Diesel
- Entrevista
por Rodrigo
James
rjames@metalink.com.br
Vencedor do Festival "Escalada
do Rock", que selecionou bandas de todo o país para tocarem
no
Rock In Rio, em janeiro deste ano, o Diesel
quer muito mais. De malas quase prontas para os Estados Unidos, onde vão
tentar a sorte na cara e na coragem, Gustavo Drummond ( vocal e guitarra
), Jean Dolabella ( bateria ), Leo Marques ( guitarra ) e TC ( baixo )
contam nesta entrevista porque resolveram trocar a pátria-mãe
pelo país das oportunidades, e como conseguiram sobreviver independentes
num país cheio de contrastes neste meio.
S&Y -
Vocês estavam prontos para irem para os Estados Unidos, quando aconteceram
os atentados terroristas. Com fica a situação agora ?
Gustavo Drummond - Agora a gente vai
ter que esperar a coisa se normalizar, pra tentar continuar com o plano,
mas se demorar muito, vamos ter que partir para outras alternativas, como
a Europa ou outros lugares. Mas temos que aproveitar esse momento para
divulgar esse cd fora do Brasil, até para a gente poder lançar
o próximo.
S&Y -
Por que ir para os Estados Unidos ? O Brasil não tem mais
espaço para o som de vocês ?
GD - Tem muito espaço, só
que a gente lançou o CD em abril do ano passado, há um ano
e meio atrás. Então agora chegou a hora de explorar fora
do país. E o primeiro lugar escolhido foi os Estados Unidos, assim
como poderia ter sido a Europa, ou outros lugares. Mas lá foi onde
conseguimos, por exemplo, marcar um show, que eu nem sei como vai ficar
com essa confusão toda. O Leo ( Marques - guitarrista ) conseguiu
isso. Chegando lá vamos tentar marcar mais shows, fazer contatos,
vender mais discos.......fazer a coisa girar.
S&Y -
Por que Los Angeles ?
GD - A gente conseguiu esse contato,
um cara chamado Jason Tato. Ele se tornou um ponto de referência
nosso lá e nos convidou para ir, pelas possibilidades que isso acarretaria.
Quando vimos, já estávamos todos concordando em ir.
S&Y -
Vocês venderam 4500 cópias do CD de estréia ( "Diesel"
), independente. Dá pra sobreviver na independência no Brasil
?
GD - É difícil pra caramba,
mas temos conseguido pelo menos pagar as contas, continuar funcionando
com nossos projetos, fazer um capital de giro, para investir, por exemplo,
no documentário que a gente está lançando hoje à
noite, ("Diesel.doc", lançado no mesmo dia do show ), pagar
nossas passagens. Infelizmente não dá pra gente viver ainda.
Todos temos atividades paralelas, que ajudam.
S&Y -
Vocês acham que existe mercado e público para bandas sobreviverem
indies, sem jamais chegarem ao mainstream ?
GD - Acho que existe demais ! A questão
toda é as bandas se unirem e darem mais força para este tipo
de cenário. A maioria das bandas se esforça, e na hora em
que o primeiro diretor artístico de gravadora não gosta da
demo, o cara acaba com a banda. Foi exatamente o que não aconteceu
com a gente. Já recebemos várias portas abertas e várias
portas na cara, mas mesmo assim a gente quis continuar tocando, sem ficar
vinculado a uma empresa. O nosso sucesso era mensurado de outra forma,
por nós mesmo. A gente continuou se associando com outras bandas,
tocando em outros lugares, viajando pelo Brasil, para o Nordeste....Cara,
chegou ao ponto de a gente ir para Fortaleza e chegar lá com todo
mundo cantando nossas letras, num lugar que a gente nunca tinha posto os
pés antes. É algo que vai fugindo ao seu controle mesmo.
Quando você vê, é algo que está muito maior do
que você imagina ser. Eu lamento o fato de muitas bandas não
valorizarem e não correrem atrás disso.
Leo Marques - Dá muito orgulho
pra gente ver que isso tudo está acontecendo, se espalhando mais,
com méritos nossos.
S&Y -
Métodos "alternativos" de divulgação, como a internet,
foram fundamentais para o sucesso de vocês ?
TC - Com certeza. A gente se valeu
muito disso, de não estar procurando a exposição de
massa, do que correu entre as pessoas mesmo. É ( um processo ) mais
lento, demorado e difícil, mas ao mesmo tempo sabemos que quem está
aqui é porque gosta mesmo do trabalho da banda.
GD - Por a gente ter conseguido isso
tudo sozinho, traz os fãs mais próximos da gente. Eles se
sentem como nós, que podem também chegar lá, sem ter
que convencer executivo engravatado de gravadora de que é competente.
Leo - Cada vez mais temos que acabar
com essa coisa de gravadora, etc etc etc. O que importa no final é
a música. O resto não deveria ter tanta importância
assim.
S&Y -
Como vencedores do Festival "Escalada do Rock", vocês foram agraciados
com a gravação de um cd, mas parece que isso nunca aconteceu.
Em que situação isso está agora ?
GD - Para simplificar, é o
seguinte : a gente queria lançar o nosso cd através do selo
Rock In Rio. O lançamento do próprio selo foi sendo adiado,
e acho que não aconteceu até hoje. Para contrabalançar
isso, como que se fosse a "entrega do prêmio", o encerramento do
compromisso, tentaram nos oferecer um contrato com a Trama, para fazer
5 mil cópias. Ainda estamos analisando, vendo se vale a pena ou
não. Na verdade, ficamos meio que enrolando, esperando ver se alguma
coisa acontecia de melhor com a gente. E aconteceu. Simplesmente isso.
*Site do Diesel - http://www.diesel.art.br
O show
de despedida do Brasil e lançamento do documentário "Diesel.doc"
Lapa Multishow
- Belo Horizonte - 14/09/2001
por Rodrigo
James
Em Belo Horizonte, Diesel é
mais que um combustível. É o incêndio completo. Não
seria heresia compará-lo com os conterrâneos do Sepultura.
As duas bandas cantam em inglês, em um certo momento da carreira
decidiram tentar a sorte nos Estados Unidos e, principalmente, pode-se
dizer que são as únicas bandas mineiras - e talvez, das poucas
brasileiras - que não tem fãs, mas seguidores. Os fãs
do Diesel vão onde a banda estiver, em hordas. Para comprovar isto,
basta pegar a gravação do show que eles fizeram no Rock In
Rio, em janeiro deste ano, e ver a histeria coletiva que eles causaram.
Vivendo um momento particularmente
interessante em sua carreira, o Diesel resolveu que o Brasil é pequeno
para ele, e vai para os Estados Unidos tentar a sorte. Para comemorar isto,
a banda fez um show para se despedir dos dedicados fãs, e de quebra
lançar um documentário sobre a carreira, intitulado "Diesel.doc".
A noite começou chuvosa. Depois
de meses na secura, BH viu inúmeras gotas caírem do céu
de novo. E como choveu. Os fãs na porta não pareciam se importar
com isso e faziam uma fila que dava voltas no quarteirão, à
espera do momento de entrar.
Lá dentro, a noite foi aberta
pelas bandas Whatever e Seash. Seguindo na mesma linha grunge
pesado do som do Diesel, as duas bandas são competentes e tem tudo
para ocupar o lugar dos headliners da noite, quando eles estiverem lá
fora ganhando milhões de dólares, andando na Sunset Strip
em limousines e jantando com Pearl Jam. O Seash está
um pouco mais na frente. Já tem, inclusive, um pequeno séqüito
de seguidores.
Mas enquanto isso tudo não
acontece, vamos ao que interessa. Antes da banda tocar, o documentário
"Diesel.Doc"
foi exibido num telão. Produzido pelo Estúdio Mosquito
- um dos mais criativos bureaus de produção de Belo Horizonte
- mostra os quatro últimos anos da banda, desde o show de lançamento
do primeiro cd, passando pela turnê ao redor do Brasil e culminando
nos dias de hoje, sem esquecer seu grande momento : a apresentação
no Rock In Rio. Um pouco longo para ser exibido em um evento cheio de gente
sedenta por mosh, o filme cansou um pouco no final. Mas é um belo
trabalho e merece ser conhecido.
Por volta de meia-noite e meia, a
banda subiu ao palco e o Lapa quase veio abaixo. Com o stage diving liberado
por Gustavo Drummond, o que se viu nas duas horas seguintes foi um misto
de euforia, agressividade, energia liberada e muito, mas muito rock n roll
mesmo. O som do Diesel - uma espécie de grunge século
21, se é que podemos rotular - é um caldeirão de sons
pesados, extremamente bem executado por quatro instrumentistas afiadíssimos.
Os vocais de Gustavo entoam letras escritas num inglês britânico.
Culpa dos anos em que ele morou nos Estados Unidos. TC e Leo Marques pulam,
jogam os instrumentos para o alto e despejam decibéis de som, fazendo
uma comunhão perfeita com a performance de Gustavo. Lá no
fundo, Jean Dolabella demole seu kit de bateria repetidas vezes. Enquanto
isso, a multidão (mais de 800 pessoas, em uma noite sold out) pula,
mosha, berra como se estivesse encarnando o espírito dieseliano.
As letras são entoadas em uníssono.
Em especial, "Drain" e "4D" (que também é a
música do primeiro clip da banda, indicado para o prêmio de
Melhor Demo Clip, no VMB deste ano). Ao final do show, a já tradicional
invasão do palco. Os quatro meninos cumprimentam todo mundo que
sobe e, se os fãs tiverem um pouquinho de paciência de esperarem
na fila, serão recebidos um após o outro no camarim. Assim
é a relação do Diesel com seus fãs. São
tratados como amigos, longe do estrelismo de outros. Ao final do evento,
o produtor do show sobe ao palco e, aos berros, diz que o público
ali presente está fazendo história e que rock n' roll é
aquilo ali mesmo. Quem somos nós para duvidar dele....
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