Chocolate, queijo e pimenta 
Por Clarah Averbuck 

‘It really hurts, mommy, am I gonna die?’, diz uma criancinha sobre um arranjo de copos e um refrão cantado com suaves vozes masculinas. O nome da música? Spinal Meningitis (got me down). Se você acha bizarro, espere até ver o resto da obra dos rapazes do Ween, nada fácil de ser classificada. Rock, Country, Funk, Polca(!), vocais muito bem colocados, arranjos esquisitinhos com instrumentos obscuros e algum apelo pop não descrevem metade do que eles conseguem fazer. Sem pudores, xingam mulheres, homens e crianças, escarnecem de doenças fatais, riem das minorias, falam nojeiras, afagam animais bonitinhos e apaixonam-se loucamente.

‘Eles’ são Aaron Freeman e Mickey Melchiondo, amigos de escola na Pennsylvania que formaram o Ween em 84 depois da visita do deus-demônio Boognish, que os recrutou para a banda e para assumir os alteregos Dean e Gean Ween.

Riqueza, fama, mulheres e trezentas toalhas no camarim não os interessam. ‘Tudo o que fazemos é diversão. E não ligamos muito para os outros’, diz Dean Ween. ‘Funciona da seguinte maneira: se você está se divertindo e sendo honesto, as pessoas vão curtir. Isso vale também para nossos discos. Quando sentirmos que a diversão acabou, a banda vai terminar’. Nada mais justo.

Não é à toa que o Ween se uniu com os também politicamente incorretos criadores de South Park, Matt Stone e Trey Parker, para produzir o video de ‘Even if you don’t’, de White Pepper, seu disco mais recente que foi lançado este ano. No clipe, eles tocam em um bar enquanto suas garotas envolvem-se em vários atos pecaminosos de adultério, envolvendo até um burro. Não é a primeira vez que Stone e Parker, ambos fãs confessos de Ween, trabalham com a banda. O Ween já compôs ‘Love’ para o filme ‘Orgasmo’, além de ter participado do episódio Chef Aid, do South Park.

Além de 8 discos lançados, participações em diversas coletâneas e aparições em discos alheios, como no Yoko Ono Rising Mixes, eles ainda têm dois projetos paralelos: Z-rock Hawaii, que além de Gene e Dean Ween, Andrew Weiss e Claude Coleman Jr, conta com os insólitos Eye, Yamamoto, Yoshimi e Yoshikawa, da banda japonesa Boredoms. Seu único disco, o excelente Nipp Guitar, foi lançado em 97. O outro projeto chama-se Moistboyz e traz Dean Ween na alcunha de Mickey Moist, tocando todos os instrumentos, e Calvin Celsius como Dickie Moist, ’The Mighty Whitey Lyricist’, algo como ‘o poderoso letrista branco’, o que quer que isso queira dizer. Os Moistboyz têm quatro discos, os dois primeiros lançados pela gravadora Grand Royal, dos Beastie Boys. 
Compre, grave ou roube tudo que puder e veja você mesmo como o Ween faz a vida no planeta valer mais a pena.

Discografia: 
God Ween Satan: The Oneness (1990), The Pod (1991), Pure Guava (1992), Chocolate and Cheese (1994), 12 Golden Country Greats (1996), The Mollusk (1997), Painting the Town Brown: Ween Live 90’-98’ (1999), White Pepper (2000)


Discos do mês lá em casa 

Fiona Apple – When The Pawn Hits The Conflicts He Thinks Like A King What He Knows Throws The Blows When He Goes To The Fight And He’ll Win The Whole Thing ‘Fore He Enters The Ring There’s No Body To Batter When Your Mind Is Your Might So When You Go Solo, You Hold Your Own Hand And Remember That Depth Is The Greatest Of Heights And If You Know Where You Stand, Then You Know Where To Land And If You Fall It Won’t Matter, Cuz You’ll Know That You’re Right.
Sim, esse é o nome do segundo trabalho da garota prodígio, que conseguiu superar Tidal, seu album de estréia. Lançado em novembro de 99, When the Pawn... traz arranjos mais elaborados, letras intimistas como cartas bem-escritas para ex-namorados, característica marcante de Fiona, e muito feeling. Preste atenção no baterista Matt Chamberlain, que já tocou com Tori Amos, Blind Melon, The Corrs, Peter Gabriel e muitos outros e que fez uma grande diferença no disco. 

Grenade – Short Wave Young Over Kingdom (Londrina) 
Uma das melhores bandas nacionais do momento. Algo entre rock britânico psicodélico e folk muito bem feito. Bom até a última nota. Peça para ordinary@pobox.com

Malditos Ácaros do Microcosmos (Curitiba)
Pesado. Muito pesado. Crentes de que são realmente ácaros, eles fazem um show impressionante, que envolve máscaras, escovas de dentes e alguma coisa quebrada no recinto. Pra quem gosta de Mr. Bungle e afins. Peça para unicelulares@malditosacaros.cjb.net

Thee Butchers’ Orchestra – Super Derby Recreation (São Paulo)
Rock – rock mesmo - de primeira.. A banda conta com dois guitarristas/vocalistas e nenhum baixista. O novo disco, Golden Hits by Thee Butchers’ Orchestra, sai no fim do ano. Peça para ordinary@pobox.com

Prot(o) (Brasília)
Tem como mentor Pinduca, ex-vocalista do Maskavo Roots. É merecidamente considerada uma das melhores bandas de rock alternativo do Cerrado. Peça para monstrodiscos@bol.com.br

Clarah Averbuck é colunista do genial e-zine Cardosonline ( www.cardosonline.com.br ) e se vc quiser ver o cabelo rosa dela, terá que ir na página deles.