Entrevista
Lasciva
Lula
por
Marcelo Silva Costa
De toda nova leva do rock nacional
que mostrou as caras na virada 1999/2000, a minha banda preferida é
a Lasciva Lula. Quem quiser conferir é só vasculhar
em zines da época ou na minha própria lista de Melhores de
2000, publicada na revista Rock Press. Está lá, com orgulho:
Lasciva Lula, entre outros.
Por que?
Primeiro. Eles cantam em português.
Não tô afim de discutir o assunto aqui, quem quiser marcar
uma cerveja, eu topo. Mas eu prefiro bandas nacionais cantando em português.
Eu prefiro. Ponto.
Segundo. É rock dos bons, barulhento,
melódico, bem tocado, bem cantado, bem produzido. A demo que eu
recebi a época trazia uma das capas mais bacanas até então,
um moleque segurando um aquário. O som? Bem, está no primeiro
release deles: Quatro caras resolvem marcar um encontro para tirar um som.
O motivo, tocar Pixies.
As letras traziam um teor pop dos
melhores. Não a toa, "Pop Song" e "Canção
de Amor" (duas canções dessa primeira demo) viraram hits
de verão em casa. Fiz os caras queimarem um cdr pra mim (putz, como
eu sou folgado).
Bem, estamos em 2002 e, logo no começo
do ano recebo o novo trabalho dos caras: um cd com seis faixas, conceitual,
desde o título: "Primeira Edição". As músicas
são capítulos e contam uma história de amor. A produção,
tanto musical quanto artistica, impressiona. Um excelente som de guitarra,
um excelente trabalho gráfico e um excelente cd.
O S&Y conversou com o vocalista/guitarrista
Felipe Schuery, via ICQ, para conhecer um pouco mais de uma das principais
promessas do rock nacional atual.
De onde é
a Lasciva Lula e de onde saiu a inspiração para o nome?
Somos de Cabo Frio, no Rio de Janeiro.
Quem bolou o nome foi nosso ex-baixista, o Chico. A gente queria algo associado
a mar e "Lasciva Lula" tem uma sonoridade boa... ficou.
Isso foi
em...
A banda se formou em novembro de 1998,
mas só em 1999 veio o nome. Antes de qualquer show, nos primeiros
ensaios, éramos João Bobo a Nocaute...
Como você
resume a banda, hoje em dia?
Quatro bichos-do-mato fazendo o que
mais gostam.
Influências?
De uma forma geral, Pixies e Mutantes,
principalmente. Mas cada um tem as suas. O Popó deve ser filho de
uma grande suruba entre Elis Regina, Ney Matogrosso, Beatles e Pixies.
Vocês
lançaram uma fita demo em abril de 2000, muito boa. E agora estão
lançando o primeiro cd, "Primeira Edição". Mudou alguma
coisa de um trabalho para o outro?
As músicas do "Primeira
Edição" já existiam na época da primeira
demo. O critério de escolha daquelas 4 músicas da primeira
demo ("Controle", "Canção de Amor", "Pop Song" e "O Peixe
e o Caramujo") foi gravar o que a gente estava mais seguro em termos de
arranjos, na época. Agora aconteceu o mesmo. Portanto, se há
diferenças entre os dois trabalhos, foi fruto do amadurecimento
do entrosamento, e não de influências novas ou mudança
de direcionamento.
O
trabalho gráfico dos dois trabalhos chama atenção...
O Rafael Saraiva foi o designer dos
dois trabalhos. A gente sempre se preocupou com o visual. Para a capa da
primeira demo, pescamos aquele peixe e fomos no jardim de infância
do nosso ex-colégio escolher o moleque (Ique)! Aí entra o
Rafael, que está sempre com a gente, discutindo conceitos, propondo
linhas. Ele gosta do som e é extremamente talentoso. Se depender
da gente, faremos sempre com ele.
E a produção
das músicas também se destaca. Hoje em dia é mais
fácil encontrar lançamentos independentes com qualidade,
mas o som da primeira demo, e principalmente deste "Primeira Edição"
impressionam!
Quando decidimos gravar, busquei informações
de quem estava gravando o que nos estúdios do Rio. Assim saberia
quem tinha mais a ver com nosso som e nossas expectativas. Cheguei ao Dodô
(Estúdio Freezer - primeira demo) e ao Flávio (ex-Funk Fuckers)
e ao Zé Felipe (Zumbi do Mato) - Studio BPM, "Primeira Edição"
- assim.
Esse cd tem
um conceito, certo?
É temático: uma história
em seis capítulos, na verdade, a história de uma desilusão.
Como surgiu
essa idéia?
Na realidade, as músicas não
foram compostas para formarem uma história. Mas a maioria das canções
que fiz no Lasciva Lula foram motivadas por um relacionamento que eu tive.
Quando escolhemos as seis músicas do "Primeira Edição"
e sentamos para decidir a ordem, nos deparamos com uma sequência
de fatos - não exatamente o que vivi, mas inspirado por. Daí
foi só expor a idéia para o Rafael realizar visualmente.
Como está
o trabalho de divulgação?
Estamos engatinhando, começando
a mandar para as pessoas que escrevem sobre cultura independente, para
produtores, djs do Rio que estão antenados no que está surgindo,
aos poucos a gente vai seguindo...
E
os shows? Tem rolado? Há uma cena muito boa surgindo no Rio de Janeiro.
Fizemos o lançamento do CD
no Teatro Municipal de Cabo Frio. Uma estrutura excelente, casa cheia,
ótima receptividade... O próximo será em Volta Redonda,
no projeto FreakShow, com Sex Noise e Iguanas, 3 de março. O Lasciva
Lula já tocou em vários dos lugares carimbados como nicho
dos independentes no Rio, como Casarão Amarelo, Beco da Boemia,
Espírito das Artes. Depois de um longo tempo de predominância
de casas para Punk/Hardcore/Ska há no Rio uma leva de bandas com
trabalhos de uma diversidade impressionante. e lugares e público
para se mostrar isto
Qual é
a sua música preferida do "1ª Edição"? Eu gostei
de "Quarta-feira de Cinzas"...
Eu prefiro "Casal de Velhos",
sem dúvida. (N. E. - a letra diz: "Esquece o nosso plano de sermos
felizes / Esquece que eu falei / Que faria qualquer coisa / para chegarmos
a casal de velhos / não seremos um casal de velhos). Já "Quarta-feira
de Cinzas" foi composta em 1995, antes da banda existir, e foi a segunda
música que ensaiamos, a primeira foi "Pop Song". "Quarta-feira"
só não entrou na primeira demo porque sempre imaginamos ela
com metais, e na época realizar isso era complicado.
E o arranjo
de metais ficou muito bom. A propósito, a minha preferida do Lasciva
Lula continua sendo "Pop Song"...
Nossa primeira música!
Como é
que as pessoas podem contatar vocês para encomendar o "Primeira Edição"?
E shows?
Podem pedir o CD por e-mail (lascivalula@ig.com.br)
ou comprar nos shows. O telefone para contato é (21) 3813-2298 ou
(21) 2522-3792.
Expectativas?
As pessoas têm elogiado bastante
o "Primeira Edição", esperamos continuar sendo quatro
bichos-do-mato fazendo o que mais gostam. O público e os shows são
parte principal disto.
Palavra Final!
A produção e a divulgação
da cultura independente são motores da renovação.
Abraço a todos os que se interessam pelo nosso trabalho e das várias
outras bandas que estão na batalha.
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