intimidade entre banda e ouvinte. No show, essa intimidade
vem à
tona. Parecem, no alto, lá
no palco, "nossos amigos que deram certo". É uma teoria esdrúxula,
admito, mas que pode ter sentido. Ou não, sei lá.
Bom, o principal guitarrista/vocalista/letrista
(Marcelo Camelo) seria aquele nosso colega de classe que nos ajuda nos
trabalhos de geografia, que é educado com seus pais e, em noite
de chuva, passa a noite jogando videogame com você naquele quarto
decorado com pôsters de Star Trek, The Smiths ou Iron Maiden. Um
cara legal, gente fina e tal. Meio fechadão, mas gente fina.
Já o outro guitarrista/vocalista/letrista
(Rodrigo Amarante) é o esperto da turma, o que conquista as menininhas
com seu carisma e que te intriga pela habilidade com que joga truco (?!).
O baterista (Barba), gordinho, é
daqueles que come oito pedaços de pizza, toma seis brahmas, arrota
e todos acham graça. Meio Porky´s, meio Nerds. E, por fim,
o tecladista Bruno não é nada mais que o namorado tímido
da tua prima sem graça. Ou coisa assim.
São todos tipos comuns, que,
no palco, passam a forte sensação de serem, de fato, seus
amigos -- e que estão tocando numa festa do seu colégio.
E a gente lá, babando coisas do tipo "legal, eles merecem, são
todos boa gente". Mas, por outro lado (e para terminar), é preciso
lembrar que o rock não se faz, nunca se fez e nunca vai se fazer
prevalecer do "bom-mocismo" para conquistar - e manter - fãs. Pelo
contrário. Todo fedelho de 14 (ou 28, 35...) anos que deixa o cabelo
crescer e faz air guitar pulando em cima do beliche é mais fã
dos mau-caráteres do gênero do que daqueles que passam gel
no cabelo e tocam no programa da
Xuxa.
Não é o caso do Los
Hermanos, claro.
Dito isso, aqui vai um conselho (que
pretensão a minha...) "absurdíssimo" para eles: soquem um
fã -mala, façam um filho bastardo, troquem farpas via imprensa
com integrantes de alguma outra banda, sejam presos ao menos uma vez por
porte de drogas, peças 300 toalhas brancas em seus camarins, sei
lá, CRIEM POLÊMICA! O lance de peitar a gravadora foi legal,
mas só isso não basta. Vocês precisam ser rockstar,
pelo amor de Deus (de seus fãs, quer dizer)!
Na boa, conselho de amigo.
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