Dezembro
de 2001: Na virada de 1999 para 2000 eu ainda morava em Taubaté.
O S&Y ainda era um zine em papel e além dele, eu escrevia em
uma página de um grande amigo, Carlos Dadá Fernandes, sobre
música, cinema e literatura. A página chamava-se Antenet e deixei
muitos textos legais lá. Remexendo os disquetes mil que flutuavam
nas gavetas da minha escrivaninha, achei essa enquete que havia
sido publicada na Antenet. E me perguntei porque não inclui-lá
aqui no S&Y. Para não parecer mera republicação, fui atrás de
mais votantes. No fim, são só listas, mas eu gosto.
Marcelo Costa
Editor
Como
se fossemos Rob Fleming
por
Marcelo Costa
12/12/2001
Quais foram os três melhores filmes que você já viu? As (Os)
cinco melhores garotas (os) que você já beijou? Os sete melhores
dias da sua vida? Os dez melhores discos da década de 90?
Quase todo mundo se complica quando tem que relacionar numa
ordem de importância aquilo que mais gosta. É fácil entender,
afinal, listar os melhores quer dizer que algo ou alguém será
preterido, o que é chato e, na maioria das vezes, inaceitável.
E, principalmente, é difícil porque as coisas são diferentes
umas das outras, o que nos faz olhar cada coisa do seu jeito,
e não como concorrentes.
Muita gente diz que essas escolhas, listas e tais, são coisas
de americano, sempre querendo competir, mas, estranhamente,
o livro que mais celebra a cultura pop em geral, e listas em
particular, Alta Fidelidade, foi escrito por um inglês,
Nick Hornby, e tornou-se um sucesso absoluto nas ilhas. Ganhou
uma versão cinematográfica hollywoodiana com John Cusack encarnando
à perfeição o personagem central, Rob Fleming (ali, Rob Gordon)
e, no Brasil, uma sensacional peça de teatro (A Vida é Cheia
de Som e Fúria).
De cara, na primeira página do livro, Rob Fleming nos atira
sua primeira lista em que consta o nome das cinco ex-namoradas
que fizeram nosso amigo sofrer mais. A lista é para Laura, a
namorada que havia acabado de lhe dar um belo chute no traseiro,
mostrando que ela não significava tanto e assim não mereceria
estar entre as cinco mais (no top ten, talvez).
Como se fossemos Rob Fleming, estamos aqui listando os melhores
discos da década de 90. Assim como Rob demostra no livro, fazer
uma lista implica em criar algumas regras. E são essas regras
que venho expor nesse texto. Regras e as reclamações de praxe.
Vamos a elas:
Meu amigo e xará Marcelo Orozco disse que foi com dor no coração
que deixou de fora o primeiro do Sparklehorse e que decidir
entre qual Teenage Fanclub entrar (Grand Prix, Bandwagonesque
ou Songs the Northern Britain), não foi tarefa fácil.
Não deve ter sido mesmo...
O mestre Eduardo Palandi considerou o calendário gregoriano
para fazer sua lista, lamentando que Violator do Depeche
Mode fosse de 1990.
Marcio Custódio, um dos responsáveis pela festa SOUND, no DJ
Club, em São Paulo, não se conformou. "Só dez?????". Já Thiane
Loureiro, responsável pela coluna Vertente, da Reuters, fez
duas listas. "A primeira inclui os 10 discos que eu acho que
fizeram história nos anos 90. A segunda, são os 10 que eu mais
gosto, se bem que eu deixei centenas de títulos de fora."
Fábio Seidi, da banda Ack e da excelente Revista Rock Press,
mandou onze nomes na sua lista gringa alegando que Nirvana era
hors-concours. Além, colocou no décimo posto da sua lista nacional
uma coletânea para, assim, incluir mais bandas. Se o Fábio fez
sua lista gringa com 11, Cláudia Ferrari (colaboradora do S&Y
e do Velvet Zine) foi além e optou por 13!!! ("um número primo
pra ficar charmoso", disse ela). Bom, com uma lista daquela,
se fosse 21 também estaria muito bem justificado.
Já que falamos no Velvet Zine, André Fiori, seu editor (e dono
da loja de CDs Velvet, em Sampa) disse que a dele foi de improviso,
pois é duro definir um critério: "Putz, só tem furo nesse listão."
Rodrigo James, editor da Soundmagazine, quase encerrou nossa
amizade em um email. "Isso é coisa que se faça com amigos???".
Dois dias depois enviou sua lista, com a seguinte mensagem:
"Foi duro, cortei alguns, quase tive uma síncope quando cortei
outros e a lista com certeza seria diferente amanhã".
Ivan Roman, baixista da banda Blemish, fez a dele pensando nas
influências que ele teve para fazer o som que faz. É de ficar
curioso pelo som dos caras com tanto nome jóia como influência!
Já o Ivan 666, webmaster da página brasileira do Manic Street
Preachers, optou por fazer uma lista de singles no lugar da
de bandas nacionais. Confira e veja se a troca valeu a pena.
Leonardo Vinhas, do jornal independente Alternative Voices
(colaborador S&Y também) foi sincero: "Terapia Rob Gordon...
devia ter feito isso antes, cara! (Espero quase 23 anos por
isso e na hora que tenho a chance de fazer um lista dessas,
fico nervoso e me embanano. Saco!)".
O velhinho Miranda, agitador cultural e, hoje na gravadora Trama,
disse que era muito trampo ficar listando os nomes dos discos.
Preferiu escolher bandas. Legal. O baladeiro punk brega Wander
Wildner também foi super pessoal na sua lista que transcrevemos
do jeito que ele nos enviou.
Fernanda Takai, do Pato Fu, pediu um tempo. "Marcelo, você acha
que pode esperar até terça? É que vamos viajar amanhã cedo pra
SP, depois Caxias/RS, oeste do Paraná, interior de SP de novo
em apenas 5 dias. Vai faltar até hora de sono. E pra fazer uma
lista dessas, é preciso tempo pra ver os discos em casa". Dois
dias depois do previsto mandou a listinha, com o aviso: "Provavelmente
vou querer mudar mais tarde"...
O grande Fábio Sooner, do site Pastilhas Coloridas, mandou a
dele, prevendo polêmica, e adiantando: "Estou certo de que esqueci
MUITA gente importante".
A lista da Sylvie Picolloto, que assina uma coluna no site da
Brasil 2000, e ainda colabora com vários lugares (S&Y, Quadradinho,
London Burning, Rock Press, O Globo) foi a última a chegar...
e veio com dois álbuns 2001... impugnação? Que nada. Eles já
são os primeiros da lista de 00...
Mas, você quer saber a dureza que é fazer uma lista assim, em
três dias, que foi o prazo que eu dei?
"Ao receber o pedido eu sabia que daria merda, mas não imaginei
que esta seria tão grande. Bom, na primeira peneira entre os
internacionais, 22. Mas o pior estava por vir.Adotei a tática
de cortar tudo o que não fosse absolutamente indispensável,
deixar apenas os órgãos vitais. Sabe quantos me sobraram? 11.
Fossem 14, até mesmo 12, mas logo 11??? Dessa forma, resolvi
colocar os dois times em campo. É isso mesmo, as duas seleções.
Primeiro, a de 70, indiscutivelmente os 11 melhores. Com o que
sobrou, montei a de 82, que, se não mostrou-se imbatível, ainda
enche os olhos com seu futebol-arte. Já com os nacionais eu
consegui formar um time dentro do limite", explicou Luiz César
Pimentel, editor da Trip Online.
Drama? Isso acima não é nada perto do que os amigos Lúcio Ribeiro
e José Flávio Júnior fizeram. O palmeirense Lúcio Ribeiro (da
coluna Pensata, da Folha Online) enrolou uns cinco dias
("a noite eu te mando") e só fez a dele, na hora, em um dos
intervalos do festival UPLOAD. Demorou uns vinte minutos. "Só
dez?". Cada disco que saía vinha com uma frase. "Eu vou ser
muito injusto". "Amanhã eu vou ter outra lista". "Coloca o Ok
Computer". "Eu estou lembrando de um monte de discos obrigatórios".
"Tira o Ok Computer". "Quantos faltam?". Demorou, mas
saiu.
O santista José Flávio Júnior (da Usina do Som) não ia
mandar. "Dez é muito pouco para uma década". Encontrei-o na
sexta-feira, no UPLOAD e ele veio com um bloco, dizendo que
estava tudo anotado. E estava. Mais de uma dezena de discos,
números aqui e ali. Ele pediu mais um dia e, no sábado, não
teve escapatória. Após o histórico show da Graforréia, Zé Flávio
rascunhou sua lista final, claro, embalada por todas aquelas
frases. "Falta esse, falta aquele, não acredito que vou ter
de deixar o Cardigans de fora"...
No mais, incluimos a lista da Showbizz, afinal, ali também
tem várias coisas legais. Embora seja questionável a
inclusão do Café Tacuba, mas tudo bem, esse é o espirito verdadeiro
de uma lista: discussão.
Dê uma conferida na opinião desse seleto e animado grupo de
votantes e depois, se quiser, concorde, critique, envie sua
lista, reclame da não inclusão de fulano, do absurdo que foi
colocar tal em primeiro lugar e coisas assim. Divirta-se. Como
nós e como Rob Fleming.
Aliás, as cinco garotas que me fizeram sofrer mais foram...
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