The Great
Eastern (The Delgados)
por
Marcelo Silva Costa
O
The Delgados está
entre o que de melhor se faz em música na Escócia, em um
ano em que as bandas escocesas são as melhores do mundo. Formado
em Glasgow, 1995, após quatro álbuns (incluso um ao vivo
na BBC) e uma quantidade enorme de singles e eps, a banda lançou
"The
Great Eastern", um dos mais belos trabalhos do ano.
O álbum foi lançado
pela Chemikal Underground, selo que a própria banda criou para lançar
seus discos, e o de amigos. No Brasil sai pela Roadrunner, que também
lançou "Peloton", o álbum anterior.
O som tosco e urgente dos primeiros
álbuns foi, aos poucos, sendo deixado de lado, processo que já
fizera do álbum anterior (ainda no meio termo entre barulho e silêncio)
um dos grandes destaques de 1999. Parece que a sofisticação
no som da banda chega ao ápice agora. A combinação
da bateria detalhista de Paul Savage, do baixo preciso de Stewart Henderson,
e da delicadeza das vozes de Emma Pollock e Allun Woodward, ambos guitarristas,
é de tocar a alma.
Extremamente bem arranjado, "The Great
Eastern", título tirado de uma hospedaria para alcoólatras
em Glasgow, foi indicado para disputar o Mercury Prize (o mais conceituado
prêmio de música da Europa) e soa como poesia em forma de
canção, como melodia em forma de verso, como cobertor em
dia frio, como vento de fim de tarde, como sussurro no ouvido. Um fio de
voz que dá vontade de guardar no bolso. O álbum foi produzido
por David Fridmann (Mercury Rev e Flaming Lips) que soube reunir os sons
de acordeões, harpas, pianos, sinos, violinos, violas, guitarras
e mais um mundo de coisas, e ainda soar extremamente único.
O trabalho gráfico do disco
é de rara beleza re4sultando numa das capas mais bonitas do ano.
Musicalmente, começa com "The Past That Suits You Best", canção
sussurada. Os instrumentos se misturam. As vozes também. A bateria
surge e depois desaparece. A letra, estranha, diz que "passaram quarenta
dias estranhos desde que estamos limpos". A faixa é longa. Alguns
efeitos parecem querem resgatar conversas. O clima vai e volta. "Accused
of stealing", a segunda, começa com guitarra limpa e cadenciada.
Emma pede para que contemos nossos segredos e é difícil não
atender o pedido diante de sua voz. No meio a cadência muda, e a
gente vai junto. Parecem duas canções dentro de uma. "American
Trilogy", por sua vez, traz a voz de Allun, pianos, efeitos e guitarras
num crescendo intimista e maravilhoso.
A próxima, "Reasons for Silence"
explica o que o título propõe com violão e bateria
e pianos em destaque enquanto "Thirteen Gliding Principles" resgata o som
do álbum anterior, "Peloton", com guitarras e distorção
e bateria a frente. É cantada em dueto intercalado e traz uma letra
genial – você partiu (onde nós começamos) você
bateu o chão (as crianças viram) você escolheu (ataque
de coração).
Um piano traz "No Danger" que começa
lenta, mas logo fica tão contagiante quanto a letra que se desculpa
dizendo "eu sei o que me tornei pelas marcas em seus braços".
"Aye
Today" é mais lirismo e mais poesia enquanto "Witness" é
um declaração de saudade. "Knowing when to run" parece perdida
no tempo. Os teclados remetem à um passado distante, a danças
de salão, enquanto a letra contrasta dizendo ser esse o nosso tempo.
A, finalmente, "Make your move", uma
canção linda que traz sorrisos, fecho de ouro para um álbum
sublime.
Sublime. Simplesmente sublime.
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